Roberto Muniz Dias

Dono de uma escrita sensível, intensa e envolvente, Roberto Muniz conquista cada vez mais leitores com suas obras que vão desde coletânea de contos aos romances. Ele nasceu em Teresina, radicado em Brasília, mas nunca perdeu o vínculo com a terra natal. Roberto é dramaturgo, romancista, contista, poeta, mestre em Literatura pela UnB (Universidade de Brasília), é formado em Direito e integra a Comissão de Tolerância e Diversidade Sexual da 93ª Subseção de Pinheiros da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo. Já foi premiado pela Fundação Monsenhor Chaves com menção honrosa pela obra “Adeus Aleto” (2017). Publicou ainda “Um Buquê Improvisado” (2012); “O Príncipe – O Mocinho ou o Herói podem ser Gays”(2013); “Errorragia: contos, crônicas e inseguranças”(2013); ”Urânios”(2014); “A teia de Germano”(2014); “Uma cama quebrada” (2015); “Trilogia do Desejo” (2015). O escritor ganhou o prêmio Dalcídio Jurandir pelo texto teatral, inédito, “As divinas mãos de Adam” (2016). Roberto Muniz escreve com fôlego e mantém o ritmo constante, fazendo da arte mais que uma expressão de sentimentos, um instrumento comunitário e político.

“Parafraseando a Clarice Lispector, a Literatura salva da morte e a Literatura tem me salvado.” Roberto Muniz

Nome Completo: Roberto Muniz Dias

Descrição: Dramaturgo, romancista, contista e poeta

Data de Nascimento: 07/01/1976

Local de Nascimento: Teresina-PI

Os traços proibidos

As expectativas sociais que herdamos pelo contexto cultural no qual somos criados podem inibir algumas formas de expressão da criatividade, principalmente em um lugar cujo contexto pressupõe uma forma de masculinidade hegemônica e quando o fazer artístico toca em questões que vão de encontro às crenças dominantes. Pois é nesse contexto que nasce o dramaturgo Roberto Muniz. Quando criança, Roberto começou a se expressar por meio do desenho e, sem entender bem o porquê, desenhava vestidos. A arte não agradou ao pai, que tratou de tolher e impedir o filho de se expressar daquela forma. O medo e a preocupação do pai com a possibilidade de o filho não representar uma masculinidade aceita socialmente o fizeram preencher a carga horária de Roberto. Assim, o dramaturgo foi apresentado aos grandes clássicos da Literatura. Apesar de viver sob o jugo paterno e inicialmente sentindo certa repulsa pelas leituras, Roberto foi criando o gosto e certa vez, quando tentava alcançar um livro na prateleira mais alta da biblioteca do pai para retirar a fita que marcava o livro, que seria usada como pulseira, puxou a obra “A divina comédia”, que, mesmo assustando, despertou o interesse pela leitura, explorando a obra às escondidas. A obrigação de ler fez Roberto Muniz se afastar por um tempo das leituras e investir na escrita, como forma de confrontar o excesso de cuidado paterno. E foi no meio desse espaço familiar cheio de expectativas colocadas sobre seus ombros que o escritor entrou em contato com as letras.

A literatura como fuga

Foi no conforto das letras que Roberto Muniz encontrou um lugar só seu, um espaço reservado para expressar todas as suas angústias, medos, alegrias e questões existenciais. Nesse universo particular a poesia, poemas e os textos foram se manifestando e fazendo parte do dia a dia do escritor. Com a adolescência, Roberto começou a despertar e aflorar sentimentos nunca experienciados, e a literatura serviu como válvula de escape, pois foi nas páginas dos seus escritos que ele expurgou tudo que não poderia revelar por medo de ser repreendido, motivo pelo qual escondia seus escritos debaixo da cama. Foi por isso que Roberto Muniz começou a estudar inglês, para esconder o significado das suas confissões. A literatura também foi uma forma de se perceber adulto, conta o escritor, pois era por meio das letras que ele enfrentava problemas reais. Com o tempo, Roberto começou a se desafiar, sair, explorar o mundo, e disso surgiram os primeiros escritos da obra “Adeus a Aleto”, obra que conquistou Menção Honrosa pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves em 2009. Foi quando também veio a ideia de viajar, percorrendo os caminhos da personagem do livro, para viver de forma holística e completa a sexualidade, transpondo a sexualidade para uma outra geografia.

A literatura como caminho

Roberto Muniz conta que representar o universo LGBTT foi um processo espontâneo. Sua intenção era apresentar o cenário com referências positivas para a literatura LGBTT em que as personagens vivenciem uma condição diferenciada, mais digna. Nesse sentido a obra “O Príncipe – O Mocinho ou o Herói podem ser Gays”(2013) traz essa outra perspectiva, em que uma criança está experienciando o momento de descobertas e entra em contato com um livro que não julga a sua sexualidade, mas que mostra que essa experiência não é tão complexa como aparenta ser e que não precisa ser maculada com o sentimento da culpa. Um personagem LGBT no meio de tantos personagens brancos e heterossexuais faz toda a diferença na vida de quem quer dirimir as dúvidas sobre a sua sexualidade. Ainda refletindo esse assunto, Roberto desenvolveu o Projeto Literatura e diversidade sexual que levou o debate para as escolas de Manaus, Teresina, Fortaleza, Brasília e Goiânia. O projeto contemplava três oficinas, nas quais haveria uma parte introdutória em que eram apresentadas aos alunos todas as problemáticas do tema com dados reais sobre o impacto que a violência causa à comunidade LGBTT. A experiência positiva deu resultados e Roberto foi contemplado com o “16 Prêmio Cidadania em respeito à diversidade, Prêmio Educando para respeito à diversidade sexual, Prêmio Beijo Livre de direitos humanos. Prêmios que vieram para solidificar os trabalhos nessa seara. E como produto do projeto, Roberto Muniz escreveu o livro “Uma questão de jeito”, explorando a experiência de uma aluna que se assume travesti e a sua trajetória durante esse processo. O escritor desmistifica a “ideologia de gênero” e suas palavras são um alento no meio de tanta violência.

