Ano passado morri
Ano trasado também
Nesse eu achava que não
Que tudo seguiria bem
Ameacei resistir
Ameacei desistir
A gente até pode casar
Mas nada vai sair daqui
“A pouca vergonha acabou
Pornografia jamais!”
Eu ouço o cidadão de bem
Querer acabar com minha paz
“Protejam as nossas crianças
Da ameaça comuna
Ateus, prostitutas e bichas
Que enquanto nós louvamos, dançam”
(…)
Um mulato baiano
Muito alto e mulato
Outro parnaibano
Filho de lavrador
Pra não sofrer na roça
Under the sol a pino
Hoje fala inglês
Para se proteger
Escreve seus temores
Enquanto denuncia
O perigo real
que vem chegando aí
Já lemos isto antes
E leremos de novo
Tudo já aconteceu
E eu sobrevivi
Tenho sangrado demais
Tenho chorado pra cachorro
Os comunistas guardavam sonhos
E de inércia eu não morro.
Francisco Miguel de Moura, endereço eletrônico: franciscomigueldemoura@gmail.com
Minha gratidão, Alisson, pelo destaque que deu à minha poesia. Vou mandando uma, se você gostar e puder acrescentar ao seu site, eu ficaria muito alegre:
CARTAS DE AMOR SEM PESSOA
Francisco Miguel de Moura
(homenagem a F. Pessoa)
Ridículo fazer poema a qualquer nada:
– É nadar em seco sobre um fundo lago.
Cartas de amor, quantas eu fiz, eu fiz
num tempo de paixões de amor, sem paz!
Tanto que enxuguei mais de mil lágrimas:
– Lixo do que se erguia de minha alma.
Quando meus olhos abri … Era o inferno
que me fechava os olhos para o claro.
E hoje me divirto, ainda que pouco,
com o nada de mim, dos meus guardados.
Minhas dúvidas, se lembro, não são nada,
para o verde demais, sem flor/ nem fruto,
de um florido jardim sem sol, nem sal,
feito de versos e de versões esdrúxulas.
Por meus enganos, não senti saudade,
saudades que revivem trovas, trapos
de palavras voando em signos incolores.
Hoje, as cartas de amor se fazem poesia
à beleza dos sonhos meus – sua anarquia…
Depois de tudo, eu quis a eternidade,
quebrei meu rádio…ouvindo o meu silêncio,
no além de Pessoa… Pra não ser amargo.