XIII LÍRICA – Berçário de fauna e flora, de Diego Mendes Sousa

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Lavo os pés no mar

como lavadeira de rio

que encharca as mãos

nas águas

das correntezas

perenes

e bate

o coração na pedra

de um cais nostálgico

e puro

Lavo os pés no mar…

(Ó Parnaíba,

eram as putas do Munguba

– que as chuvas de

dezembro a maio

riscaram da paisagem

da Quarenta,

onde as vadias

revelaram

o custo dos seus sexos? –

o largo calor do porto,

onde mulheres fulminantes

recendentes dos desejos

queimaram os seus lençóis

por fardões brancos

nas miragens azuis?)

Lavo os pés no mar

como prostituta náufraga

que vive na faina

da vida

que alaga o corpo

de fluidos profundos

e resseca

a vagina nos falos

dos bêbados

pervertidos

Lavo os pés no mar

como oceano perdido

que passa foragido

na península da alma

como sangue nativo

no amor aos dias

como pássaro da ilha

no ar das tardes

como areia da terra

na dor deste inverno

Lavo os pés no mar

como xanana que reluz

aos sonhos do viajor

e se espanta feroz

nos fogos do ardor

Lavo os pés no mar

como imaginário

que se quis solitário

como fantasia

que se disse solidão

como magia

que se contradiz só

em silêncio

anoitecido

Lavo os pés no mar

como Tempo

que reflui

saudade

Lavo os pés no mar…

Poema de Diego Mendes Sousa (Parnaíba, 1989)

Do livro de poemas Coração Costeiro (2016)

Fotografias de Parnaíba, litoral do Piauí.

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