Produção de eventos não é nada fácil. São inúmeros os fatores que podem determinar o sucesso ou ausência de público. E já cansei de ouvir pessoas atribuindo ausência de plateia em certos eventos à falta de interesse do público piauiense. “Os piauienses não valorizam arte”. “Os piauienses não apoiam a arte local”. “Não existe público para certos tipos de arte no Piauí”. Uma série de clichês que, ao meu ver, são completamente equivocados, infundados e convenientes.
Convenientes porque é muito mais fácil atribuir o fracasso de um evento a terceiros. Difícil é assumir a responsabilidade pelos resultados colhidos, entender os motivos que levaram a isso e procurar soluções para contornar os problemas e as dificuldades inerentes ao fazer artístico.
Também acho muito perigoso reforçar e endossar estereótipos. Nem tudo é imutável. Aliás, quase nada é imutável. Tudo pode ser transformado, melhorado. Podemos agir para que uma realidade complicada possa ser revertida a médio e longo prazo. E com certeza a arte tem poder enorme de transformar a realidade, construir um futuro melhor.
O meu evento é realmente atrativo para o meu público?
Qual a melhor maneira de divulgar o meu evento?
Como posso convencer pessoas que nunca foram a esse tipo de evento a irem pela primeira vez?
O dia, horário e local escolhidos são apropriados para meu público?
Quais parcerias posso fazer para engrandecer o evento?
O que as pessoas que compareceram acharam do evento? Tenho abertura para colher críticas sinceras delas?
Buscar respostas para essas perguntas é bem mais proveitoso que culpabilizar a plateia. Os piauienses gostam sim de arte. E temos públicos para várias artes. Mas não dá para ir a algo que você nem sabe que irá acontecer. Não dá para ir para algo que você nem entendeu direito como será. E mesmo que não se tenha grande público para certos tipos de arte e eventos, que tal ajudar a formar e conquistar mais pessoas para apreciar novos fazeres artísticos?
Não, a culpa nunca é do público. É maduro assumir a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de um evento, por mais difícil que possa ser em algumas situações. E a arte só tem a ganhar quando há um esforço genuíno em encontrar as alterativas mais criativas possíveis para alcançar seu público e conquistar novos públicos.
Por Noé Filho.
Gostei. As pessoas tendem a dizer que o piauiense não liga pra nossa arte, que não consomem o que é produzido aqui (o que, muitas vezes, é verdade, infelizmente), mas quase nunca param para pensar na logística dos seus eventos, se houve uma boa divulgação, se é em dia e local atrativos, por exemplo. Por que que os shows de forró/sertanejo (só pra citar um exemplo) têm tanto público? Porque quem tá por trás investe em propaganda, não só de TV, mas por meio do insta com aquelas pessoas que têm muitos seguidores (e as vezes nem pagam eles pra divulgar, so dão o ingresso). Às vezes, a gente tem um público que se interessa, mas que não fica sabendo desses eventos. Eu mesmo, vim me inteirar mais no que acontece aqui depois que conheci o Geleia… Então, acho que mais do que falta de valorização por parte do público, há também falta de um pensamento mais voltado para a propaganda, marketing.
Realmente, para o artista, sua reflexão é um exercício de maturidade. O artista tem, muitas vezes, que buscar/compreender quais são os anseios artísticos do seu público, da comunidade onde ele pertence, caso contrário, quando se trata de algo novo para a comunidade, aos poucos tem que ser inserido (ensinado) uma esfera de apreciação. O trabalho do artista, em muitos casos, tbm é de convencimento… Parabéns pelo texto!????
Concordo inteiramente com você… Creio que quando não temos plateia, algo tem. Temos que ver como podemos conquistá-los, formas mais alternativas pra divulgação e por ai vai, porque mesmo que não seja algo tão grande, sendo bom e bem trabalhado, teremos essa plateia.