“O teatro traz vida, ele vivifica e personifica esperanças perdidas.” Roberto Muniz

A literatura dramática

Foram nas brincadeiras da infância que simulavam os espetáculos circenses e reuniam colegas e o seus irmãos, que Roberto Muniz diz já manifestar interesse pelo teatro, este o acompanha desde então, inclusive ajudando assim na sua construção como escritor e ser humano. Além disso, os leitores apontavam que os escritos de Roberto tinham uma perspectiva imagética que os remetiam ao cinema. Então, o escritor, que já era apaixonado por teatro, começou a pensar, também, no gênero dramático enveredando para a dramaturgia. Então veio a primeira peça “Uma cama quebrada” (2015) que já foi representada algumas vezes como leitura dramática. “A escrita do escritor é ingrata, é solitária, mas o teatro corporifica.”, assevera Roberto. Como autor, Roberto conta que é indescritível ver os personagens animados e personificados no palco, ou seja, ganhando vida e representados. Ele descreve a sensação de ter assistido à peça: “As divinas mãos de Adam” que foi dirigida por Emer Lavinni em São Paulo: “Eu fiquei estático, em êxtase do começo ao fim. Não consegui tirar as fotos. Aquilo de ver a personagem criar voz é fascinante, foi uma experiência muito boa.”

A escrita criativa

O escritor Roberto Muniz Dias, que inicialmente escrevia para si, uma escrita que ele próprio chama de escrita egoísta, hoje escreve de forma mais comunitária, até panfletária e política. Afinal, a obra, quando publicada, deixa de ser do autor e passa a ser do mundo, pois as pessoas se apropriam do texto se identificando com o que foi escrito e ressignificando a obra. Foram tantos os flertes com os textos de Roberto, que a obra “As divinas mãos de Adam” está na iminência de ganhar uma adaptação para o cinema. A aproximação com a Sétima Arte fez o romancista e dramaturgo se desafiar e explorar esse novo universo, adaptando um de seus diários de viagem para roteiro de cinema. Por isso, Roberto Muniz conta que o seu processo criativo, antes um ato espontâneo, foi com o tempo sendo disciplinado, afinal ele teve que pensar seus textos para o teatro e, agora, para o cinema. E revela que para escrever é preciso se isolar momentaneamente, esforço que nem sempre é compreendido pelas outras pessoas. É tanta criatividade guardada que em um ano o dramaturgo escreveu três peças teatrais. Um dos grandes pontos de mudança na vida de Roberto aconteceu no período que ele cursou o mestrado, pois foi lá que o escritor entrou em contato com as obras de diversas autoras feministas, enxergando uma outra perspectiva de mundo a partir dessas autoras. Além disso, Roberto Muniz destaca os escritores Clarice Lispector, Oscar Wilde e Virginia Woolf como grandes referencias. Já de escritor piauiense ele cita Assis Brasil, que foi a sua grande inspiração para estruturar a sua obra “Urânios”. Escrever, para Roberto Muniz, já não é um ato de fuga, mas de libertação, uma salvação. E quando se lê os textos de Roberto Muniz, é impossível se sair a mesma pessoa do lago ficcional dessa literatura envolvente.

A literatura como missão

A escrita pode ser uma ferramenta na luta pela construção de um mundo menos desigual, dar visibilidade para personagens que ficaram camuflados na literatura é dar importância para a diversidade de sujeitos que compõem a sociedade. Por isso, existe o esforço de Roberto Muniz por apresentar histórias que atendam a uma variedade de público, personagens que não estão tão distantes, que causam identificação e problematizam a sua condição no mundo. As suas obras revelam problemas e questões atuais, desejos muitas vezes incompreendidos, que já foram tabus. Dessa forma, escrever talvez seja um exercício de desmistificar um universo maculado por preconceitos. E tudo isso é construído de forma delicada, sem apelos. A obra de Roberto Muniz Dias é tanto instrutiva como intensa, alterna por vários gêneros, do romance ao conto, e a sensação é sempre de descoberta desse mundo delicado traçado pelo olhar cuidadoso do autor. Não tem como não se envolver com as histórias cujo contexto das personagens, muitas vezes marcadas por fantasmas do passado, nos fazem relembrar nossa própria condição no mundo. A escrita de Roberto Muniz é viva e envolvente.

Contatos

http://robertomunizdias.com/

http://www.facebook.com/betomwd

https://noposthumousparty.wordpress.com

Fotos

 

 

 

Vídeos

Livros

“Adeus a Aleto” (2009);

“Um Buquê Improvisado” (2012);

“O Príncipe – O Mocinho ou o Herói podem ser Gays”(2013);

“Errorragia: contos, crônicas e inseguranças”(2013);

”Urânios”(2014);

“A teia de Germano”(2014);

“Uma cama quebrada” (2015);

“Trilogia do Desejo” (2015);

“Experientia: O Teatro de Roberto Muniz Dias” (2017).

Outras fontes

http://www.benoliveira.com/2014/09/entrevista-roberto-muniz-dias-fala-sobre-escrita-intuitiva-estilo-reflexivo-livros-publicados.html

https://www.metropoles.com/entretenimento/literatura/projeto-do-escritor-roberto-muniz-dias-discute-questoes-sobre-diversidade-sexual-e-genero-em-escolas-do-brasil

 

Última atualização: 21/01/2018

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