o que há dentro do muro não é assim tão bruto ; um
pensamento sofre na argamassa que lhe cobre ; angústia
o muro sente, desde antigamente : é cego todo sempre e
só sabe apartar gente. há pouco ouviu do chão, com voz
de escuridão, que existem as paredes – rijas tal qual ele ; a
diferença é que elas têm uma janela, e assim, pela janela,
a parede enxerga. janela é uma abertura – não dói, não
sutura ; buraco sem reboco movendo-se no corpo ( se a
obra tem janela, parede é o nome dela ) cimento e cal sem
furo julgam ser um muro. o muro, truvo e mudo, pensa e
pensa em tudo : sair daquele escuro e ver a luz do mundo,
deixar de ser um muro abrindo em si um furo ainda que
esse corte lhe tombe à nula sorte – não sabe como, ainda,
mudar a sua química (rejeita a vil certeza de não ter vista
acesa) deseja em seu chapisco, sim! correr o risco de ter a
pele aberta e sentir o que é a janela ; e mesmo sem saber
como vai ser outro ser, o muro quer saída, mudar, mover
a vida – quer nem que seja a ida da simples dobradiça ;
ou algo do porvir que lhe tire deste aqui
Poesia de Thiago E