As paredes e muros da cidade falam, gritam e comunicam. Com aproximadamente trinta anos inserido na cultura hip hop, Washington Gabriel, mais conhecido como W.G., é artista plástico e grafiteiro. Ele é natural de Teresina e é um dos nomes de destaque do grafite do Piauí. Os traços inconfundíveis estão espalhados pelo ambiente urbano, tingindo, com a sua arte engajada, as estruturas monocromáticas da cidade. W.G. teve a vida dedicada à cultura hip hop, que é antes de tudo um estilo de vida, algo pra ser sentido e vivenciado. É o idealizador do projeto “Jeru”, que transformou paredes de moradores da Vila Jerusalém em telas, mostrando os rostos de personagens daquela comunidade muitas vezes invisibilizada. O grafiteiro intervém no urbano e se expressa por meio da arte, mostrando a voz da periferia, que é marcada por diversas violências e mazelas. W.G. transforma revolta em arte.
“A minha vida toda foi dedicada à Cultura Hip Hop.” Washington Gabriel
Nome Completo: Washington Gabriel Cruz
Descrição: Artista plástico e grafiteiro
Data de Nascimento: 01/01/1975
Local de Nascimento: Teresina-PI
Os primeiros traços do artista
W.G. foi cresceu na Zona Norte de Teresina, no bairro Mocambinho. Durante a infância ele conheceu a arte por meio dos desenhos animados exibidos na TV e conta que os programas eram uma febre entre os amigos. Não se contendo em apenas assistir aos desenhos, seus colegas e ele tentavam desenhar os personagens e criavam as suas próprias histórias de quadrinhos. Fora isso, o grafiteiro estudou com muitos colegas apaixonados pelos desenhos, e naquele ambiente ser desenhista representava ter status. Nesse período W.G. se aproximou dos desenhistas para também aprender a desenhar, estes reconheceram talento no menino e começaram a dar dicas. A aposta funcionou, pois depois das aulas W.G. não parou mais, passou a comprar revistas em quadrinhos para ampliar as imagens dos desenhos e chegou a ganhar alguns trocados com as artes. Com essa experiência o grafiteiro foi se aperfeiçoando até conseguir desenhar retratos, estilo que só foi se fortalecendo e fazendo parte da identidade artística de W.G..
O grafite desafinando o coro dos contentes
W.G. além de desenhar também dançava e passou algum tempo, durante a adolescência, sendo bboy, foi quando começou a se unir com outros interessados em fortalecer o hip hop. A ideia era formar um movimento independente e já havia bboys, bandas de rap, só não havia grafiteiros. E dessa forma, para ajudar o movimento hip hop, Caede, Roberclaudio Akira e Manin começaram a experimentar o grafite. E foi graças a eles que W.G. sentiu-se motivado para tirar o desenho do papel e levá-lo para as paredes. O grafiteiro começou a desenhar HQs, passando pelos desenhos realistas e chegando às paredes. Nas paredes W.G. começou a fazer letras, mas em contato com outros grafiteiros que perceberam um futuro mais promissor se ele tentasse fazer os desenhos. E apesar de desenhar tudo, os traços que mostram a anatomia humana são as características mais fortes da identidade do artista. W.G., que sempre gostou dos desenhos feitos com lápis grafite e de fotografias em preto e branco, levou a paixão para as paredes, dando um tom nostálgico às suas personagens. “A cidade impõe o seu jeito, ela vai se modernizando, ela vai se transformando, cada vez ficando metrópole com mais concreto, mais asfalto. E a gente vai impondo também outra visão de estética de cidade.” O grafite intervém no cinza urbano, nas cores da moda, na visão padronizada, é um grito e aparece para quebrar toda essa lógica que camufla uma parte da sociedade, geralmente a periferia. O grafite veio para desafinar o coro dos contentes.
A cultura hip hop
W.G. dedicou a maior parte, senão toda a sua vida à Cultura Hip Hop. Por isso, ele diz que é preciso sentir o movimento e estar inserido nele. E estando lá, a pessoa sente-se responsável por manter a cultura viva. E esse esforço como um militante da cultura hip hop foi o guiando para o grafite, pois W.G também cantava Rap e procurava inspiração para o guiar no grafite e foi quando veio a ideia de pintar pessoas anônimas, dar voz aos mudos, dar visibilidade aos invisíveis, esse era e é o objetivo do artista. Para W.G., o movimento hip hop é uma cultura de rua, nasce por conta da desigualdade social, da pobreza, é a forma encontrada para criar hábitos culturais particulares daquele povo e engloba a música, dança, poesia e pintura. Além disso, ela representa o povo que está à margem e por isso está em todo o planeta e, principalmente, nos bolsões de pobreza dos centros urbanos. E das experiências com o hip hop W.G. cita o coletivo “Feito Tintas Crew” que é formado por Hudson Melo, o Magão; Wellington, o Dheck; Gardel, o Nativo; e Henrique, o DC. O coletivo trabalha intervindo na cidade, espalhando as cores do grafite e dando vida às paredes, geralmente abandonadas.
