Minha Ressurreição, de Diego Mendes Sousa

Oh! Que saudades que tenho
das águas turquesas
das praias do Piauí.

Ah, a serena brutalidade do mar,
sem sangue, sem rasgos, sem dor,
na fúria azul e salgada
da claridade solar.

Sentado na areia de pedras,
de conchas, de algas…
Eu via a alma do sol
a gritar.

Eram berros de silêncio
e de vento perdendo-se
nos olhos tristonhos
da minha face de costa,
a sussurrar as ondas,
à beira da música
divina,
das cracas
a tocar.

Evocavam outras tardes,
na rotatória da usina dos sonhos. Gaivotas passavam desiguais,
cantando presságios,
preservando as quebras
marítimas
da beleza,
nas velas derrubadas
dos barcos
a calhar.

Do outro lado não havia ilha.
Havia distância.
Havia céu.
Havia Deus.
Havia o eu,
melancólico,
lendo Casimiro
de Abreu.

Do outro lado
havia a infância
reclamando as saudades
da terra interior e
oculta
a avistar esperanças.

Oh! Carnaúbas, cajueiros, mangueiras…
O coração do tempo
é um desesperado
exilado.

Oh! Que saudades que tenho
das águas turquesas
das praias do Piauí.
Que dores! Que amores!
Que loucos ais,
a esperar as aves noturnas
depois de todos os pardais.

Poema de Diego Mendes Sousa.

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2 comments
  1. Que belo poema!, Diego, inundou-me de saudades, de reminiscências vividas, e de beleza, muita beleza!
    O mar possui, com toda a impetuosidade que lhe é própria, o poder de carregar consigo os sentimentos que nós, seres humanos possuímos também: força, poder e renovação; o vaivém de suas ondas representa muito bem o que carregamos no peito – momentos de revolta, outros de serenidade. Nos assustam e nos encantam!
    Um abraço carinhoso

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