O notável piauiense Marcelo Evelin é um dos maiores nomes da dança contemporânea brasileira, além de coreógrafo, pesquisador, professor e intérprete. Viveu durante 20 anos na Europa, tendo passado pelas cidades de Paris (1986), Amsterdam(1987), e Alemanha(1988), onde estagiou sob a direção da celebrada coreógrafa alemã Pina Bausch. Em 1989, Marcelo iniciou sua carreira como coreógrafo profissional, e de lá para cá já assinou mais de 30 peças, apresentadas ao redor do mundo. O premiado coreógrafo, retornou ao Brasil em 2006, quando fundou o Núcleo do Dirceu (Teresina-PI), um coletivo de artistas pesquisadores das artes cênicas contemporâneas. Atualmente, Evelin coordena os trabalhos no “Campo”, localizado no Bairro São João (Teresina-PI), que segundo ele é um espaço para se pensar, e fazer a arte.
Nome Completo: Marcelo Evelin
Descrição: Coreógrafo, pesquisador, professor e intérprete
Data de Nascimento: 24/05
Local de Nascimento: Teresina-PI
A reviravolta
A reviravolta na vida de Marcelo Evelin começou em 1980, quando ele partiu de Teresina para o Rio de Janeiro com o objetivo de prestar vestibular para Jornalismo, curso que não chegou a concluir. Nesse meio tempo, ele mergulhou profundamente no universo da dança e do teatro, participando de alguns espetáculos infantis, ainda na capital carioca. Em 1984, Evelin desembarcou em São Paulo, nessa época ele se dividia entre suas aulas de dança e a apresentações do espetáculo “Porcos com asas”, com a Cia Lanaveva. Foi em meio a essa correria que Marcelo recebeu o convite para participar do espetáculo “Te amo Amazônia”, representando o personagem Curupira, mas não contente em atuar, Marcelo se envolveu na montagem coreográfica da peça, que recebeu os prêmios: Mambembe, Prêmio do Estado de São Paulo e prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). A partir daí, nasceu em Marcelo o desejo de aprimorar sua arte, o que o levou a viajar para o exterior com o objetivo de estudar dança e coreografia em Paris (FR).
Os projetos
Desde 1989, ano em que iniciou sua carreira, Evelin já colaborou em projetos que envolviam dança, teatro físico, performance, música e vídeos, em países como os Estados Unidos, Hungria e Itália. Foi com “Febril”, espetáculo que abordava de forma poética o tema AIDS, que em 1995, Marcelo chegou à Nova Iorque, e por lá passou uma temporada, foi também nesse período que desenvolveu seu solo autobiográfico “Ai, Ai, Ai”, trabalho em que expõe uma espécie de saudade da terra natal, e pelo qual levou o Prêmio de Prata das Artes na Holanda como intérprete e coreógrafo. Em 1996, Evelin fundou em colaboração com outros artistas a Demolition Incorporada, plataforma agregadora de artistas. Em 2006, o coreógrafo voltou ao Brasil para assumir a direção do Teatro Municipal João Paulo II, em Teresina, onde implantou e dirigiu até 2013 o Centro e o Núcleo de Criação do Dirceu, uma plataforma voltada para a pesquisa e desenvolvimento das artes cênicas contemporâneas.
O Núcleo de Criação
Os esforços empregados por Marcelo Evelin à frente do Núcleo de Criação do Dirceu (NCD), deram muito certo, prova disso foram os dois prêmios recebidos da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), em 2008 como Modelo em Política Pública em Dança, e em 2011 pela “Formação, difusão, produção e criação em dança”. O coreógrafo desenvolveu ainda importantes projetos durante seu período no Núcleo, entre eles, os espetáculos Bull Dancing (2006) e Matadouro (2010), que juntos com o já premiado Sertão (2003), formam a trilogia “Os Sertões”, baseado na obra de Euclides da Cunha, que narra a história de uma guerra no sertão nordestino. O espetáculo “Matadouro”, capítulo final da trilogia que reconta a Guerra de Canudos, e que segundo Evelin foi o mais difícil de ser montado por ter que criar no palco a ideia de luta, foi apresentado em Festivais na França, Holanda, Bélgica e Japão. Em parceria com o Núcleo do Dirceu, Marcelo dirigiu “1.000 Casas”, um projeto de dois anos que envolveu performances em 1000 casas na periferia do Dirceu, Teresina.
De repente tudo fica preto
O espetáculo “De repente tudo fica preto de gente”, de Marcelo Evelin, que estreou em 2012, surgiu a partir da seguinte pergunta: por que as pessoas se juntam? Foi na busca por uma resposta, que o coreógrafo resolveu estudar as questões envolvidas no fenômeno de agrupamento de indivíduos que formam uma “massa” de pessoas. A montagem é inspirada na obra “Massa e Poder”, de Elias Canetti. Ao todo, nove dançarinos, entre eles o próprio Marcelo, movem-se pelo palco, enquanto contorcem-se ritmicamente, buscando a proximidade com os demais integrantes, formando uma massa negra tão homogênea quanto singular. A ideia é justamente fazer o espectador perceber que indivíduos distintos podem se unir à procura de algo em comum, sem que pra isso precisem perder sua identidade. Evelin busca através dessa montagem causar a fricção entre os dançarinos e o público, que acompanha de perto cada movimento da apresentação. “Preto” foi contemplado com o prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna em 2011, e já foi apresentado mais de 40 vezes, com passagem pela Suíça, Coréia do Sul, e mais recentemente Alemanha, entre outros tantos lugares.
