Benício Bem sempre foi uma pessoa imersa no seu escudo de alegria e muito jogo de cintura, desviando dos preconceitos expressos e camuflados, Benício é a pura resistência, uma das belas vozes nascidas no Piauí, para nossa sorte. Natural de Piripiri, artista por excelência, fez da música a sua ferramenta mais forte contra as injustiças da sociedade, tudo com muita leveza. Seja cantando ou compondo as suas músicas ou paródias o resultado é o carinho do público. Benício permanece firme, sempre se desviando dos “coiós” do mundo. A beleza da música de Benício está para além do conjunto entre letra e melodia, vem da sua alma artística. A música de Benício encantou todo o Piauí, tem a autoria da aclamada “Esmalte Velho”, já cantou nas bandas “Os Mini-Frutos”, “Real Show”, “RC6”, “Caranguejo”, dentre outras.
“O que eu consegui foi através da música, a música foi a porta aberta da minha vida, foi a porta aberta da minha estrada, ela foi a estrada que eu escolhi para seguir, ainda que seja com muita dificuldade. Foi através da música que eu consegui muitos amigos, que eu consegui algum respaldo como pessoa.” Benício Bem
Nome Completo: Benício Bem Alves dos Santos Neto
Tipos de arte: Música, cantora e compositora
Data de Nascimento: 17/01/1978
Local de Nascimento: Piripiri-PI
A roda de cantoria
De origem humilde, nascida lá na zona rural do Município de Piripiri, no povoado chamado Poção, Benício Bem viveu uma infância regada de muita arte. Afirmando ser de uma família admiradora da música, porém sem formação musical, foi aprendendo cedo a gostar da música. A mãe, Antônia Benício, sem nenhum estudo, tinha um ouvido apurado para o canto, sabia dizer se a pessoa estava afinada ou não. Já o pai, apaixonado pelo cordel, contos e causos populares entretinha a família com as suas toadas e histórias cantadas durante a noite, como era o costume. Benício rememora nos tempos escolares existia muita liberdade de tal forma que o que lhe alfabetizou mesmo foram os cordéis da coleção do seu pai. “Paralelo a essa liberdade escolar tinha também os cordéis do papai que eu lia e dia de domingo eu cantava para ele.” Essa experiência educou os seus ouvidos, preparando-a para a música que era o elemento presente na casa, trazido inclusive pelos visitantes.
Uma parada para a cantoria
O vaivém de pessoas, andarilhos, vendedores, ciganos e todo tipo de gente trazendo conhecimentos, histórias, lembranças, roupas e objetos diversificados movimentava o povoado e, consequentemente, a casa de Benício Bem. “A casa do papai era uma casa de interior grande e sempre chegavam aqueles visitantes, andarilhos, ciganos, tocadores”, relembra Benício Bem. Nessas ocasiões eles sentavam-se todos à porta e faziam a festa com muita música e com as rabecas dos ciganos, alguns dos quais se hospedavam na casa do pai de Benício. Nessa mistura de culturas e referências, Benício conta que também escutava também Roque Moreira na rádio. Ao contrário do que se pensa, Benício não tem ascendência cigana, mas o contato com tanta gente marcou a sua infância, além disso destaca o cordel do “Pavão Misterioso” e a música “Triste Partida” cantada na voz de Luiz Gonzaga.
Enrolou-se na música e por lá ficou
Benício não leva desafio para casa, vai lá e mostra para que veio. A primeira composição de Benício Bem veio na forma de convite ainda quando era estudante, em 1992, a diretora pediu que Benício participasse do Festival de Música Estudantil de Piripiri e que trouxesse o prêmio para a escola, assim fê-la, ganhou o festival com a música “A destruição do ecossistema” usando como recendência a ECO-92. A partir daquele momento, Benício relembra que as pessoas se convenceram do seu talento, os donos das bandas passaram a enxergar o seu potencial. A busca por um emprego levou Benício a perseguir o sonho de cantar e o convite veio endereçado pela sua mãe que recebeu em sua casa um baterista de uma banda, o rapaz tinha ido procurar Benício, não tardou muito para que a voz de Benício passasse a compor o conjunto da banda. Na primeira apresentação, Benício, sem familiaridade com o equipamento eletrônico, dançou tanto que na movimentação acabou enrolando-se toda com o fio do microfone, sua estreia foi muito engraçada, relata.
