Crítica sobre a peça “Poliamor”, por Alisson Carvalho ⭐⭐

Grito porque meu silêncio é triste

Sorrio porque a etiqueta insiste

Finjo estar, aonde não quero ficar

Vivo o instante sem ter o que esperar

Construí verdades em areias de mentiras

Prefiro o certo à verdade imperfeita

Sou a casca que esconde a real face

Pedaços doídos no retalho da vida”

Herberth Costa

Mesmo com mais de dois mil anos de reflexão sobre temas como amor e paixão, esse ainda é um assunto universal que sempre despertará interesse, intriga, discórdia, ensaios filosóficos e divergências ideológicas.

Sobre a peça

A peça “Poliamor” apresentada pela Cia Metamorfose de Teatro trouxe para a cena o tema das diversidades da manifestação do amor. Com o texto e direção assinados pelo ator e diretor Herberth Costa, o grupo estudantil deu vida à história escrita pelo autor que demonstra o seu gosto pela poética, presente nas falas das personagens.

A peça conta, por meio de esquetes, as histórias de personagens diferentes que tem em comum a experiência com o amor. São vários tipos de amores, situações aparentemente não convencionais, mas que revelam a complexidade do tema. O grupo dilatou a palavra poliamor e demonstrou no palco o quanto o ser humano pode ser diversificado.

O espaço de apresentação ⭐

A peça “Poliamor” foi apresentada no Cine Teatro da UFPI que é um espaço construído mais para eventos acadêmicos como conferências e simpósios, não dando suporte necessário para apresentações artísticas como uma iluminação adequada. Possui ares-condicionados que aumentam o ruído no espaço e forçam os atores a tentarem compensar as adversidades sonoras exigindo mais da própria capacidade vocal. O espaço não possui coxias, deixando os atores bem expostos. Porém, é um ambiente mais seguro que a maioria dos locais de apresentações da cidade, com um estacionamento preparado para grandes públicos.

A apresentação ⭐⭐

Sendo um dos poucos grupos de teatro que estrearam no ano de 2018, a Cia Metamorfose de Teatro vai de encontro com o cenário escasso de peças teatrais. Trouxe para a cena teatral um tema atual mesclando a seriedade do assunto com algumas doses de humor.

Com um elenco grande, o grupo conseguiu variar bastante nas histórias colocadas em cena, situações que estão desconectadas umas das outras, mas que fazem parte de um grande cardápio da diversidade do tema amor. Por isso mesmo a transição entre as esquetes merecem um cuidado maior e quem sabe uma agilidade na ocupação do palco, sem deixar tentos espaços vazios.

A atuação ⭐⭐⭐

Destaco a atuação da atriz Bruna, da Lua Menezes, do Gilweslly Vitor e da Sunamita Ribeiro, que além de terem papeis que chamaram atenção, ficaram em evidência pelo nível de entrega e pela forma como se doaram ao papel representado.

Bruna demonstrou a potência das suas expressões, corpo, voz e uma performance em cena bem acentuada. Sempre muito concentrada e com uma máscara facial bem expansiva, a atriz conseguiu se destacar. O que pode ser algo positivo acaba revelando a diferença em relação ao elenco, afinal é papel do diretor tentar equilibrar o elenco.

Lua Menezes com uma projeção vocal muito boa, os silêncios são bem colocados, só está faltando uma lapidação da movimentação no palco, pois em alguns momentos alguns deslocamentos podem ficar sem sentido.

Gilweslly Vitor que faz o papel de uma travesti e se impõe ao demonstrar o potencial vocal, ele apresenta uma personagem que pode se dilatar muito mais ainda em cena.

Sunamita Ribeiro também expõe a variação de personagens que é capaz de compor, indo da comédia ao drama. O excesso nas expressões aparenta certo exagero, mas podem melhorar com o tempo e ensaios.

Os demais atores também chamam atenção em muitas cenas, alguns precisam trabalhar mais as suas personagens, posicionamento no palco, projeção da voz, excesso de gestos, uma concentração maior para não perder o foco durante a apresentação. É bom que se diga que foi a estreia de muitos atores e que vale a pena acompanhar a evolução dessa galera.

Elementos da cena

A Cia Metamorfose de Teatro teve uma preocupação em divulgar a apresentação nas redes sociais. ⭐⭐

O grupo investiu bastante na variação de figurinos, cada esquete e personagens tinham seus próprios figurinos. Alguns mais trabalhados, já outros aparentemente mais improvisados. ⭐⭐

A iluminação foi prejudicada pelo espaço que não possui um equipamento adequado para o teatro. Foram usadas luzes gerais do palco e da plateia. ⭐

A sonoplastia ficou exagerada, com músicas que enfeitavam demais deixando a cena um pouco suja – alguns silêncios cairiam muito bem, pois a ausência da música provoca a reflexão. Além disso, esse excesso de músicas intercalando cada cena ou algumas falas causaram alguns atropelos. ⭐

A maquiagem merece destaque nas cenas que apareceram as travestis. ⭐⭐

O cenário minimalista contou com o auxílio do projetor que exibia diferentes ambientes. Esse uso do projetor não acrescentou muito, pois algumas esquetes não estavam localizadas no espaço-tempo, além disso sujou um pouco a cena com as transições entre as imagens e tirando a atenção da encenação em alguns momentos. ⭐

Considerações

No geral a peça tem um potencial grande, um assunto atual e urgente. Tem alguns problemas de direção e um peso que deixa a história longa em certos momentos. Os temas abordados são ótimos como provocação, mas tem muita informação na peça e isso faz com que gravemos poucas histórias na mente.

O excesso impede que alguns personagens se desenvolvam em cena, além disso tem horas que o tema envereda para o senso comum que interpreta o poliamor como algo meramente sexual, sem tratar da relação de forma mais sensível. A peça não trata unicamente o poliamor, mas a diversidade contida na palavra amor. A encenação do grupo estudantil é interessante e pode melhorar muito com o tempo e um cuidado e investimento nos detalhes.

Agradou muito ver um grupo estudantil levando ao palco um tema tão provocador.

Resumo

Espaço de apresentação:

Estacionamento: ⭐⭐

Segurança: ⭐⭐

Atuação: ⭐⭐⭐

Direção:

Divulgação da peça: ⭐⭐

Figurino: ⭐⭐

Iluminação:

Sonoplastia:

Maquiagem: ⭐⭐

Cenário:

Texto: ⭐⭐

Nota geral: ⭐⭐

*

Ficha técnica

Texto e direção: Herberth D. Costa

Coreografias: Joelma Bezerra

Sonoplastia: Elivelton  Santos e Grécio Alves

Cenário: Minimalista

Iluminação: Grécio Alves

Figurino: Herberth D. Costa. (e elenco)

Elenco

Joelma Bezerra, Bruna Castelo Branco, Renato Ferrer, Fabricio Pereira, Lua Menezes, Maxwell Araújo, Gabriela Rodrigues, Caio Levanto, Roberto Jr., Sunamita Ribeiro, Gilweslly Vitor e Lara Matos.

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts