A poetisa, escritora, pintora, contista, romancista e professora Alvina Gameiro é natural de Oeiras-PI, nasceu em 1917 e faleceu em Brasília em 1999. É formada em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, depois graduou-se pela Universidade de Colúmbia, NY – USA. Já ministrou aulas de inglês e português no Piauí, Maranhão e Ceará. Morou em Teresina, Fortaleza, Brasília e Los Angeles. Já ganhou prêmios. Publicou livros de contos, romance, poesia de cordel romance e novela. 15 contos que o destino escreveu (1970); A Vela e o temporal (1957), Chico Vaqueiro no meu Piauí (1971); Contos do sertão do Piauí (1988), Curral de serras (1980); O Vale das Açucenas (1963). Foi homenageada no 7º Salão do Livro do Piauí (Salipi). Alvina Gameiro fez parte dos imortais da Academia Piauiense de Letras, ocupando a Cadeira 14 – patrono: Cônego Raimundo Alves da Fonseca.
“O Vaqueiro de pé, tem ares de um vigia,
erguido no terreiro, amarrado à magia,
de um sonho fascinante, eivado de poesia…” Alvina Gameiro
Nome Completo: Alvina Fernandes Gameiro
Descrição: Escritora, artista plástica e professora
Data de Nascimento: 10/11/1917
Local de Nascimento: Oeiras-PI
Data de falecimento: 13/08/1999
Local de falecimento: Brasília-DF
A infância
Filha de Antônio Pedro Fernandes e Vitória Fernandes, Alvina Fernandes Gameiro era uma das cinco filhas do casal. O pai, funileiro português, que tinha prestígio na sua área, chegou no Brasil antes da 1ª Guerra, seguiu para Belém e depois foi contratado pelo governo do Piauí para montar máquinas de fabricação de laticínios. Ele viveu trinta anos em Teresina, ajudou tanto os pobres e necessitados que na sua morte houve grande comoção pelas ruas da cidade. Segundo Moura Lima, A. Tito Filho conta que ao entardecer o pai de Alvina reunia-se com intelectuais e artistas de várias áreas, eram escritores, juristas, historiadores, médicos, poetas, políticos e magistrados. Tais como: Esmaragdo de Freitas, Cromwell Carvalho, Mário Baptista, Higino Cunha, Celso Pinheiro, Martins Napoleão, Pedro Britto, Cristino Castelo Branco, Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves, Simplício Mendes, Benjamim Baptista, Álvaro Ferreira, Arimathéa Tito, Artur Passos e outros. Alvina cresceu nesse ambiente, rodeada por grandes pensadores.
Da sala de aula para as telas
Educada em um ambiente repleto grandes artistas e intelectuais, Alvina Gameiro levou consigo a influência que essas primeiras experiências tiveram na sua infância e juventude. A artista se casou com o engenheiro arquiteto Argemiro Gamero e juntos tiveram três filhos: Guttemberg, Elizabeth e Argemiro. Como educadora, Alvina Gameiro trabalhou em algumas instituições de ensino no Piauí, Ceará e Maranhão, além disso também deu aulas na Faculdade de Filosofia de São Luís. A autora arrancou elogios pela sua escrita e se destacou na literatura piauiense, influenciada pelos diferentes lugares onde morou e pela cultura lusitana de herança paterna, conseguiu unir tudo isso às suas vivências e lembranças do Piauí. “O Piauí não tem sido para mim exclusivamente, o objeto de ótica literária no campo do romance, da novela, do conto e da poesia, mas, o doce lenitivo para remir saudades e conservar-me viva e conformada na distância (GAMEIRO, 1990. p. 22).”
A arte que transborda
Alvina Gameiro foi uma estudiosa da língua portuguesa e levava esse conhecimento para a sua literatura. A artista não se restringia às letras, ela também explorou as artes plásticas, sua criatividade não tinha limites, era uma artista multifacetada que não cabia dentro de uma única expressão artística. Seus dons eram vários, segundo a pesquisadora Jurema da Silva Araújo, Alvina também se dedicou à floricultura e fruticultura, escreveu de tudo um pouco. “Sensível, amorosa, esposa dedicada, mãe amantíssima, bondade excessiva com os outros, amiga sem defeito, paciente, meiga, sempre realizou o ideal de bem servir, ao lado do cultivo da literatura e da pintura. ”, escreve A. Tito Filho em 1988 no Jornal O Dia.
