O corpo é produto, é tudo, é onde materializamos conceitos, é a manifestação dos preceitos. Tanto que nele imprimimos regras, tatuamos proibições, negamos, claro, os próprios instintos. O corpo é modelado, puro amontoado de ideias. O corpo foi esquartejado, matematizado. O corpo é subversivo, amaldiçoamos o sexo, mecanizamos a vida, fugimos e fingimos sentidos. E mesmo assim é um produto, uma ferramenta criada para produção. O corpo faber só convém se for servil, aprende a dominar o mundo, é técnico, pragmático, comunicativo e não conhece a política, não se importa com a vida. O corpo é especialista. O corpo é um caçador da felicidade tentando preencher o tonel das Danaides. E vive sem mergulhar, sempre na superfície, querendo se encontrar. Escravo eterno dos ponteiros, nunca aprendeu que o vazio é seu próprio lar.