O trânsito e o fluxo da urbanidade não são suficientes para esconder dos olhos sensíveis de Camie a sutileza da vida que resiste nas entrelinhas e nas pausas do cotidiano, nos detalhes do caminho por onde a artista passa. A cantora, compositora, poeta e musicista Cami Rabêlo, mais conhecida como Camie, é natural de Teresina, graduanda em Psicologia, terapias holísticas e medicina ayuverdica. Cami tem uma ligação profunda e bem longa com a música. Ela escreve desde criança e já teve uma de suas poesias publicada na segunda edição do zine Desembucha Mulher. Participou do DVD “Lança Piau, a nova música piauiense”. Além disso, a artista já se apresentou no Festival Lança Piau, Festival Chapadão, na Casa da Cultura, no Sarau do Museu do Piauí, na Roda de Poesia Tesão, Tensão e Criação, na abertura do show Lucas Canta Clodo, Climério e Clésio, Festival terra quente, que aconteceu no bar do Churu (lugar histórico para a música do Piauí, por onde passaram artistas como Teófilo, Banda Acesso, Roque Moreira, Batuque Elétrico, Validuaté, entre outros). “Que mundo é esse em que os loucos são os que mais sentem? Que mundo é esse em que ser livre é tão indecente?”, canta Camie.
“Minhas músicas são como se eu carimbasse meu coração nelas.” Camie
Nome Completo: Camila Maria Teixeira Rabêlo
Descrição: cantora, compositora, poeta e musicista
Data de Nascimento: 16/01/1993
Local de Nascimento: Teresina-PI
Perfil escrito pela Geleia Total
Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley
Berço musical
Camie não foi em busca da arte, a arte encontrou nela uma morada e não é exagero dizer isso, já que a artista nasceu em um ambiente regado com muita música. Filha do músico e baterista Alexandre Naka, que fez história junto com a banda Narguilé Hidromecânico, e irmã do baixista, multinstrumentista e produtor musical Alexandre Rabêlo Jr., Camie teve ótimas influências na infância, afinal, ela cresceu na rua Firmino Pires, local onde fervilhava diversas manifestações artísticas, pois foi morada de muitos artistas e ponto de encontro de grupos como a Escola de Samba Sambão. “Eu morria de orgulho quando eu via meu pai sendo o mestre de bateria da escola de samba”, relembra Camie Rabêlo. Não teve jeito, a menina se encantou pela magia do Carnaval vendo as pessoas subindo a rua fantasiadas com toda a indumentária daquele universo multicolorido de festividades. Além disso, Camie descreve como as festas dos finais de semana reuniam diversos artistas amigos da família. A partir desse cruzamento de músicos de vários matizes, Camie foi crescendo e apendendo a respeitar o ecletismo na música.
Mais que sangue, destino
Apesar de ter a música no sangue, Camie frisa que aceitar-se como cantora foi um processo que não aconteceu da noite para o dia. Foi preciso muito investimento no autoconhecimento, pois ela sempre foi uma garota tímida, porém, com uma criatividade intensa. Escrever era algo do seu cotidiano, mas cantar era o que despertava o seu medo. Sua primeira tentativa de cantar, no período escolar, foi a experiência que travou a futura cantora por algum tempo. “Eu morria de medo dos olhares e das pessoas. Eu nunca pensei que eu fosse ser artista, embora eu gostasse da arte”, confidencia Camie. A formação autodidata fez a cantora se apaixonar pela música para além de um estilo específico, por isso, ela também se tornou um misto de estampas artísticas, curtindo e degustando desde bandas como Timbalada ao Rock Extreme. E tudo isso se deu graças ao hábito de consumir os discos e CDs do seu pai e ler os encartes dos álbuns. Por meio disso, a cantora acabava descobrindo sempre uma banda nova. “Eu nunca vou esquecer o dia em que eu conheci o Clube da Esquina, era uma coisa comum, eu ia nas rodas de violão da minha família, mas quando sentei pra pegar a letra e ler assim eu disse: caramba!”, diz Camie.
