Entre o mosaico de cores e desenhos que arrebatam os olhos de quem se depara com a magnífica obra de Eulália Pessoa, cujos traços e pinceladas extraem da memória sentimentos esquecidos e a identificação, quase que imediata, com a situação representada, há uma história que revela mais que um estilo, desnuda lembranças fossilizadas, camufladas nas camadas do tempo que somente a arte foi e é capaz de revelar. Esse é o universo subjetivo da artista plástica Eulália Pessoa, nascida no Ceará, mas radicada em Teresina desde os 3 anos de idade. Ela é formada em Nutrição pela Universidade Federal do Piauí e em Artes Visuais pelo Instituto Camilo Filho. A artista já teve suas obras expostas em Teresina e São Paulo, assim como nos países Áustria, Tailândia, China, Itália, República Dominicana. Ao redor de um artista tudo se transforma, ainda mais quando a artista em questão é a Eulália Pessoa, que fez da sua morada um oásis da arte, transformando cada micro espaço em um fragmento da sua obra. São telas, esculturas, xilogravuras, jardinagem, cerâmicas, que dão vida ao seu lar e que convivem em constante diálogo e sintonia com as fotos do cônjuge Manuel Soares, um prato cheio para qualquer olhar forasteiro.
“Arte é tudo, se eu não fosse artista eu teria que ser artista. Arte é necessidade.” Eulália Pessoa
Nome Completo: Eulália Vieira Pessoa
Descrição: Artista plástica
Data de Nascimento: 18/09/1964
Local de Nascimento: Forquilha-CE
A enciclopédia de arte
Nascida no interior do sertão cearense, Eulália Pessoa deixou a terra natal aos três anos de idade, após o falecimento de sua mãe. Criada pelos tios que se encantaram com a criança, veio morar em Teresina sob a proteção dos novos responsáveis. Eulália viveu rodeada dos livros da biblioteca particular dos tios e desse acervo seus olhos eram atraídos pela literatura de arte, adotando o livro “Galeria Delta da Pintura Universal” como o seu preferido, que contava a história da arte com ilustrações das obras dos grandes pintores, livro que conserva com carinho e cuidado até hoje. Eulália Pessoa relembra como ficava fascinada pelas obras, ela repousava o livro sobre a mesa – preservada no ateliê até os dias atuais – e passava as horas livres admirando as figuras. Seus rabiscos acompanhavam a artista por todo lado, ela rabiscava tudo e tentava entender como as obras, impressas nos livros de história, eram feitas. O primeiro vestibular de Eulália foi precedido por um teste de aptidão malsucedido em Artes, tudo porque os testes misturavam aptidões não só das artes plásticas como de percepção musical, mas a reprovação não afetou as suas certezas artísticas, só aguçou o seu desejo. A artista plástica enquanto graduanda de Nutrição aproveitou o dom para desenhar nas disciplinas que exigiam o uso de ilustrações feitas pelos próprios alunos, ela relembra como os seus cadernos eram os mais ornados da classe. Eulália Pessoa foi deixando que a arte tomasse de conta das suas outras atividades, até que não restou mais dúvidas, era aquilo que ela queria para a sua vida e essa certeza foi o pontapé inicial para se matricular no curso de Artes Visuais no Instituto Camilo Filho.
As mulheres idílicas
Quem entra no ateliê da Eulália Pessoa é imediatamente invadido pelo amálgama de cores tão presente nas telas da artista plástica. As cores contrastantes que demonstram mais que técnica, desnudam emoções e os desejos revelados em cada tela. O tracejar, delicado e minucioso, presente na maioria dos quadros da artista, expõe o cuidado e polidez das suas criações. A artista revela no brilho do olhar aquilo que enxergamos nos seus trabalhos: amor pela arte. Do nanquim à tinta acrílica, as mulheres pintadas por Eulália Pessoa são mais que um tema, uma escolha, um estilo, as mulheres contam um pouco da história da própria artista. São mulheres com o tom de pele pálido, cabelos sempre escondidos, cabeça levemente curvada e os rostos com expressões ora serena, ora triste e indefinidos, que adquire aos poucos uma forma e uma expressão. No silêncio do ateliê, sobre a mesma mesa onde lia o seu livro de artes na infância, Eulália Pessoa pincela sobre cada tela as suas memórias afetivas, tentando resgatar, por meio da arte, as lembranças da figura materna. Um fazer artístico constante, fruto de uma disciplina e uma entrega incansável, que tem como resultado a produção de três ou quatro telas pintadas ao mesmo tempo. A série “Mulheres” é o trabalho que revela o estilo da artista e a busca da sua própria história.