“A vida sem a arte seria preto-e-branco.” Benício Bem
A busca pela identidade
Benício teve uma vida familiar bem saudável, nunca questionaram a sua sexualidade, os seus pais e irmãos sempre a respeitaram muito. Naquele tempo Benício se vestia com as roupas que convencionalmente são consideradas masculinas, só quando partiu para o mundo do canto, especificamente quando conheceu Gipsy Kings, foi que assumiu uma nova identidade visual. E para chegar na forma que tem hoje foi um processo lento, quase imperceptível, pois no começo os donos das bandas decidiam sobre a vestimenta a ser usada assim como sobre a música a ser cantada. A rigidez era o que impedia Benício de se libertar, coisa que mudou quando conheceu a banda Gipsy Kings e o estilo deles. “Quando eu dei por mim as minhas roupas já estavam todas modificadas, eu já tinha deixado o meu cabelo crescer, as minhas coisas já estavam todas modificadas, foi um processo lento, mas natural.” As roupas e os acessórios de Benício são cheios de significados, todas costuradas pela Dora, uma parceria que dura aproximadamente dez anos.
“Eu fui alfabetizada cantando os cordéis do papai. ” Benício Bem
Rindo e desviando dos coiós
Sempre independente, Benício Bem partiu para a carreira solo, além de paixão a música foi e é o seu ofício. E com 15 anos Benício já morava sozinha. Muitas pessoas foram importantes na sua vida e na sua carreira, seria impossível citar tanta gente, por isso Benício destaca o incentivo dado pelos seus pais, seus irmãos, Carlos Anchieta, Amauri Jucá, Patrícia Mellodi, João Cláudio Moreno e o João Carlos Sousa (que fez algumas músicas e paródias com Benício). “Eu devo muito aos meus amigos. Sempre que me sinto desencorajada eu procuro conversar com eles porque eu sinto que eu me reenergizo”, relata Benício. Sua admiração pela cultura egípcia, indiana e cigana é visível, está exposta na indumentária e nos seus acessórios. Benício conta que os obstáculos são inúmeros, não só por ser uma mulher trans, mas pela leitura equivocada que algumas pessoas fazem do seu vestuário ou associando seu trabalho a algo religioso. “Enquanto Poseidon violar a Medusa a gente segue trocando seis por meia dúzia.” As violências vivenciadas são muitas, mas isso não é suficiente para abalar, as dores e experiências acabam virando a principal inspiração para as músicas de Benício e é aí que entra o humor, cuja função seria a de abrandar os temas pesados. “O humor é uma maneira de você abordar determinados assuntos delicados, assuntos chatos. Aí você tocando com o humor as pessoas te escutam. O humor suaviza a aspereza da realidade”, diz Benício.
A força e a alegria na voz
Benício Bem é puro respeito, sempre tratando de assuntos delicados com muita leveza e humor, com apresentações que seduzem a plateia. Suas músicas contam situações reais, situações vivenciadas no dia a dia, apesar do riso Benício não se considera humorista, a sua arte é a sua maior arma. E ser artista não é fácil, é fazer milagres diariamente, e mesmo com a batalha, a falta de reconhecimento e dificuldades enfrentadas Benício Bem revela a gratidão pelas conquistas que a música lhe proporcionou. Todas as suas cores fazem parte da sua arte e a esperança são os grandes combustíveis para Benício, ainda há muita luta, declara. Todo artista sonha com o respeito, o reconhecimento, ser valorizado pelo seu trabalho e, segundo Benício, esse foi o caminho escolhido e mesmo com os percalços foi onde consolidou o seu nome. Benício é muita simpatia, é pura resistência e muita alegria. Todo artista precisa viver.
Contatos
http://www.instagram.com/beniciobem
http://www.youtube.com/channel/UCKzmVs_J2eOaMPq9zYstDFw
+55 86 998877-4909
Fotos
Vídeos
Algumas Bandas
Banda Mini-frutos
Banda RC6
Banda Caranguejo
Banda Real Show
Outras fontes
http://cidadeverde.com/caravana25/caravana25_txt.php?id=34117
Última atualização: 05/11/2017
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