Noite de inverno. A um choro miserando
Da harpa do rio túrgido e barrento,
Oiço os lobos famélicos do vento
Ganindo, arremetendo, farejando…
Um trágico fuzil, de quando em quando,
Rompe a trincheira azul do firmamento,
E o relâmpago atroz, sanguinolento,
Parece um vagalume formidando…
Depois a chuva toma outras maneiras,
E há vozes, há soluços, há gemidos
Como em torno das horas derradeiras…
E então descubro, pela noite incalma,
Como velhos demónios foragidos,
Os cães da dor uivando na minhalma!
Celso Pinheiro (1887-1950)