A prática artística constitui-se essencialmente o exercício da criatividade, somada a uma consciente elevação dos padrões de esforço e compromisso, consigo e com a humanidade.
Aquele que pega o cinzel e o martelo do “ser artista”, acreditando romanticamente, no mero deleite de uma mendiga vaidade que cata elogios no monturo da hipocrisia e, se satisfaz, com as superficialidades do oficio, estará sujeito, a enormes decepções e insuportáveis aflições:
– A fama e a popularidade se mal administradas, tornam-se fontes de angústias incessantes.
– Os afetos quando forjados na fábrica das exterioridades artísticas, dissolvem-se a qualquer impacto.
– O trabalho na seara criativa, torna-se frustrante, tendo em vista, o encarceramento à aprovação ou reprovação, cultivada nos círculos onde predominam a descrença em comunhão com a maledicência.
– A construção das “pontes” de entendimento, transformação e prazer estético, entre o artista e seu público, são rompidas, no frágil exercício da egolatria.
– Os recursos materiais e intelectuais angariados pelas exigências das lutas do oficio, quase sempre, evaporam nas nuvens da futilidade.
– Aos poucos, todos os “cantos de sereia”, de uma vida na arte silenciam. O pobre artista, que só desejava ser amado, submerge nas valas profundas da loucura e licenciosidade.
Ilusoriamente, acreditamos que o artista, como um ídolo, está para ser cultuado, louvado e servido sem maiores responsabilidades ou precauções. A realidade, que sempre nos reabsorve, revela a cortante realidade: o espectador pressente quando uma manifestação artística é desprovida de esforço, disciplina e, sobretudo, amor.
Todavia, somente o amor a arte, somado a incompreensão das dificuldades e limitações que uma vida dedicada a criação artística seja, constitui também, equação fatal para o artista. Torna-se necessário uma concretude profissional, que garanta ao criador, o álibi indispensável para que continue trabalhando pelo engrandecimento cultural seu e do seu povo. Essa guerra deve ser travada sem a presença da esteira de cacos de vidros que é a necessidade doentia do reconhecimento e gozo, simplesmente, por se considerar artista.
Toda atividade artística luminosa traz no seu bojo os germes da revolução, inventividade e ânsia de servir a humanidade, podemos até inferir sem temor: “não existe arte autêntica sem serviço”. Servir verdadeiramente a vida, sem falsas intenções, na ausência de uma intencionalidade meramente assistencialista ou apenas carregada de moralismo piegas, para o artista não ególatra, torna-se uma das questões mais complexas desses tempos trevosos, aos que desejam e optam por esse caminho da autenticidade na arte.
Acima e além de todas as correntes e visões que permeiam a arte contemporânea, essa busca torna-se uma emergente possibilidade, provavelmente, a mais aguerrida e valorosa busca de completude.