“Que beleza é a pupila azul do firmamento,
lacrimejando amor, vazando o juramento
do verde que em fartura espraia, nasce e cresce
no campo, nos vergéis, na caatinga e na messe!…” Alvina Gameiro
A escrita que conquistou a crítica literária
Alvina Gameiro navegou por diversas artes, teve as mais variadas influências, na escrita demonstrou todo seu potencial com o seu profundo conhecimento da língua misturado aos traços regionalistas. Segundo Jurema da Silva Araújo, a autora navega entre a linguagem rebuscada e a linguagem coloquial com tanto domínio que encantou seus leitores e foi comparada a autores como Guimarães Rosa. Suas obras conquistaram a crítica literária, demonstrando sua ligação com as suas origens, abordou o sertão e o sertanejo de forma apaixonada e sensível. Jurema frisa isso ao resgatar as palavras de Elenice Nery: “O nome Alvina Gameiro pode ser associado às narrativas que versam sobre a cultura sertaneja, principalmente com as obras Curral de Serras, Chico Vaqueiro e os Contos dos sertões do Piauí. Sua produção abarca uma dimensão estética e cultural que não se ajusta ao modelo de uma única escola literária. ”
Obstáculos da época
As artes sempre enfrentaram obstáculos, muitos artistas conhecidos atualmente só foram reconhecidos e valorizados postumamente, essa é uma realidade que ultrapassa o tempo, fronteiras geográficas e atinge todas as camadas sociais. Para as mulheres, que tiveram que conquistar os seus direitos, essas dificuldades só se agravam, afinal eram proibidas de ler, de escrever, de estudar, etc. A representação feminina na literatura foi uma conquista e mesmo quando escreviam tinham que lutar contra o apagamento dentro do campo da literatura, dominada pelos homens. Com Alvina Gameiro não foi diferente, ela enfrentou as mesmas dificuldades que as mulheres enfrentaram na época, colocando na sua escrita os elementos da educação feminina e conquistando a crítica com a sua escrita. Jurema da Silva escreve que alguns contos da escritora Alvina Gameiro foram utilizados como roteiro para o programa de TV “Dois na Berlinda” da TV Ceará.
Um olhar cuidadoso sobre o sertão
Alvina Gameiro mergulhou fundo nas pesquisas para construir a sua obra, fez observações cuidadosas para construir o repertório linguístico das suas personagens estudando a linguagem e a comunicação das pessoas. A escritora está entre os grandes nomes da literatura piauiense, conquistou o seu público, levou para Brasília as lembranças de sua terra natal e fez disso um dos elementos fortes na sua escrita. No romance “Curral das Serras” a escritora conquistou a crítica literária, despertando inúmeros elogios como o do escritor Luís Mendes Ribeiro Gonçalves: “Curral de Serras, a obra da escritora piauiense Alvina Gameiro, desperta estudo meticuloso e sério. Disse antes e confirmo agora, convicto de que a tenho como um marco na literatura do Nordeste. Lembrará no presente a língua que os camponeses herdaram e conservaram; servirá no futuro, com o desenvolvimento cultural, de termo da comparação de uma fase passada. E, ao mesmo tempo, com substância, como romance, ainda como louvável demonstração de capacidade de observar, conhecer, coordenar e dar vida ao mundo imaginado.”
Alguns Poemas
CHICO VAQUEIRO DO MEU PIAUÍ
Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1971
VI
O Vaqueiro de pé, tem ares de um vigia,
erguido no terreiro, amarrado à magia,
de um sonho fascinante, eivado de poesia…
Em palor o clarão da tarde se resume;
já começa a dançar no espaço o vaga-lume;
as estrelas no céu acenderam seu lume
até que o dia surja entre os braços da aurora.
Diáfana beleza empolga o campo a fora
e o concerto do vento está parando agora.
A noite vai tomando o coração da mata;
a gentil açucena em néctar se desata.
Apenas, no silêncio, há notas de sonata,
que os sapos, em mil sons, rouquejam sem parar,
pois têm cada vivente em meio de saudar,
mostrando aos corações um jeito de agradar…
O esplendor do luar, que mais e mais fulgura,
de prata banha inteira a máscula figura,
tão imóvel que até nos lembra uma escultura
de guerreiro lendário ou místico profeta…
É que o Vaqueiro escuta em meio à noite quieta,
sua alma que se dá a cantares de poeta…
Tem BA boca apagado o coto do cigarro;
ouve atento o cri-cri desse grilo bizarro,
cantador do gramado ou da frincha de barro,
e lhe vem à cabeça a existência suprema
de um Deus que fez o amor, que da vida é o emblema,
como a rima de luz é a essência de um poema…
Falando à Natureza, ele pergunta apenas,
por que foi que o <<Senhor>> molhou com tantas penas
as delícias do amor nas estradas terrenas?
