Impressões sobre a obra “História de um viciado qualquer”, de Evilanne Brandão

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Alguns maços de cigarros e uma vida comum atravessada por uma única tragédia: o vício. A “História de um viciado qualquer” da escritora Evilanne Brandão é um relato autobiográfico de um personagem comum que vai vivendo, você pode se enganar com a aparente apatia por ele apresentada, mas que revela no fundo um indivíduo movido por paixões. Paixão pelo curso de letras, paixão pelo cigarro, paixão pelas funções que exerceu e paixão por Ângela, seu grande amor.

O texto é bem direto, sem enrolação, você é guiado pelas memórias do narrador de tal forma que mal percebe o passar das páginas. Evilanne escreve com muita clareza e mesmo que descreva situações do cotidiano de um personagem sem grandes qualidades, a autora consegue nos prender na narrativa. A preocupação em transmitir a mensagem não turva a fluidez da escrita.

O personagem é lançado no mundo com suas paixões que aos poucos serão afogadas na crueza da realidade, uma sociedade que não aprendeu a conviver com um viciado qualquer e que tenta a todo modo enquadrá-lo no mundo. Você sente o peso esmagador das responsabilidades abatendo um homem qualquer, um homem que apenas vive.

“Viver para mim sempre foi algo leve, simples e breve.”

E as situações vivenciadas são cronometradas pela duração do trago do cigarro. O viciado jamais negou a sua condição, pelo contrário, mostrou que o vício era apenas uma das suas características e assumiu todos os riscos da paixão-problema.

“A qualidade da minha vida era baseada em cigarros – não me julguem! Com o tempo, preferi dormir a procurar emprego.”

Sentiu o peso das expectativas sociais e continuou tranquilo. O viciado é um ser ordinário como qualquer um de nós, esperando o melhor, às vezes sem qualquer perspectiva, sem sofrer com o amanhã, sem sofrer com as consequências das próprias escolhas.

A história é feita de personagens vencedores? O que significa, de fato, vencer? São muitos os viciados tentando encontrar um lugar qualquer, um canto, um lar, uma companhia, alguém que entenda todos os seus defeitos e não julgue. Quantos tentam se inserir no mercado de trabalho e são esmagados pela carência de cargos, de vagas e de possibilidades? Quem são essas vozes que cobram?

O nosso personagem viciado foi um desses homens, malsucedido em quase todas as suas paixões, no campo profissional. Tentou fazer o que gostava, tentou fazer o que outras vozes diziam ser a fonte do sucesso e falhou em ambas as profissões. Falhou? Decerto ele lutou, dentro dos seus limites, um limite delimitado pela queima do cigarro.

O viciado se tornou um personagem autossuficiente e, mesmo imerso numa solidão que se arrasta por quase toda a narração, ele salta das páginas, se materializa e se nos causa empatia, depois de vencido todos os preconceitos. O viciado talvez nem compreenda a sua própria importância, talvez nunca saiba que o mais extraordinário não viria na próxima memória escrita, mas que ele e toda a sua trajetória, com toda a simplicidade que existe, é o que mais desperta a nossa curiosidade. Quem sabe ele não seja produto da inspiração do livro escrito pelas mãos de um tal anjo.

Não é no extraordinário que estão os feitos que compõem uma bela história e sim na forma como essa narração nos seduz.

Por: Alisson Carvalho

 

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