A moça do coração de louça
Camie aprendeu desde cedo a se expressar por meio da arte, ela rememora como sempre esteve envolvida pela música e que escreve desde criança. Sua escrita, assim como o seu gosto musical, sempre foi bem eclética, explorando tanto a poesia quanto a prosa. Camie foi instigada pelos mais diversos temas, das questões existencialistas ao cotidiano, sua escrita enveredou por diversos caminhos e todas essas transformações são percebidas nas suas letras. A capricorniana foge das amarras do signo e demonstra toda a sensibilidade de uma artista preocupada com os temas sociais. Dona de uma escrita encantadora e provocativa, a artista revela que o seu processo de criação é bem espontâneo e natural. Camie é pura inspiração, alimentou-se tanto tempo com a música, fez dos encartes dos discos e CDs os seus livros, o que não poderia dar outra coisa além de uma explosão de criatividade. Muitas das suas músicas foram compostas sentada nas praças Landri Sales e Rio Branco, enquanto observada o fluxo do diálogo entre natureza e urbanidade. O primeiro poema da cantora foi escrito aos doze anos de idade e se transformou na música “De louça”. Depois disso, ela não parou mais de escrever. “Tá vendo aquela moça? / Tem coração de louça. / Guarda numa caixinha / nos armários da avó.” Camie.
Há quem tenha surtos psicóticos, eu tenho surtos poéticos.” Camie.
Sou tantas, sou muitas, sou uma multidão
“Meu corpo nu é o meu território só, aonde despindo-o percebo os meus quereres. É entendendo o meu desejo que eu posso desejar. Eu mesma faço do que visto o tapete aonde, rainha de mim, irei desfilar.” Camie herdou mais que um nome, trouxe consigo a referência de uma empreendedora que foi referência no comércio de variedades da cidade na década de 60, quando poucas mulheres assumiam um lugar de destaque na gestão dos negócios, a sua avó Maria Salomé Silva Rabêlo. Nessa mistura de elementos que compõem quem é a Camie, há a artista engajada com as causas sociais e preocupada com o poder reflexivo que a música tem. Para a cantora e compositora, a música não tem só o carácter de entretenimento, mas também um poder transformador, ou seja, tem uma função política. Dessa forma, ela defende a ideia de que o artista tem que se posicionar, ser voz contra os discursos de ódio que violentam a sociedade. Por isso, ser artista é ter a responsabilidade de representar e despertar outras vozes. Nesse sentido, Camie usa como exemplo de vozes que resistem e que se posicionam a artista Bia Magalhães, que vem ocupando os espaços e dando voz aos mais diversos grupos. Além disso, frisa como é importante ter mais vozes femininas, destacando também a cantora Monise Borges.
A teia artística
“Teia forte que puxa, não posso recorrer ao acostamento. Fios feitos de lã, acelerando em movimento intenso”, canta Camie. Com temas inspirados no dia a dia, Camie escreve letras que representam o seu estado de espírito e a sua vivência no mundo. A paixão pela música fez com que Camie aprendesse os macetes da própria arte, conhecesse outros músicos e parceiros. Por isso, ela conta como foi importante ter tido contato com cantores como Ricardo Totte, que foi quem motivou a cantora a ir para os palcos, além da Bia Magalhães e do Lucas Coimbra. Ela destaca a parceria com o compositor, cantor e guitarrista Bráulio Luís para a sua construção como artista. “Eu chego com a melodia pronta e o Bráulio consegue transpor para o violão. Ele é os meus dedos”, pontua Camie. O diálogo foi e é fundamental para se fortalecer e aprender com outras experiências. Além disso, a cantora frisa o quanto é importante as referências para a reprodução da arte, pois ela se espelhou na banda Validuaté e conta como nutria uma admiração pelo poeta Thiago E e, também, por Quaresma, fora o respeito e fascínio que sempre teve pela cantora e compositora Fátima Castelo Branco, pelo cantor Teófilo, pelo irmão Alexandre Rabêlo Jr. E pela banda Rock Moreira. Eles são algumas das referências que ajudaram na construção da artista que ela se tornou.
Surtos poéticos
“Há quem tenha surtos psicóticos, eu tenho surtos poéticos.” De tanto carimbar a alma nas suas letras e músicas, Camie foi conquistando não só o público, mas parceiros na música, na vida. Sua intimidade com a arte é tanta, que ela transita com tranquilidade por esse universo musical. Arte não é só expressão, para Camie, é o pulso da vida e o reflexo de si mesmo. E como a música é algo tão atrelado à própria essência da cantora, ela conta como é importante o reconhecimento e valorização da cultura para os próprios artistas. Com uma voz poderosa e que toca o mais ríspido dos corações, Camie é puro encanto no palco, é energia e provocação. É impossível sair o mesmo das suas apresentações. E é com essa força no gogó e muita sagacidade que a artista vem ocupando os espaços na cidade e conquistando cada vez mais o seu público.
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Eu não preciso vestir branco!
Ponto de condução pra ir pra não sei pra onde.
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Última atualização: 08/10/2018
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