“Fotografar é desbanalizar o banal, porque para o fotógrafo todas as coisas têm potência para uma grande foto. É um trabalho de interpretação e reinterpretação do mundo onde você dá um sentido novo para as coisas”, crava José Ailson Nascimento. Filho de mãe piauiense e pai cearense, José Ailson Nascimento Sousa é natural de Santana do Araguaia, município do estado do Pará, mas radicado em Teresina há mais de dez anos fazendo da cidade a sua casa e laboratório para registrar em fotos a diversidade de elementos que a cidade apresenta. José Ailson é estudante de Filosofia na Universidade Federal do Piauí e fotógrafo da Geleia Total. A sua primeira exposição aconteceu em 2018 e foi intitulada “Exposição do Um Zé” na qual mostrava um pequeno fragmento do trabalho do fotógrado. O olhar sensível do admirador das poesias de Manuel de Barros tece histórias visuais carregadas com sombras intensas e provocando os seus “leitores”. José Ailson Nascimento encanta com o seu deslimite de criar, despertando um deslimites de sentir e imaginar.
“Fotografar é desbanalizar o banal, porque para o fotógrafo todas as coisas têm potência para uma grande foto. É um trabalho de interpretação e reinterpretação do mundo onde você dá um sentido novo para as coisas.” José Ailson (Um Zé)
Nome Completo: José Ailson Nascimento Sousa
Descrição: Fotógrafo
Data de Nascimento: 24/02/1993
Local de Nascimento: Santana do Araguaia-PA
Perfil escrito pela Geleia Total
Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Noé Filho e Paulo Narley Pereira Cardoso
O menino de asas
A arte está em todo lugar e nos atravessa a todo momento. Estamos constantemente sendo estimulados pelas artes, mesmo que de forma sutil. Dessa forma, embora não se possa precisar o momento exato dos primeiros contatos com as artes, José Ailson Nascimento afirma que foi na literatura que ele encontrou alento para a sua necessidade de vivenciar um mundo de criações. O primeiro livro lido foi “O auto da barca do inferno”, de Gil Vicente. Porém, essa foi uma leitura para fins acadêmicos, para a apresentação de um trabalho escolar. Foi o seu segundo livro lido que transformou o aluno em um leitor ávido: a obra “Menino de Asas”, de Homero Homem. A história do menino que tinha asas foi impactante porque gerou identificação imediata, já que o leitor se identificou com a personagem que vivia escondida dentro do seu próprio mundo, um mundo diminuto, restringido pelo medo de não ser aceita pela sociedade. “Eu costumo dizer que essa foi a primeira vez que eu fui atingido por alguma forma de expressão artística, foi quando eu li esse livro”, pontua o fotógrafo. A curiosidade se transformou em compulsão e o estudante passou a ler descontroladamente apenas pelo prazer da leitura. Dos clássicos aos best-sellers, José Ailson lia para mergulhar nas narrativas, chegando, inclusive, a mandar cartas para os autores das obras “O caçador de pipas” e “Como viver eternamente”. O menino de pés no chão, criado em contato com a natureza, apaixonado pelas manifestações do povo e pelos mistérios da natureza, viu na literatura as possibilidades da criação e nunca mais largou o mundo lúdico das letras.
Pés no chão, luz e sombra
“Desde que eu me entenda por gente, quando eu já sabia o que estava fazendo, eu sempre gostei de registrar as coisas.” José Ailson Nascimento começou a registrar os eventos familiares, as festas, as reuniões dos parentes desde muito cedo. Ele era a pessoa por trás das fotos da família, tanto que mal tinha fotos suas. O presente dado pela tia à irmã do futuro fotógrafo e que começou a fazer parte da vida de José Ailson. Inicialmente as fotos tinham o intuito de registrar os momentos em família, os pequenos e grandes acontecimentos familiares viravam fotos ou vídeos. Depois disso José ganhou o primeiro celular com câmera e o fotógrafo apaixonado pelo registro começou a explorar as funções da câmera do seu celular. Eram fotos sem objetivos, só pelo desejo de registrar o momento, afinal ele frisa ser uma pessoa apaixonada pelas memórias. “Eu sempre fui uma pessoa muito nostálgica, sempre gostei de ter memorias que eu pudesse me lembrar.” José Ailson rememora que passou muito tempo registrando os momentos por meio das câmeras dos seus celulares, só depois começou a investir nas câmeras fotográficas e lentes para melhorar a criação dos seus registros.
