Torquato Neto: o anjo torto

O poeta, letrista, cineasta e jornalista Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, no ano de 1944. Cursou Jornalismo no Rio de Janeiro, por volta de 1966; contudo, não concluiu a faculdade. Nos anos seguintes, compôs inúmeras letras, como “Geléia Geral”, “Mamãe, Coragem” e “Pra Dizer Adeus”, musicadas por Gilberto Gil, Caetano Veloso e Edu Lobo, respectivamente. Entre 1970 e 1972, atuou nos filmes “Nosferatu no Brasil” e “A Múmia Volta a Atacar”, de Ivan Cardoso, além do “Helô e Dirce”, de Luiz Otávio Pimentel. Torquato também criou e redigiu a coluna “Geléia Geral”, no jornal carioca Última Hora. Em 1973, é publicado, postumamente, o livro “Os Últimos Dias de Paupéria”, com as poesias de Torquato Neto. Em 1976, foram incluídos alguns de seus poemas na antologia “26 Poetas Hoje”. No ano de 1997, foram publicados quatro de seus poemas na antologia bilíngue “Nothing the Sun Could Not Explain”. Torquato Neto fez parte do movimento artístico Tropicalismo, contribuindo principalmente como letrista e se tornou um grande compositor dos anos de 1970. Torquato Neto faleceu no Rio de Janeiro, em 1972.

Nome Completo: Torquato Pereira de Araújo Neto

Descrição: letrista, poeta e jornalista

Data de Nascimento: 09/11/1944

Local de Nascimento: Teresina-PI

Data de Falecimento: 10/11/1972

Local de Falecimento: Rio de Janeiro-RJ

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Lembranças de Teresina

“O meu nome é Torquato / O do meu pai é HELI / O da minha mãe SALOMÉ / E o resto ainda vem por aí”, primeiro poema de Torquato Neto escrito com nove anos de idade, em 1953, e dedicado aos pais. Torquato cresceu em Teresina, na rua São João, no bairro Barrocão que hoje faz parte do Centro de Teresina e ali viveu até os seus quinze anos de idade. Torquato sempre gostou de livros e a predileção pela ficou confirmada quando com onze anos o menino pediu aos pais uma coleção de obras de Shakespeare e posteriormente a obra completa de Machado de Assis, autor que despertou a sua curiosidade com quatorze anos de idade. Além disso, Torquato perambulava pelas ruas de Teresina brincando e explorando a cidade. Aos quinze anos Torquato Neto deixou a cidade para embarcar em outra fase de grandes descobertas que aconteceria em Salvador, na Bahia, em 1960, com o objetivo de cursar o segundo grau.

Trajetória na Bahia

Torquato Neto foi morar em Salvador, na Bahia, em 1960, para cursar o segundo grau no Colégio dos Marista, para seguir a carreira sonhada pela sua mãe que queria que ele se tornasse diplomata. Nesse período, começou a ler poesias de autores como Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Foi nessa época, também, que conheceu Caetano Veloso, Gilberto Gil, José Carlos Capinam, Maria Bethânia, Gal Costa e Glauber Rocha. Durante as aulas, Torquato Neto escrevia poemas e foi nessa escola que começou a escrever para o jornal escolar. Seu interesse pelo cinema fez com que o poeta mergulhasse como nunca nas atividades dos cineclubes. Depois disso, Torquato se integrou à equipe do filme “Moleques de Rua”, dirigido por Alvino Guimarães. Essas experiências fizeram com que Torquato deixasse de tentar a carreira diplomática e decidisse seguir carreira no jornalismo. Então, ele foi morar no Rio de Janeiro, em 1962, para terminar o científico e prestar vestibular. Torquato Neto ingressou no curso almejado, mas só permaneceu na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil por dois anos. O poeta, integrado sempre às atividades culturais, frequentava o Centro de Cultura Popular da UNE (União Nacional dos Estudantes), onde conheceu grande parte dos artistas e dos parceiros na música.

