Energia Transitória, de Fernanda Paz

Era uma situação extremamente chata.

Não conseguia ter um namorado. Acabava sendo uma questão de energia. Eu necessitava de muita e eles nunca tinham o suficiente.

Passear, ir ao cinema, dançar, comer, isso era a parte fácil. Eles resistiam muito bem até aí. Entretanto quando o assunto era cama, eles sempre eram sugados até a morte.

Nem notava como acontecia, geralmente durante a noite estava tudo bem e de manhãzinha eles estavam roxos e molengos.

Por um bom tempo eu não soube o que fazer. Mas no quinto ou sexto eu desocupei um cômodo da casa. Na verdade não era um cômodo muito usado, então não me fazia tanta falta.

Arrastava-os até lá, empilhando um a um. Uns eram muito pesados. Comecei a fazer academia. Precisava ter bastante força física.

Mas aquela situação estava me enlouquecendo. Eu queria alguém todo dia para ficar ao meu lado.  Devia haver algum modo para que não acontecesse mais aquilo com os pobres rapazes.

Decidi dar um tempo. Ficar sozinha.

Estudei bastante.

Resolvi me encaminhar a área de engenharia elétrica. Sempre me dei bem nos cálculos.

Assim os dias se passavam e me distraia com as aulas e os livros.

Lógico que o corpo queria algo mais o quanto antes.

E sempre aparecia uma tentaçãozinha. Eu resistia como podia às cantadas. No entanto uma vez ou outra saía com algum deles e resultava no mesmo.

Aquela altura eu já havia freqüentado todo tipo de religião, cheguei realmente a pensar que havia algum encosto ou vudu em mim.

Um dia com o avançado do curso comecei a realizar alguns experimentos.

Essa ia ser a minha saída.

Criei uma fiação, peguei um dos melhores na pilha de homens e comecei os meus testes.

Era uma questão de acertar fios, aliar peso, altura e voltagem.

É certo que alguns ficaram completamente torrados, mas era um sacrifício que precisava ser feito. E convenhamos, lógico que para os testes eu sempre pegava os feinhos, menos interessantes e que também não tinham sido muito bons no desempenho comigo. Pra tudo na vida necessita-se de critérios.

Estava conseguindo, pouco a pouco eu já lhes fazia mover dedos, mãos , pés, algumas pequenas articulações.

No dia que consegui fazê-los ficar de pé foi uma alegria. Corri na rua até o mercado da esquina, comprei uma garrafa de vinho e comemorei.

Daí só foram avanços até alcançar a perfeição. Sentia-me uma deusa.

A questão era depois que eu conseguisse trazê-los de volta o que eu faria com tanto homem?

Comecei a usar a quantidade de energia suficiente para um dia. Então a cada dia eu poderia usar um deles. Ao fim da noite ou mesmo pela manhã ele já estaria caído novamente e voltaria ao quartinho masculino.

Fiz isso por alguns meses. Era uma experiência incrível e não me fazia sentir culpada ao pensar que eu desenergizava pessoas com o meu corpo.

Foi um caos para as pessoas, minhas amigas queriam saber como eu conseguia tantos homens em um pequeno intervalo de tempo.

Inventei todos os prováveis tipos de história. Um dia enquanto eu ligava os fios do que eu usaria naquela manhã, havia uma louca na janela. Pôde ver tudo. Fiz ela entrar, estudava na faculdade comigo.

– Então é isso! Não é justo você não ter nos contado nada. Eu também quero participar, faz tempo não encontro alguém, me deixa usar um deles por um dia.

Fiquei perturbada, se eu fosse assassina teria matado aquela louca. Ela ia estragar tudo.

Passei a noite pensando nisso. Por um lado ela tinha razão, eu não devia esconder tal descoberta. Mas por outro lado eu poderia ser presa pelo meu poder de destruição em um único encontro.

Resolvi dar uma chance aquela pobre mulher necessitada de carinho. Os homens são tão hostis com as feias, eles bem que mereciam aquele tipo de funcionamento.

Ela adorou a experiência, viramos sócias no assunto.

Nem sei como foi acontecendo, mas havia mais mulheres agora. Era uma espécie de seita que só nós sabíamos.

No ápice da coisa, aquela minha amiga louca me veio com uma proposta indecente. Queria transformar aquilo num negócio do tipo compra e venda. Era uma proposta humanamente horrível, no entanto renderia um bom dinheiro, o que, a essa altura eu estava precisando muito.

Funcionava assim, cada dia uma delas me apresentava a um cara novo (ninguém agüentava mais repetir os que eu tinha guardado no quartinho) saíamos juntos e no fim da noite ele já estava sem energia alguma, roxinho e molenga. Eu acumulava vários e fiz da minha casa um expositório. As mulheres iam lá e escolhiam um deles, alugava por um tempo, ou então as solteiras acabavam comprando mesmo. Quando elas precisavam recarregá-los, levavam até minha casa e eu cobrava pelo serviço. Com tanto dinheiro pude investi em material, e passei a vender junto os carregadores de homens. Ficou um tanto mais dinâmico o trabalho. Já contava com outras casa-expositoras de algumas das meninas do curso que treinei com convicção.

A nossa rede de serviço já cobria a cidade inteira, todos os homens já faziam parte das casas. Aproveitávamos quando vinha algum turista para renovar o mostruário e aí era uma loucura de mulheres na matriz disputando em leilão aquele turista.

O bom da coisa é que todos ali tinham que passar primeiro por mim.

Com as sócias, resolvi em reunião sair de cidade em cidade implantando o serviço.

Com o dinheiro que eu tinha, poderia fazer o que quisesse.

Dia seguinte arrumei as malas. Agora eu era uma grande empresária e viveria em função do meu trabalho dali em diante.

 

Fernanda Paz

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