O Som do silêncio
Todo profissional tem o seu espaço de trabalho, o seu escritório, o seu laboratório no qual desenvolvem as suas atividades, não seria diferente com a artista plástica Eulália Pessoa, que tem uma rotina laboral intensa, o seu laboratório de experimentos artísticos, ou a sua sala de invencionices, é um local aconchegante, silencioso e confortável. É lá que a artista passa boa parte do seu tempo, seu espírito inquieto não para de criar. Eulália Pessoa tenta transformar seus sentimentos e lembranças em algo palpável, algo que possa ser sentido pelas pessoas, é no laboratório de invencionices que se materializa toda a potência criativa da artista, na calmaria do ateliê, atravessada pelo silêncio, elemento essencial do seu processo artístico, que segundo a artista, ela se conecta aos seus sentimentos mais íntimos, quando todas as distrações são deixadas de lado para dar vida às cores e é quando silenciamos que escutamos nossas emoções. Todo dia, após o ritual de regar o seu jardim, Eulália Pessoa começa a pintar, ela aproveita o tempo de secagem de uma tela para pintar as outras e dessa insaciável vontade de criar acaba produzindo de três a quatro telas simultaneamente. A paixão pela arte foi o gatilho para a busca pelo aperfeiçoamento do talento, a sua rotina de criar diariamente demonstra o rigor técnico e profissionalismo, pois ser artista é um ofício e não depende apenas de inspiração. Seja no carvão, grafite, tinta óleo, entalhe em madeira, cerâmica, costura, bordado ou cozinhando a criação faz parte da vida de Eulália Pessoa.
“Eu sou uma artista porque minha alma é inquieta ou minha alma é inquieta porque eu sou uma artista.” Eulália Pessoa
Reminiscências materna
A obra de Eulália Pessoa é um mergulho no imaginário da artista plástica, que foi construindo uma identidade artística saindo da abstração para a figuração, seguindo um caminho diferente da maioria dos pintores. Eulália Pessoa foi percebendo que a sua série “Mulheres”, era, e é, uma tentativa de resgate da figura materna. Eulália é filha de agricultores, enquanto o pai cuidava da roça a mãe cuidava das tarefas domésticas. A mãe da artista faleceu quando ela tinha três anos de idade, fato que marcou a sua vida e, consequentemente, a sua arte. Não é por menos que a mãe é um dos elementos que virou a matéria prima para a inspiração das suas telas, sem perceber a artista foi tentando se aproximar das lembranças mais longínquas da infância. A fisionomia da série “Mulheres” pintadas por Eulália Pessoa começou a ganhar uma forma mais precisa, principalmente quando Eulália Pessoa entrou em contato com as roupas da mãe guardada por anos pelo pai. A artista conta o quão impactante foi encontrar as peças de roupas produzidas pela mãe, pois as peças lembravam muito as estampas pintadas nas suas telas. E foi buscando informações sobre o seu passado que ela pôde entender melhor a sua própria arte, assim como a sua arte ajudou a se aproximar desse passado perdido no labirinto da mente, camuflado pelo tempo. “Comecei a pintar a minha mãe porque eu acho que ela me acalma, ela me deixa mais sossegada”, diz Eulália Pessoa. A artista tenta imaginar e idealizar a figura materna, sua arte é um exercício de projeção da sua própria história, imprimindo muito de si nessas telas, por isso as “Mulheres”, que ganham vida na tela, não têm um rosto detalhado ou com nitidez, são pintadas em tons marrom e cores mais suaves. As únicas lembranças que restaram da mãe são as roupas, sem outros registros e sem nunca ter visto uma fotografia da mãe, Eulália Pessoa imagina e tenta recriar a sua história por meio da arte.