Com que fim acordou a estranha comoção
que sente sem querer, tomar-lhe o coração
e é misto de prazer e de atribulação?!…
E Chico sabe, sim, que este amor vinga e cresce
e se o tenta esconder, tanto mais aparece
e quanto mais na sombra, então, é que floresce…
XI
Quando o inverno chegou, alastrou-se a fartura;
o campo se cobriu inteiro de verdura,
e a chuva que fecunda a terra e a planta cria,
no peito pastoril, desabrocha a alegria.
E chove sem parar, e chove noite e dia.
a lavoura crescida ao toque da invernia,
rebenta em floração, e os imensos trançados
cobrem de jitirana as cercas dos roçados.
Emboneca-se o milho, o arrozal cacheia,
e de grandes melões a roça se faz cheia,
maxixe e melancia estendem cabeleiras
na estrada que ficou entre os seios das leiras.
Os rio colossais a essa hora já transbordam
sobre várzeas sem fim, onde as reses engordam.
Há lagoas brilhando entre o verde capim,
e reúnem-se ali, em perene festim,
comendo a trabalhar, pássaros ribeirinhos,
para o ninho fazer e esperar os filhinhos,
mostrando, na lição, a sábia Natureza
que antes da geração se faz o abrigo e a mesa.
Na alcatifa do campo há milhares de flores
desiguais em tamanho, em feitio e nas cores;
é a toalha pintada em estilo divino,
a dizer o <<Senhor>>, na grandeza do ensino,
que não fez distinção semeando os engodos,
no banquete do mundo onde o assento é de todos,
e do néctar do amor, que é o pólen da criação,
Deus serviu a toda a alma um brinde de emoção.
Que beleza é a pupila azul do firmamento,
lacrimejando amor, vazando o juramento
do verde que em fartura espraia, nasce e cresce
no campo, nos vergéis, na caatinga e na messe!…
XIV
E junho veio enfim, e como ele a moagem,
o ruído do engenho e as cheirosas tachadas.
E junho veio enfim, concedendo a hospedagem
aos que costumam vir brindar as vaquejadas.
Convidam-se ao redor, os vizinhos amigos,
e os vaqueiros que vêm testar a valentia.
Agregados se dão ao preparo de abrigos
Que vão dar cobertura aos heróis da porfia…
Entrega-se à alegria o povo da Fazenda.
Há latidos de cães no paio da morada
e os homens conversando, enquanto armam a tenda,
põem-se a rememorar casos de vaquejada.
Adiante, esfolam bois para fazer tassalhos
e o machado golpeia, enquanto o facão talha.
Na cozinha, onde alguém resmuninha entre ralhos,
rude não de pilão, sobre a paçoca, malha.
E do forno de barro, arrastam cinza e brasa
para enfiar ali, muitas flandres de bolo:
cariri, caridade, e os sequilhos de casa,
pamonha, manauê, a peta, o engana-tolo.
Visitas da cidade os carros vêm trazer.
Chega o compadre branco e também chega o preto,
que as honras têm iguais no trato a receber,
e a carne vai servir aos dois no mesmo espeto.
Feliz o fazendeiro, exige na festança
tudo que há de melhor, fartura sem rival,
porque sempre viveu e vive na abastança,
que tributar desvelo é dom patriarcal.
E junho se derrama, alegrando as Fazenda
como o dinheiro do gado após a apartação,
transportando o Divino, a colher oferendas,
trazendo o boi-bumbá na festa de São João.
Fotos
Livros
15 contos que o destino escreveu (Conto 1970);
A Vela e o temporal (Romance e Novela 1957);
Chico Vaqueiro no meu Piauí (Poesia cordel 1971);
Contos do sertão do Piauí (Conto 1988),
Curral de serras (Romance e Novela 1980);
O Vale das Açucenas (Romance e Novela 1963);
Orfeão de sonhos (Poesia 1967).
Outras fontes
ARAÚJO, Jurema da Silva. Itinerário de gênero e poder na ficção de Alvina Gameiro. 2013.
http://acervoatitofilho1.blogspot.com.br/2010/12/alvina-de-novo.html
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=1617&cat=Ensaios&vinda=S
https://pontaria.wordpress.com/2009/06/17/alvina-gameiro/
https://180graus.com/geral/mestranda-da-uespi-pesquisa-obra-da-escritora-alvina-gameiro
http://www.anenet.com.br/alvina-gameiro/
http://repositorio.ufpi.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/231/Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf?sequence=1
Última atualização: 24/12/2017
Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.
Li a Vela e o Temporal na faculdade. Nunca mais esqueci. Era um livro emprestado. Hoje ando em busca e não encontro.
Esse livro marcou minha vida.