Miridam – Lendas Piauienses

Na tribo dos Acaroas, a beira do Rio Paraim, uma criança nascia em noite de eclipse lunar, há muitos anos. Em dias de eclipse, os índios se ocupavam em fazer todo tipo de barulho para afastar o monstro que estaria tentando devorar a Lua ou o Sol. Afastavam a criatura monstruosa para que os astros não fossem devorados e o mundo não caísse em escuridão. Porém, naquela noite, nem todo esforço dos índios estava conseguindo afastá-la. O eclipse demorou tanto até que a criança gritou o choro do seu nascimento.

Tamanho foi o choro, que o eclipse se findou. E o monstro se afastou. A tribo inteira agraciou a criança que nascia. Era uma menina, que recebeu o nome de Miridam. A salvadora da tribo e, por isso, prometida aos deuses. O pajé Piauiguara determinou, nos primeiros minutos de vida da menina, que nenhum homem poderia com ela se casar, nem ter filhos, pois uma vez prometida aos deuses, qualquer fruto de seu ventre haveria de morrer. Caso contrário, a tribo sofreria a fúria dos deuses.

Passados os anos, Miridam tornou-se uma bela jovem índia. E seu caminho cruzou com a de um jovem homem branco e ruivo. Apaixonados, se entregaram de corpo e alma numa noite de intenso luar. Porém, a vida do homem foi selada pelos guerreiros da tribo dos Acaroas – que seguiam Miridam, para protegê-la.

A índia caiu em profunda tristeza. Sofria calada e seu pesar só aumentou mais após descobrir que, fruto daquela noite de luar com o homem ruivo, estava grávida. Passou os meses seguintes escondendo a gravidez, pois sabia que seu membira – como era chamado filho na língua Tupi – acabaria como o pai. Miridam, sentindo a proximidade do parto, afastou-se da tribo e partiu para as beiras do Rio Paraim.

Foi às margens desse rio que nasceu um forte menino também ruivo. Miridam, em um ato de desespero, na tentativa de salvar a vida do membira, coloca-o em um tacho e o entrega às águas do Paraim.

Nesse instante, as águas do rio se agitaram, o céu escureceu, muita ventania se formou e uma tempestade iniciou. Os deuses pareciam mostrar a fúria pelo nascimento do filho de Miridam. Nessa confusão, uma fenda na terra se formou nas proximidades do rio e de dentro jorrou água como nunca se viu. O menino recém-nascido seguia entre a vida e a morte entre as agitadas águas do Paraim. Graças a Mãe d’Água, o membira foi salvo e levado para as profundezas da Lagoa Parnaguá – resultado da fenda que se enchera de água da terra e dos céus.

No fundo dessa lagoa, o menino sobreviveu com a Mãe d’Água. E foi nas águas da Lagoa Parnaguá onde Miridam se jogou, tempos depois, na esperança de reencontrar o seu filho. Na esperança de pôr fim ao pesar pela morte de seu único amado. Na esperança de acabar com a tristeza de viver uma vida prometida aos deuses.

Escrito por Evilanne Brandão.

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