É comum e até normal (me refiro a norma) que alguns índios, acostumados com a rotina, prefiram seguir o ritmo da vida, das suas aldeias, dos pequenos grupos que compõem a tribo. Isso não é novidade, pois acomodar-se é aceitar o que existe e é menos oneroso, claro.
Mudar não é tarefa fácil, é um esforço sobre-humano.
Alerto sobre esses “conteúdos de farmácia”, pois quando vêm empestados de mensagens bonitas e motivadoras geralmente é um remédio vagabundo que não ajuda ninguém. Não ajuda em nada mesmo, é tipo aquele diagnóstico generalista dado pelo médico somente e sempre ao paciente com plano de saúde conveniado ao governo, a tal virose.
O meu título é mentiroso, no mínimo falacioso, pois existem infinitas posturas e variações das quais seria impossível descrever, mas por força de hábito <e por falta de coragem> vou simplificar tudo nessas duas posturas que nomeiam este texto.
Para quem está acomodado, sair, erguer-se, é sempre um fardo. Propor envolve sempre o esforço de encontrar soluções acompanhado da ação da tentativa de mudança. Um professor que grava uma aula e a reproduz durante décadas, sempre vomitando a mesma informação, não está ensinando. Ele é apenas uma alma que deixou de existir e só consome recursos do universo, pois EXISTIR é RESISTIR ao ambiente, ao que está estabelecido pelo meio, é mudar…
Quero dizer que podemos ou não ter “a obrigação” de inovar e propor. Aperfeiçoar o que já existe é essencial para promover a transformação… Transformar… Digo isso porque nem tudo que se estabeleceu e que funciona mecanicamente é essencialmente positivo, quando as pessoas se viciam em algum estado algo ali já não está funcionando bem.
Por isso, ser um cientista é essencial. Digo cientista no sentido de estar constantemente buscando soluções para o insolucionável, não temer os tabus, não recuar diante do abismo, enfrentar o impossível, aquilo que parece fadado ao fracasso, que aparenta não ter conserto.
Costumamos lembrar dos acertos, mas foram os erros os responsáveis pelas grandes descobertas. Com isso quero dizer que:
A CRÍTICA NÃO DEVE SER UMA DECLARAÇÃO DE GUERRA E SIM UMA POSSIBILIDADE DE APERFEIÇOAMENTO.
Não é como o dado chega até você, mas como você filtra e deixa esse feedback te afetar e te transformar, isso sim é o que vai gestar a tal da síntese. E você pode contribuir para a mudança ou apenas continuar estático.
Eu sempre imagino a vida como uma subversão, pois tem mais “menos vida” na nossa galáxia que “vida”. Quando o corpo morre ele integra-se à natureza, perde calor, deixa que outros organismos absorvam suas “micro partes”. Viver é resistir ao ambiente, é absorver partes de organismos que não conseguiram resistir e transformá-los em coisas essenciais como o calor.
Entendam-me, a tragédia foi transformada em algo positivo, é preciso, às vezes, nutrir-se dos erros, reinventar o modo de agir, colocar-se em situação de instabilidade e se desafiar.
Resistimos produzindo nosso próprio calor. E eu sinto que isso é autossuficiência…
Já percebeu como somos um constructo do tempo, nosso tempo?
Parece insignificante recolher o seu próprio lixo, parece insignificante agir como formiguinha, principalmente quando todos ao seu redor já foram fagocitados pelo meio. Insisto, viver é resistir ao meio e ao tempo, é criar, propor e inovar (no sentido de melhorar algo que já não funciona bem e não propriamente apresentar algo estritamente novo).
P.S.: E não estou falando sobre a briga de egos cujo objetivo é meramente decidir o nível de conhecimento sobre algum assunto. [SOBRE ALGUM] {SOBRE]
Já que existem “níveis de conhecimentos” o melhor é transformá-los em ação e não apenas usá-los para satisfazer egos.
Transforme o discurso em ação, escreveu alguém confortavelmente diante do seu computador.
Foto: Francisco Filho
Que texto maravilhoso! Lucidez e crítica ácida sob medida. ???