A Geleia Geral e outros escritos

Torquato riscou os céus, numa passagem que marcou o cenário artístico, e sua contribuição inegável se deu justamente pela genialidade que carregava consigo. Mesmo sem ter concluído o curso de Jornalismo, Torquato exerceu a função de repórter de setor no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em 1965. Ele também trabalhou nas redações do Correio da Manhã e do jornal O Sol, no qual escreveu, por quase um ano, a coluna Música Popular, focada na crítica musical. Além disso, trabalhou em agências de propaganda e na gravadora Philips. O poeta produziu intensamente, escrevendo como titular na coluna Geleia Geral, publicada pelo Jornal Última Hora, em 1971 e 1972. Ele se opôs à música comercial, além de também ser um defensor dos direitos autorais. Posteriormente, Torquato e Wally Salomão editaram a revista “Navilouca”, que se destacou expondo a nova poesia brasileira, convidando, inclusive, poetas-experimentadores, tais como: Duda Machado, Hélio Oiticica, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, entre outros. Foi nesse espaço, nas páginas da revista, que Torquato Neto publicou as poesias “poeta é a mãe das artes” e “das manhas em geral”. A revista, que marcou o cenário das artes e se tornou referência e símbolo da vanguarda brasileira, só foi publicada em 1974, após a morte de Torquato.

Poesia e alguns acordes

Foi no Rio de Janeiro que Torquato conheceu e fez parceria com Edu Lobo e o cineasta Rui Guerra. Fez parceria com inúmeros artistas. Com Gilberto Gil, compôs a canção “Louvação”, primeira composição gravada por Elis Regina, em 1966. Em 1967, foi lançado o LP Domingo, de Caetano Veloso e Gal Costa, com três parcerias de Torquato Neto com os baianos, são elas: Minha Senhora, Zabelê e Nenhuma Dor. No mesmo ano, casou-se com Ana Maria, com quem teria, em 1970, o filho Thiago. Torquato Neto compôs com grandes nomes da música brasileira, ente eles: Carlos Pinto, Jards Macalé, Geraldo Vandré, Roberto Menescal, Luiz Melodia, Machado Jr., João Bosco, Geraldo Brito, Feliciano Bezerra, Renato Piau e Edvaldo Nascimento. Torquato Neto, a esposa e Hélio Oiticica viajaram para a Europa e Estados Unidos, antes de instaurado o Ato Institucional nº 5, entre 1968 a 1969. Ao retornar ao Brasil, ele voltou à cidade natal e tentou recrutar novos artistas para formar um grupo de trabalho no Rio de Janeiro; sem obter sucesso, o poeta retorna ao Rio e, junto de Waly Salomão, Vinicius Cantuária e Luís Moreno, se alia à Barradinha, criando uma parceria com a cantora que passou a ser chamada de Lena Rios.

O cinema marginal

Torquato Neto se destacou também na área do audiovisual. O cinema despertou o interesse do poeta, que roteirizou vários filmes entre 1961 e 1972, como os roteiros para os filmes “Barravento” e “O faroesteiro da cidade verde ou só matando”. Ao lado de Capinanm e Caetano, roteirizou o filme de Maria Bethânia, em 1966, intitulado “Pois é”. Em 1967, Torquato participou de “Ensaio Geral”, na TV Excelsior. No mesmo ano, ao lado de Caetano, roteirizou “Frente Única – Noite da Música Popular Brasileira”, na TV Record. ⠀
Torquato atuou no filme “Nosferato no Brasil”, dirigido por Ivan Cardoso. O filme foi ambientado no Rio de Janeiro e é um representante do movimento conhecido como “undigrudi”. Atuou e dirigiu o filme “Terror da Vermelha” (1971/1972), além de atuar em “Adão e Eva do Paraíso ao Consumo” (1972). Torquato Neto rompeu com o Cinema Novo e passou a experimentar o cinema Super 8 e experimental. Foi, portanto, um defensor da vanguarda nas diversas manifestações artísticas.