“Tu não é consumidor da cultura, tu é a cultura.” Washington Gabriel
Os rostos em Jeru
Artista é aquele que consegue enxergar além das aparências, consegue perceber a alma de um povo, imprimir os sonhos e angústias, mostrar que há vida nos lugares mais inóspitos. E o grafiteiro W.G., nascido na periferia, conhece bem a realidade local, decidiu mostrar com o que tem de melhor, o grafite, os rostos que existem em um lugar estigmatizado pela violência. O projeto intitulado Jeru “Entra pá tu ver’” em parceria com a Fundação Monsenhor Chaves teve como objetivo fazer intervenções na vila Jerusalém, zona sul de Teresina, chamando a atenção para as outras realidades marginalizadas, mostrando que existe alma, vida na periferia e que existem rostos com histórias para serem contadas. Além disso, foi uma forma de fortalecer a autoestima da própria comunidade e, segundo o grafiteiro, o impacto da pintura na comunidade é direto e verdadeiro. “Lá foi um dos projetos mais bonitos que eu fiz, não foi nem pela repercussão que ela teve na mídia, foi pela repercussão que teve dentro da comunidade”, comenta W.G..
A arte subversiva
A rua é o lugar de aprendizado para o grafiteiro, além do compartilhamento das experiências. As inspirações de W.G. vêm de vários lugares, mas o primeiro incentivo veio dos irmãos, que eram apaixonados pelos desenhos de W.G.. E o irmão mais velho do grafiteiro, William, acreditou tanto que investiu no então jovem artista, matriculou o irmão no curso de serigrafia fazendo com que W.G começasse a ganhar alguns trocados com o conhecimento adquirido. O processo criativo do grafiteiro é intuitivo e a inspiração vem da sua vivência com a realidade na qual ele está inserido. O artista de rua é um cara que se vê inquieto com o que lhe foi dado, lutando contra uma estética que lhe é imposta, fazendo da sua arte um mecanismo de intervenção no meio. E esse protesto artístico fica exposto para a cidade gerando discussões e indagações do desenho que quebra a ordem. “O grafite veio destruindo tudo, vem da rua, do mundo, vem destruindo, ocupando os espaços. Eu acho massa o grafite por causa disso, essa mudança dos valores do que é realmente arte, que ela pode estar em qualquer lugar, apreciada por qualquer pessoa. O grafite atinge todo mundo”, declara W.G..
Arte é um bagulho muito foda
A arte é um caminho, a forma encontrada para expressar a revolta diante do descaso e das várias violências nas cidades. W.G. fala da arte como algo tão integrado a sua natureza que passa a ser um sentimento, a sensação de estar bem consigo mesmo, sendo também um compromisso, uma missão de vida e, por fim, o seu sustento, o ganha-pão. A vida do artista gira em torno da arte e o grafite foi um grande motivador, uma forma de sair do ócio. Das letras escritas pelos garotos da periferia, pintando sem autorização, propondo novas estéticas e ideias, surge uma geração de artistas preocupados com a sua própria cultura, com os seus valores e resistindo ao processo de marginalização, insurgindo em todos os espaços das cidades. .“Eu me encontrei e me apaixonei muito pelo bagulho do urbano, das culturas que nascem na rua mesmo”, alega W.G. O grafiteiro se encontra inserido nesse cenário e não só defende a cultura hip hop como é parte dessa cultura. Seus grafites continuação a surgir, tingindo e rasgando o cinza citadino com uma arte que resiste, encantando nossos olhos mal-acostumados com a correria da cidade.
Contatos
http://facebook.com/wg.graffiteiro
http://instagram.com/wg.mucambo
Fotos
Vídeos
Outras fontes
http://www.revistarevestres.com.br/reves/cultura/entra-pra-tu-ver/
http://www.meionorte.com/blogs/efremribeiro/grafite-124188
Última atualização: 18/02/2018
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