Noite
calabouço voraz
intermitente pedra nos olhos
imagens rudes
de onde o templo magnífico
não se apresenta à vossa sombra
Voraz
antídoto das mágoas
ruínas memórias suicidas
entrevejo um possível de riso
na amplitude do deserto negro.
Um desejo
é tudo que ronda tamanho espaço
é tudo que morde meu mamilo seco
é tudo que rende um faminto beijo
e exaspero-me em saudades…
Não mais aqui estamos
as mãos soltas na aurora nervosa
o suor denso o peso
o ambíguo jeito que me olhas agora…
Noite
calabouço voraz
e me admiro ainda de tua fome
do meu passo pesado
tua mão enorme:
uma sombra invade o recinto
e choro
Voraz
como as fiandeiras
sedentas pelo corte
como a sede espinhosa
na língua aflita
como o sacrifício onde
os deuses se alimentam.
De mim resta apenas
o rosto do sujeito
indefinido e criterioso
a observar o escuro fosso
de um poema inacabado.
A noite é voraz silêncio
indagações são ventos
que animam os corpos.
Estamos a um passo do deserto
e meu corpo lá espera
por um sopro do poeta.