O Vaqueiro de pé, tem ares de um vigia,
erguido no terreiro, amarrado à magia,
de um sonho fascinante, eivado de poesia…
Em palor o clarão da tarde se resume;
já começa a dançar no espaço o vaga-lume;
as estrelas no céu acenderam seu lume
até que o dia surja entre os braços da aurora.
Diáfana beleza empolga o campo a fora
e o concerto do vento está parando agora.
A noite vai tomando o coração da mata;
a gentil açucena em néctar se desata.
Apenas, no silêncio, há notas de sonata,
que os sapos, em mil sons, rouquejam sem parar,
pois têm cada vivente em meio de saudar,
mostrando aos corações um jeito de agradar…
O esplendor do luar, que mais e mais fulgura,
de prata banha inteira a máscula figura,
tão imóvel que até nos lembra uma escultura
de guerreiro lendário ou místico profeta…
É que o Vaqueiro escuta em meio à noite quieta,
sua alma que se dá a cantares de poeta…
Tem BA boca apagado o coto do cigarro;
ouve atento o cri-cri desse grilo bizarro,
cantador do gramado ou da frincha de barro,
e lhe vem à cabeça a existência suprema
de um Deus que fez o amor, que da vida é o emblema,
como a rima de luz é a essência de um poema…
Falando à Natureza, ele pergunta apenas,
por que foi que o <<Senhor>> molhou com tantas penas
as delícias do amor nas estradas terrenas?
Com que fim acordou a estranha comoção
que sente sem querer, tomar-lhe o coração
e é misto de prazer e de atribulação?!…
E Chico sabe, sim, que este amor vinga e cresce
e se o tenta esconder, tanto mais aparece
e quanto mais na sombra, então, é que floresce…
Poesia de Alvina Gameiro.
Obras:
15 contos que o destino escreveu (Conto 1970);
A Vela e o temporal (Romance e Novela 1957);
Chico Vaqueiro no meu Piauí (Poesia cordel 1971);
Contos do sertão do Piauí (Conto 1988),
Curral de serras (Romance e Novela 1980);
O Vale das Açucenas (Romance e Novela 1963);
Orfeão de sonhos (Poesia 1967).