Cartões-postais do fim do mundo, de Demétrios Galvão

CARTÕES-POSTAIS DO FIM DO MUNDO

o olho em falso vacila na transversal:

no cheiro do medo, o faro desmedido

no horizonte, uma procissão de pássaros fosforescentes

há sol em cada canto do dia e os orixás fazem

                                                           [poemas-crianças

modigliani montado em um ganso

alimenta os peixes com a estranha beleza de suas

                                                                     [mulheres.

uma tempestade de insónias sopra nos olhos:

os faróis acendem uma cadeia de mandíbulas
os vestidos caem do céu no museu-retina-de-porcelana
uma filha de lilith rola à beira do lago das danações
grandes doses de pílulas de café são dadas às estátuas da

                                                                               [cidade e

baudelaire translúcido flana na rua do hospício.

— os corações saltam de pára-quedas
e os turistas fazem festas nos cartões-postais do fim do

                                                                               [mundo.

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