poema mulher mundo, Renata Flávia

 

I

Escorre sobre a pele

Pedaços do céu líquido

Um mundo sobrevoa os ouvidos

As palavras não costumam caber

As mãos chegam atrasadas

Contatos físicos

Sempre atravessaram a alma

Nada leve

Tudo navalha

 

II

Tenho que as raízes são de outras vidas

Tão profundas como o destino

E que tenho mais de minha mãe do que imagino

Há mais em minha pele de mulher

Do que seus olhos podem sonhar

Há todas as estações na boca

Uma multidão de força

Meus olhos oceânicos fundos

Na barriga frutos

E tudo embutido

Em um corpo mínguo que sabe dançar

 

III

Tenho que há nas curvas do mundo

um pouco de corpo

E que o chão é uma mulher

Nossos pés se arrastam pela sua pele

E todo passo é um risco

de tudo se levantar

Deitada no tempo

O céu circula em suas veias de terra

E brota

Em suas mãos colossais

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