A rua me aceita como sou
Nasci em berço de ouro
Numa casa bela e farta
Conheci a sobrepujança
Mas sempre de um lar sentia falta
Tinha pais e irmãos
Uma família abastada
Só não tinha carinho
Convivia com gente muito mal-amada
Comecei a curtir a noite
Muitas mulheres e amigos
Isso me distraiu
Era arrodeado de bons inimigos
Minha alma perdi
Aquilo me consumia
Não tinha quem me ajudasse
Para mim, minha família não existia
Perdi tudo na minha vida
Achei sossego nessa doce agonia
Um lindo lugar acinzentado
Do trânsito e das balas perdidas, uma bela sinfonia
Aqueço-me ao frio da noite
Durante o dia, resfrio-me com o gélido calor humano
Prefiro a paz do meu lar
A viver num mundo desumano
A rua me aceita como sou
Aceita minha pobre riqueza
Minhas dores ludibriadas pelo álcool
E meu risonho semblante de tristeza
(Foto: amerios.com.br)