O menino cor de terra
“Assim como o Manoel de Barros, sempre tive uma ligação muito forte com a natureza e eu acabei transferindo isso para as fotos, mas as fotos não eram, necessariamente, uma releitura das poesias do Manoel de Barros”, diz José Ailson Nascimento. O fotógrafo tem uma relação muito forte com o espaço escolhido para tirar fotos. Não existe nada programado, tudo que é criado acontece no momento do contato com o ambiente e a personagem fotografada. José Ailson gosta de descobrir a foto, de explorar o espaço e ver como ele será atravessado pelas sensações despertadas ali, no momento. “O que mais me inspira é o lugar mesmo. Uma vegetação que me chama atenção, uma casa bonita, o lugar e o ar do lugar que traz inspiração. Eu não consigo criar alguma coisa dentro do meu quarto”, pontua o fotógrafo. Somente no local escolhido é que é possível perceber a iluminação, cores e elementos disponíveis para despertar a inspiração e alimentar a criação. Por isso, José Ailson se define como um fotógrafo andarilho, que vai garimpando os elementos que farão parte da sua foto, que vai para o lugar e aguarda pelo momento favorável de criar a foto. E não é por menos, o fotógrafo sempre se imaginou trabalhando em um ofício que lhe permitisse desbravar o mundo. O menino cor de terra é um fotógrafo que vai em busca da sua imagem: “A fotografia foi uma maneira que eu encontrei descompromissada de me expressar, pois como sempre fui uma pessoa reclusa, calada e que tinha problema para falar, ela foi meio que uma válvula de escape. É como se você conseguisse falar e não se entregar.”
“Fotografia foi uma maneira que eu encontrei descompromissada de me expressar.” José Ailson (Um Zé)
A geleia fotográfica
Das nuvens para as pessoas, foi assim que José Ailson Nascimento passou a migrar das fotografias de paisagens para outros temas. O fotógrafo conta que foi criado em cidades com muita vegetação, como o igarapé, e em uma família que sempre teve contato forte com a natureza. Ele conta que, depois de comprar a sua primeira câmera digital, uma Cyber-shot, começou a tirar fotos da cidade, das ruas, dos produtos de artesanato, do Shopping da Cidade. Conta, ainda, que saía religiosamente nos finais de semana para fotografar elementos do centro da cidade de Teresina. Nesse período, o fotógrafo conheceu a página do Instagram da Geleia Total, na qual existia espaço para repostagem das imagens e artes de artistas. Então, segundo o fotógrafo, ele tirava uma grande quantidade de fotos, selecionava cinco para postar na sua página do Instagram e, usando a tag #geleiatotal, acabava tendo a maioria das suas fotos repostadas. “A minha história com a Geleia é uma história muito linda. Eu gostava muito de fazer foto da cidade, de Teresina. Eu tirava umas cinco fotos para postar, para a Geleia me repostar, uma grande parte delas eram repostadas e eu amava. Eu lembro que entrava na tag da Geleia Total e acho que setenta por cento das fotos eram minhas, porque tudo eu postava com a #geleiatotal.” José relembra que, posteriormente, recebeu o convite para participar da Geleia Total, do idealizador do projeto, Noé Filho, que explicou como funcionava a ideia. O fotógrafo conta o quão feliz ficou quando entrou para o projeto. Ele conta, também, que apenas vislumbrava sair nas postagens e como foi importante o reconhecimento das suas fotos naquele momento.
Uma forma descompromissada de expressão
“A fotografia é visão, é você reinterpretar as coisas e isso eu faço desde pequeno, reinterpreto coisas. É criar mundos que não existem”, crava José Ailson Nascimento. Quem acompanha as obras criadas por José Ailson entende o que é escrever poesias por meio de imagens. A relação com a literatura não é segredo, pois o fotógrafo nutre uma admiração grande por poetas, como Manuel de Barros. Além disso, compondo as referências de José Ailson, estão outros fotógrafos, como Sebastião Salgado, Vivian Dorothea Maier e João Roberto Ripper. Entre os fotógrafos piauienses, ele destaca os trabalhos de João Albert, Regis Falcão, Adriano Carvalho e João Guimarães. Ele conta que admira os fotodocumentaristas, mesmo que não tenha uma relação direta com o seu tipo de fotografia. José Ailson relembra como ficou empolgado com as palavras de Adriano Carvalho e como o fotógrafo contribuiu dirimindo dúvidas e com conselhos sobre as imagens produzidas.
Registrando momentos mágicos
O dom de criar se manifesta de forma bem particular em cada artista, varia conforme as suas vivências e preferências. Criar é tecer ideias por meio da arte. Escrever histórias e declamar poesias, por meio de imagens, é o que faz o fotógrafo José Ailson Nascimento. Dono de um estilo singular que exprime muito da sua personalidade, suas fotos traduzem um pouco da essência das pessoas, dos lugares e têm como característica as tonalidades terrosas, com muitas sombras e pouca luz. José Ailson Nascimento usa a fotografia para se expressar, já que diz não ter o mesmo dom com as palavras. Dessa forma, fotografando, foi conquistando um público fiel dentro e fora das redes sociais. Os três anos trabalhando profissionalmente como fotógrafo deram a certeza de ser esse o caminho a ser seguido. As fotografias de José Ailson marcam, porque não camuflam o ser humano, elas expõem todos os traços, as expressões e marcas da pele. Elas revelam e descortinam mais a alma do fotógrafo do que as das personagens fotografadas.
Contatos
+55 86 98822-0850
Fotos
Vídeos
Exposições
“Exposição do Um Zé” (2018)
Outras fontes
http://www.fotografepodcast.com/um-ze
https://geleiatotal.com.br/2017/10/27/teresina-31102017-exposicao-do-um-ze/
Última atualização: 17/06/2018
Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.