O diálogo entre peles, a tatuagem e o grafite de Luna Bastos

“Geralmente, eu faço tatuagens que tenham um significado bem profundo pra pessoa”, diz Luna Bastos. Luna é teresinense e cursa Psicologia, além de ser artista visual, grafiteira e tatuadora. Seus trabalhos como artista urbana estão espalhados não só em Teresina, mas em outras cidades. Luna Bastos viaja o país tatuando e criando diálogos com outros artistas e ocupando cada vez mais espaços. Suas tatuagens autorais demonstram muito da personalidade da artista, entrelaçada às histórias de vida dos seus clientes e colegas. Luna Bastos fala por meio do desenho e faz da arte uma das suas expressões de luta e resistência.

Foto: José Ailson (Um Zé)

“Geralmente eu faço tatuagens que tenham um significado bem profundo pra pessoa” Luna Bastos

Nome Completo: Alana Soares de Carvalho Bastos

Descrição: Tatuadora e artista visual

Data de Nascimento: 28/02/1996

Local de Nascimento: Teresina-PI

Perfil escrito pela Geleia Total
Escrito por:
 Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Foto: José Ailson (Um Zé)

Uma forma bem particular de desenhar

O contato de Luna Bastos com os desenhos é tanto, que, para a artista, seria impossível rememorar ao certo quando começou a rabiscar os primeiros rascunhos. Desenhar, para ela, era imprimir toda a criatividade guardada sem se preocupar com forma, regras ou padrões. Por isso, durante algum tempo, ela chegou a duvidar da própria arte, pois não se encaixava nos padrões de desenhos mais aceitos pelos colegas. A diferença entre os desenhos realistas e o seu estilo particular de tracejar fez a potencial artista deixar de lado as artes por algum tempo. Foi nesse hiato, no final do Ensino Médio, aproximadamente, que ela teve contato com a cultura hip-hop e redescobriu as artes. Dentro da cultura hip-hop, Luna Bastos se afeiçoou pelo grafite, pela possibilidade de interagir com a cidade, com as ruas. Desde então, nunca deixou as artes.

A cultura hip-hop

A cultura hip-hop é um movimento que tem origem no sul do Bronx, em Nova Iorque (EUA), fruto dos confrontos e diálogos entre os negros norte-americanos, jamaicanos e porto-riquenhos, significou uma forma de interagir com essas diversas culturas usando a criatividade, expondo as particularidades de cada estilo e promovendo essa conversa intercultural urbana. Dessa maneira, surgiram, ainda, o rap, o grafite e o break, que rapidamente se espalharam pelas periferias. Toda essa riqueza da cultura hip-hop arrebatou Luna Bastos adormecida, que encontrou no grafite uma forma de expressão para os seus traços, a sua arte. A interação com as ruas, a filosofia e o estilo de vida propostos pela cultura hip-hop foram essenciais nesse retorno às artes. Luna entrou em contato com um outro universo das artes. A mudança do suporte dos seus desenhos representa uma nova fase da sua vida, ampliando as possibilidades de exposição e também de diálogo com os artistas e a sociedade. “É diferente de desenhar em casa. Na rua, as pessoas vão ver aquilo e dar a interpretação que elas quiserem. É tipo um filho que você coloca no mundo e não tem mais controle sobre ele”, crava Luna Bastos.

Um mergulho nas subjetividades

Luna Bastos conheceu o grafite no mesmo período em que ingressou no curso de Psicologia, na Universidade Estadual do Piauí, foi quando ela passou a refletir sobre o próprio fazer artístico. A artista conta que foi com o contato com a Psicologia que os seus desenhos começam a ganhar forma e identidade. Foi quando ela passou a dar sentido às suas criações. A partir dessa descoberta, começaram a surgir os seus personagens, geralmente negros. Luna Bastos, com o tempo e os diálogos criados por meio do grafite, foi descobrindo muito mais do que um estilo ou a sua identidade artística, foi entendendo o lugar de pertencimento e aprendendo a sua importância como mulher negra e artista urbana.

“Tatuagem representa contato porque o contato que eu estabeleço com os outros é muito mais profundo.” Luna Bastos

Foto: José Ailson (Um Zé)

O desenho que fica

 “Eu acredito no trabalho mais técnico, mas acredito que cada pessoa vai encontrando o seu caminho”, declara Luna Bastos. O desenho é mais que fórmulas e padrões, é a expressão da criatividade. A artista começou a tatuar em 2016 e conta que a tatuagem abriu um outro leque de opções, um outro universo e que o desejo de tatuar começou na infância tentando tatuar o corpo com esmaltes para unhas. “Eu sempre achei muito legal desenhar algo no corpo, algo que te marcou no campo do simbólico, mas que você quer ter na sua pele”, diz Luna. A tatuagem foi o que uniu a psicologia ao desenho, pois a artista conta que desenha algo que tenha um significado profundo e íntimo para a pessoa que será tatuada. É conversando com a pessoa que a artista recolhe os elementos que irão compor o desenho e as suas linhas. Para Luna Bastos, a tatuagem autoral tem esse aspecto bem particular, que simboliza não só o seu estilo, mas as vivências da própria pessoa. A tatuagem é a troca entre o artista e a pessoa, um contato que deixa marcas em ambos, é aprender a aceitar as suas escolhas, pois mesmo que a pessoa tente cobrir o desenho, ainda existirá uma marca, por isso, é o desenho que fica e não se esvai. Como é um desenho mais pessoal, o traço tem que ser mais delicado e mais cuidadoso.

O desenho que vai

Os temas das artes de Luna Bastos são bem variados, a essência são os sentimentos, por isso, sempre acaba rolando identificação com a arte. “A arte, para mim, é uma forma de me expor, porque o que eu sinto está ali”, comenta Luna Bastos. Além dos traços bem particulares da artista, Luna desenha e pinta seus grafites com pinceis e não com spray, pois acredita que o pincel dá mais liberdade. O grafite é efêmero e do desapego, pois depois de finalizado, a artista perde o controle da obra e acompanha a ação do tempo sobre a ela. O mais apaixonante no grafite, para Luna Bastos, é a possibilidade que a arte abre para o diálogo com outros artistas e com a cidade. “Existir, para quem é mulher negra, já é um ato político, ocupar espaços que, na maioria das vezes, são ocupados por homens brancos.” E, entre as referências, ela destaca os grafiteiros W.G. (que é um dos militantes da cultura hip-hop de Teresina) e Hudson Melo, como grandes incentivadores do seu trabalho.

Entre o grafite, a tatuagem e a tela

Luna Bastos pinta para si. Suas telas são os desenhos que permanecem e que ela confessa não conseguir se desapegar. Com o tempo, a artista foi percebendo o seu próprio caminho e acreditando no potencial dos seus traços. Luna Bastos demonstra essa personalidade escondida por trás da timidez por meio dos seus traços que marcam o público, não importando o suporte no qual as obras serão pintadas. Com uma sensibilidade para captar sentimentos e momentos, a artista dilata as possibilidades de interpretação da obra apostando no campo do simbólico. Luna Bastos é referência para outras artistas e demonstra, com a sua própria vivência, que há espaço para a sua arte na cidade, em qualquer espaço, em qualquer lugar. Sua obra inspira artistas, está gravada na pele, virou capa de livro e ocupa as paredes monocromáticas subvertendo a ordem urbana.

Contatos

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Outras fontes

https://www.otempo.com.br/pampulha/almanaque/temporada-quente-para-as-artes-1.1425726

Intervenções Artísticas em Sobral – Ce – Artes que transformaram a paisagem da Princesa do Norte

Última atualização: 05/11/2018

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