O batuque e o protesto
Foi do aprofundamento na investigação sobre a formação de “massas” que surgiu “Batucada”, espetáculo concebido para o Kunsten Festival des Arts, um dos principais festivais de arte performática da Europa, realizado em Bruxelas (Bélgica), onde aconteceu sua estreia internacional em maio de 2014. Nessa montagem, descrita por Marcelo como uma Parada-político-alegórica, 50 intérpretes de características corporais e comportamentais totalmente diferentes se unem, formando uma massa composta por diferenças, algo que Marcelo sempre defendeu integralmente. O trabalho de Marcelo e seus colaboradores é demonstrar para o público o comportamento dos indivíduos frente à necessidade de se agruparem em torno de um objetivo comum: o protesto. Reunidos em torno de uma mesma ideia, os participantes batucam, celebram, discutem as diferenças existentes nessa pequena multidão formada. A partir dos comportamentos observados, o público percebe a exposição de cada indivíduo, e como o comportamento de cada um se alinha ao do grupo. Evelin busca retratar o comportamento do indivíduo frente à contemporaneidade, tratando de questões políticas e sociais, através da arte. O espetáculo, já foi apresentado de diversas cidades da Europa, e recentemente fez parte da programação do Festival Panorama promovido pelo Museu de Artes do Rio de Janeiro (MAR).
O corpo que fala
Quem diria que a dança poderia impactar tão significativamente uma comunidade? Quem diria que o corpo poderia ser usado como campo de discussões políticas, provocando o surgimento de novos valores sociais tanto para quem dança quanto para quem assiste? O coreógrafo e dançarino Marcelo Evelin disse, e assim está sendo. Todas as dificuldades que ele observou na sua cidade natal, como pobreza, isolamento cultural, poucas conversas sobre uma arte transformadora, e até mesmo a resistência ao que é “diferente”, sempre foram um combustível para que Evelin prosseguisse nessa busca incessante de inovar e levantar questões relevantes. Para ele, a arte é muito mais que estética, é um espaço aberto para discutir assuntos diversos. Antes, como responsável pelo Núcleo de Criação do Dirceu, e atualmente como idealizador do Campo e da Demolition Inc. (sua plataforma de criação), Marcelo sempre quis mostrar que as coisas em Teresina e de Teresina podem ser boas, e devem ser valorizadas. E foi justamente por buscar um diálogo constante com a comunidade que Marcelo Evelin idealizou o “Campo”, que é um espaço para pensar e construir essa ideia de comunidade, usando a arte como ferramenta principal. Como parte das atividades desenvolvidas no Campo, estão o programa de residências artísticas, que oportuniza a vinda de pessoas das mais diversas partes do mundo para desenvolverem seus processos criativos aqui na nossa cidade, e sobretudo, destaca-se a abertura que Evelin proporciona para artistas locais desenvolverem seus trabalhos nesse novo espaço. O objetivo principal de Marcelo Evelin é demolir as barreiras ideológicas que impedem o crescimento cultura e social dos indivíduos, mostrando que é possível, sim, fazer arte de altíssimo nível mesmo em um Estado tão adverso como o Piauí. Evelin é, sem dúvida, um dos maiores artistas que já passaram por estas terras, com uma arte embebecida de originalidade, que causa admiração, incômodo, respeito, inquietação, orgulho. Jamais indiferença.
Contatos
http://www.demolitionincorporada.com/
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Vídeos
Espetáculos
COREÓGRAFO/BAILARINO
Matadouro (2010)
MONO (2007)
Bull Dancing (2006)
Sertão (2004)
I Figure |Escola Superior de Artes de Amsterdam (2008)
Palimpsesto |Núcleo do Dirceu (2007)
Cromwel | Núcleo do Dirceu (2008)
Exposição Primeira Pessoa | Itau Cultural (2007)
Projeto Instantâneo | Núcleo do Dirceu (2006 a 2009)
Loaded + Lus Van de Pligth (2005)
Luoghi de Solitudene + Alex Guerra (2005)
Self Service + Atelier de Coreografos (2004)
Mijn Huis/Jouw Huis + Anne Karin ten Bosch (2003)
Sacre (2002)
Thuiskomen + Anne Karin ten Bosch (2002)
Co-Incidence (2001)
C.Q.D. (2000)
Sitters (2000)
Alarma de Silêncio (1999)
DRAMATURGIA
In Solo I Live-Shapeleess States of Karla| Klara Alexova (2009)
Affluenza | Erlend Hammer Hansen
Raw + Charlotte Brathwaite (2003)
So Much To do | Meekers uitgesproken dans, Rotterdam (2003)
Outras fontes
https://marceloevelin.wordpress.com/
http://wikidanca.net/wiki/index.php/Marcelo_Evelin
https://www.demolitionincorporada.com/
http://br.rfi.fr/franca/20170704-rfi-convida-marcelo-evelin
Última atualização: 05/02/2017
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