Já quero começar esse texto deixando claro que não sou nem arquiteto, nem designer de interiores, nem artista. Talvez o que fale aqui não seja o mais embasado tecnicamente possível, mas é o que sinto. Sempre fico bastante incomodado ao entrar em espaços públicos e residências que visivelmente tiveram um investimento em decoração e design mas usam obras de arte totalmente genéricas e sem personalidade.
O que eu quero dizer com genéricas? Obras de arte que podem ser encontradas em qualquer lugar, muitas são impressões feitas em larga escala e que de modo geral não se conectam com o ambiente. Exemplo: qual o sentido de quadros com fotos de Paris e Londres em um café que vende comida típica piauiense e caseira?
O que eu quero dizer com sem personalidade? Obras de artes que são escolhidas para combinar com cores de outros elementos do ambiente e não necessariamente pela qualidade que têm, pelo que representam, pelo que transmitem. Tanto que é comum a escolha de obras abstratas (o que a princípio não há problema algum) apenas porque a cor predominante combina com a paleta de cores utilizada no ambiente e por ser abstrata facilita essa “harmonia”. E o que é pior: muitas vezes as artes não refletem a personalidade de quem vive naquele espaço. Exemplo: qual o sentido de uma obra abstrata em azul suave para ornar com a cor do sofá em uma casa que os donos amam rock e heavy metal?
Acredito com convicção que os arquitetos e designers de interiores têm uma excelente oportunidade a cada projeto de valorizar os artistas visuais locais. Basta pesquisar com calma, nas galerias e na internet, por exemplo, que se pode encontrar artistas dos mais variados estilos, vertentes, influências e, que é um critério importante, preços, afinal, os clientes têm de ter condição de comprar as obras. Obras de artistas mais bem posicionados nesse mercado com certeza são bem mais caros, mas caso o cliente não tenha condições de despender um alto valor, basta pesquisar, com certeza existem artistas que praticam um valor menor (o que não significa de menor qualidade).
Valorizando os artistas locais, há uma possibilidade bem maior de ter um ambiente único, muitos artistas inclusive aceitam encomendas sob demanda, e que reflitam os gostos e características de quem vive frequenta o espaço. Além, é claro, de possibilitar aos artistas visuais locais uma fonte de renda maior para que possam dedicar-se cada vez mais às suas artes.
Se os arquitetos e designers de interiores em sua grande maioria tivessem essa preocupação, muitos artistas visuais iriam ser revelados e poderiam ter uma renda maior por meio de suas artes. E a população ganharia com acesso a obras de artes com bem mais personalidade. Feliz do povo que conhece e valoriza seus artistas.
Eu entendo que muitos clientes também demandam projetos fora do seu gosto pessoal na tentativa de se aproximar do que é tendência nas revistas especializadas, pensando não em agradar a si mesmos, mas amigos. Mesmo nesse caso, os arquitetos e designers de interiores podem orientar seus clientes e tentar (ao menos tentar) convencer a incluir obras locais e que condigam com seus interesses.
Deve-se proibir usar artes de artistas de outras cidades, países, continentes? Claro que não! Só acho que não custa nada verificar se os artistas locais podem oferecer a arte que se pensando para aquele ambiente, além de dar mais voz aos clientes para a escolha das artes.
Em muitos casos, não se pensa nisso, porque não há o devido conhecimento sobre os artistas locais. Talvez demande um certo esforço (não tão grande) de pesquisa, mas com certeza é um esforço que vale muito a pena e talvez seja possível até economizar.
Adendo: acho que obras multicoloridas também podem e devem serem escolhidas. E, com um pouco de atenção, podem combinar perfeitamente com qualquer ambiente.