Fora do ateliê
O cuidado de Eulália Pessoa se estende para além do processo de produção das telas, guardadas com muito carinho, a artista conta como é apegada às telas da série “Mulheres”. Perceber o encantamento e envolvimento das pessoas com as obras é um dos prazeres que, segundo a artista, mais emocionam. Eulália gosta quando o seu trabalho faz as pessoas esquecerem, nem que seja por alguns segundos, do caos urbano e de todos os problemas que acometem o apreciador da obra. As obras da artista já circularam pela cidade, ultrapassaram as fronteiras do estado e do país. Eulália Pessoa já teve a obra exposta na exposição Coletiva Instituto Camilo Filho (2004, 2005 e 2006), na exposição coletiva “Construção – Novos Artistas Reunidos” e exposição Coletiva de Grupo de Novos Artistas na Casa da Cultura (2006), exposição individual “Caminhos” (2007), além da Exposição no XII CIAB – Circuito Internacional de Arte Brasileira que aconteceu na Áustria, China e Tailândia (2007). Apresentou as suas telas também na Exposição Coletiva no Espaço Cultural São Francisco “Todas as cores de Teresina” (2007), Exposição coletiva no Festival Artes de Março (2008), exposição individual “Mulher de fases” (2013) e outra vez na Exposição no XVIII CIAB – Circuito Internacional de Arte Brasileira na Tunísia, Itália e República Dominicana (2013).
Implosão de sentimentos
As obras de Eulália Pessoa são um chamado para uma pausa, um momento de introspecção, quando o observador é convidado a conhecer um pouco da artista por meio da arte. Dos grandes nomes que influenciaram os traços da artista, temos Botticelli, Modigliani, Klimt, Van Gogh com as suas particularidades e por expressarem as suas tormentas por meio da arte. A disciplina e profissionalismo são característica de quem fez da arte o seu ofício. É tanto sentimento querendo se expressar que a criação não se esgota, mas permeado pelas emoções existe o rigor técnico e respeito pela arte. Eulália imergiu tanto na arte que se tornou parte da sua própria obra. Hoje ela afirma que o seu caminho é a arte, pois a arte é tudo, é necessidade. ”Na verdade o que faço é meu trabalho, carregado de minha vivência e emoções. Como artista, penso que isso ajude a outras pessoas com suas próprias vidas, trazendo sensações boas. Tenho essa vontade e esse espírito, que é desejar constantemente que a vida das pessoas melhore sempre.”
Contatos
(86) 3233-1489 / 9989-3115
Fotos
Vídeos
Exposições
Exposição Coletiva Instituto Camilo Filho – Teresina – PI (2004). Exposição coletiva dos trabalhos dos alunos do Instituto Camilo Filho, realizada no Espaço Cultural Viva Arte.
Exposição Coletiva Instituto Camilo Filho – Teresina – PI (2005). Exposição coletiva dos trabalhos dos alunos do Instituto Camilo Filho, realizada na Casa da Cultura.
Exposição Salão Municipal de Artes Plásticas Teresina – PI. Exposição e participação do concurso Salão municipal de Artes Plásticas realizada na Casa da Cultura.
Exposição Coletiva Instituto Camilo Filho – Teresina – PI (2006). Exposição coletiva dos trabalhos dos alunos do Instituto Camilo Filho, realizada no SESC Teresina.
Exposição coletiva “Construção – Novos Artistas Reunidos” Teresina – PI (2006). Exposição coletiva de grupo de novos artistas, realizada na Casa da Cultura de Teresina.
Exposição individual “Caminhos” Teresina – PI (2007). Exposição individual no Espaço Saúde Teresina Shopping.
Exposição no XII CIAB – Circuito Internacional de Arte Brasileira que aconteceu na Áustria (Bregenz, de 20 a 26 de maio de 2007), China (Pequim, de 28 de maio a 06 de junho de 2007) e Tailândia (Bangkok, de 08 a 17 de junho de 2007) e com encerramento em 21 de julho de 2007, no MASP em São Paulo.
Exposição Coletiva no Espaço Cultural São Francisco “Todas as cores de Teresina” – Teresina – PI (2007)
Exposição Coletiva no Espaço Cultural São Francisco “Desenhos sobre Fundo Vermelho” – Teresina – PI.
Exposição coletiva no Festival Artes de Março (2008), no Teresina Shopping.
Exposição individual “Mulher de fases” Teresina – PI (2013), no restaurante Coco Bambu.
Exposição no XVIII CIAB – Circuito Internacional de Arte Brasileira na Tunísia (Túnis, de 6 a 13 de setembro, Clube Culturel Tahar Haddad), Itália (Roma, de 16 a 22 de setembro, Trittico Art Museum) e República Dominicana (Santo Domingo, de 26 de setembro a 5 de outubro, Museo Del Hombre Dominicano em 2013).
Outras fontes
Última atualização: 06/01/2018
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