Um poeta não se faz com versos

Torquato Neto é um dos artistas que rompeu com as fronteiras da sua cidade natal, ganhou o Brasil e conquistou um espaço de destaque em várias artes, tornando-se um dos principais letristas do movimento Tropicália; ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso, foi um dos idealizadores do movimento. Torquato Neto viveu a arte, a tropicália como ninguém, mergulhando profundamente nessa ideia que misturou diversas tendências, desde a cultura popular aos movimentos vanguardistas, mesclando isso com as inovações estéticas. A insatisfação e inconformismo ficaram marcados na sua arte. Torquato Neto se destacou também pela criatividade, ousadia, experimentando esse caráter híbrido na arte. O artista foi um pensador inquieto, demonstrando, com a sua escrita, todas as angustias que lhe atravessavam, afinal, parafraseando as palavras do próprio poeta: um poeta não se faz com versos, mas destruindo a linguagem e explodindo com ela.

Fotos

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Vídeos

Poesias

Cogito

Literato contabile

O poeta nasce feito

O poeta é a mãe das armas

Composições

A coisa mais linda que existe (com Gilberto Gil);

A rua (com Gilberto Gil);

Ai de mim, Copacabana (com Caetano Veloso);

Andarandei (com Renato Piau);

Cantiga (com Gilberto Gil);

Capitão Lampião (com Caetano Veloso);

Começar pelo recomeço (com Luiz Melodia);

Daqui pra lá, de lá pra cá;

Dente por dente (com Jards Macalé);

Destino (com Jards Macalé);

Deus vos salve a casa santa (com Caetano Veloso);

Domingou (com Gilberto Gil);

Fique sabendo (com João Bosco e Chico Enói);

Geleia geral (com Gilberto Gil);

Go back (com Sérgio Britto);

Juliana (com Caetano Veloso);

Let’s play that (com Jards Macalé);

Lost in the paradise (com Caetano Veloso);

Louvação (com Gilberto Gil);

Lua nova (com Edu Lobo);

Mamãe coragem (com Caetano Veloso);

Marginália II (com Gilberto Gil);

Meu choro pra você (com Gilberto Gil);

Minha Senhora (com Gilberto Gil);

Nenhuma dor (com Caetano Veloso);

O bem, o mal (com Sérgio Britto);

O homem que deve morrer (com Nonato Buzar);

O nome do mistério (com Geraldo Azevedo);

Pra dizer adeus (com Edu Lobo);

Quase adeus (com Nonato Buzar e Carlos Monteiro de Sousa);

Que película (com Nonato Buzar);

Que tal (com Luiz Melodia);

Rancho da boa-vinda (com Gilberto Gil);

Rancho da rosa encarnada (com Gilberto Gil e Geraldo Vandré);

Todo dia é dia D (com Carlos Pinto);

Três da madrugada (com Carlos Pinto);

Tudo muito azul (com Roberto Menescal);

Um dia desses eu me caso com você (com Paulo Diniz);

Veleiro (com Edu Lobo);

Vem menina (com Gilberto Gil);

Venho de longe (com Gilberto Gil);

Vento de maio (com Gilberto Gil);

Zabelê (com Gilberto Gil).

Discografia

Tropicalia ou Panis et Circencis (1968);

Os últimos dias de Paupéria (1973);

Torquato Neto – Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia (1985);

Todo dia é dia D (2002).

Filmografia

Como ator

Nosferatu (1970);

Terror da Vermelha (1971/1972);

Adão e Eva do Paraíso ao Consumo (super 8, Teresina, 1972).

Como diretor

Terror da Vermelha, (1972).

Outras fontes

http://www.torquatoneto.com.br

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2853/torquato-neto

http://tropicalia.com.br/ilumencarnados-seres/biografias/torquato-neto

 

Última atualização: 02/10/2018

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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    1. tem gente que não suporta mais ouvir no moço nem que ele inventou a Tropicália. Daqui jogo molho. Me ensaduicho desse caralho. Sou letrista sei que músico nos torce o rabo quadrado. Mas eu durmo, sento e cágado ando devagar contra esses movimentos contrários. Gente que desconhece Mário Faustino, Karla Holanda, Assis Brasil faz o elogio biscoiteiro.

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