Maurício Pokemon é um artista visual teresinense que se destaca por seus trabalhos urbanísticos altamente provocadores. O apelido de Pokemon surgiu a partir de um colega. “Eu era o menor da turma, cabeludo, e usava tênis grandão, aí um amigo começou a me chamar de Pokémon por conta disso, e o apelido pegou.”, diz ele. Maurício tem 27 anos de idade, e desde os 2007 compartilha as imagens que captura através das lentes de sua câmera. O artista define sua fotografia como “retrato”, voltada ao registro de pessoas. “É uma fotografia humanitária, documentária mesmo”, declara. Uma das características marcantes do artista é a utilização do suporte “rua” para discutir questões urbanas por meio de suas fotografias. Desenvolveu trabalhos importantes, como “Ocupe a cidade” (2012) e “Existência” (2015), com grande notoriedade para esse último, que se encontra em pleno processo de desenvolvimento. Já participou de diversas exposições dentro e fora de Teresina, de forma individual e coletiva. Seu mais recente trabalho foi “Quintal” (2016), em que ele discute questões sobre esse espaço que dá nome ao projeto. Nesse ano, em parceria com o SESC Amazônia das Artes vai circular com o “Existência”, expandindo os olhares do projeto para comunidades ribeirinhas da Amazônia Legal. Durante essa semana você conhecerá um pouco mais do trabalho desse artista.
“Eu era o menor da turma, cabeludo, e usava tênis grandão, aí um amigo começou a me chamar de Pokémon por conta disso, e o apelido pegou.” Maurício Pokemon
Nome Completo: Maurício Pokemon
Descrição: Artista visual e fotógrafo
Data de Nascimento: 04/07/1989
Local de Nascimento: Teresina-PI
Do skate à fotografia
O artista visual Maurício Pokemon iniciou sua relação com a fotografia a partir da prática do skate, que o fez conhecer e desejar registrar fotos de cenários urbanos teresinenses pouco notados no cotidiano. Desse desejo surgiu a fanzine “Skate PI” (2007), que revelava os pontos “invisíveis” da cidade. Após algum tempo fotografando e estudando sobre fotografia, Maurício ingressou no curso de jornalismo, pois naquele momento era o curso disponível em Teresina que mais se aproximava da linguagem que ele buscava. Durante o curso, surgiu a oportunidade de trabalhar como fotógrafo para um jornal de grande circulação em Teresina. Pokemon relata que nesse trabalho fotografou de tudo, o que lhe proporcionou valiosos conhecimentos de técnicas fotográficas e uma visão de mundo bem mais ampla advinda do fotojornalismo. Após pouco mais de três anos trabalhando no jornal, o artista sentiu o cansaço gerado pela rotina. E foi durante um período de férias, ao participar do Festival de Fotografias de Tiradentes-MG, que Pokemon viveu seu momento de virada na carreira. Viu trabalhos de vários artistas independentes expostos no festival, e sentiu um incômodo por não estar produzindo algo totalmente seu, então tomou a decisão de sair do jornal e iniciar trabalhos de cunho autoral.
O trabalho autoral na fotografia
Após pedir demissão do jornal para o qual trabalhava como fotojornalista, o artista visual Maurício Pokemon começou realizar trabalhos autorais. O primeiro deles foi o “Ocupe o espaço” (2012), que propunha a ocupação da cidade por meio da arte, tentando chamar a atenção da população para pontos esquecidos de Teresina. Em seguida, veio o “Barro do Poty” (2013), fruto de uma minuciosa pesquisa junto aos oleiros do bairro do Poty Velho, em Teresina-PI. O trabalho foi exposto na mostra “Abril pra foto” em Lavras-MG. Foi a partir desse momento que Pokemon começou a ter um cuidado redobrado em dar consistência ao conceito do trabalho, para em seguida chegar ao seu ápice: a foto. Para Maurício, a fotografia é a linguagem utilizada para passar uma mensagem. A sua ideia é não só mostrar uma imagem. É transformá-la em um ato político. Para ele, o campo das artes visuais é propício para esse tipo de manifestação. “O campo das artes visuais é muito aberto. Dá para brincar com tudo. É um meio que você vai utilizar para falar aquilo que você quer falar. Expor seu questionamento sobre algo. Não é ser dono da verdade. É levantar uma questão. É jogar”, declara.
Lambe-lambes para criar um diálogo com a cidade
Um dos trabalhos mais conhecidos do artista visual Maurício Pokemon é o “Existência” (2015), tanto pela linguagem utilizada em sua composição, quanto pelo forte discurso político, característica sempre presente nos trabalhos do artista. Tudo começou quando Pokemon tomou conhecimento da situação de moradores de um bairro da zona urbana de Teresina chamado Boa Esperança, que vivem um processo de resistência à desapropriação de suas casas para a construção de um projeto turístico no local. Incomodado com a situação, o artista resolveu ajudar os moradores da maneira que melhor sabia, usando imagens para evidenciar o problema. “Existência” teve uma força tão grande que conseguiu destaque em boa parte dos meios de comunicação da cidade, levando o drama dos moradores da Boa Esperança ao conhecimento do grande público, e reacendendo as discussões em torno de temas como desapropriação, urbanização e crescimento demográfico. A ferramenta escolhida para tratar da problemática foi a colagem de pôster (lambe-lambes) em paredes. Os lambes são fotos em tamanho real de moradores do Boa Esperança, e foram afixados às paredes de bairros da capital piauiense, justamente para levar a discussão para mais cantos da cidade. O projeto continua, e a ideia é transformá-lo em uma plataforma de discussão de direito à cidade.
“O campo das artes visuais é muito aberto. Dá para brincar com tudo. É um meio que você vai utilizar para falar aquilo que você quer falar. Expor seu questionamento sobre algo. Não é ser dono da verdade. É levantar uma questão. É jogar.” Maurício Pokemon
Um artista destemido
O artista visual Maurício Pokemon não tem medo de desafios. Tanto é verdade que idealizou e implementou “Poros” (2016), uma intervenção urbana na fachada do “Campo”, espaço de arte contemporânea do coreógrafo Marcelo Evelin e da produtora Regina Veloso. Para ele a parte mais complexa do projeto foi trabalhar com pôsteres de grandes proporções que ocupariam a fachada do local, e conseguir estabelecer com seu trabalho a conexão entre esse novo espaço e as comunidades vizinhas. Foi necessário um trabalho árduo de pesquisa para chegar ao resultado final, algo realmente surpreendente, que atrai os olhares do público. Saindo das ruas, Pokemon adentra o espaço privado com seu “Quintal” (2016), e redescobre esse lugar tão místico para as pessoas, onde relações se desenvolvem e memória afetivas são criadas. O projeto foi exposto como resultado da residência artística do 1º Prêmio de Criação em Artes Visuais, e surgiu a partir do “Existência” (2015). Foi levado a diante pela curiosidade de Maurício em entender o porquê de ser justamente esse o local em que as pessoas se sentiam mais confortáveis para contar suas histórias e interagir.
As referências do artista
Entre as referências do artista visual Maurício Pokemon estão nomes como o fotógrafo paulistano André Penteado, o paranaense Estevan Reder, além dos piauienses José Medeiros (fotojornalista), Antônio Quaresma (fotógrafo) e Marcelo Evelin (coreógrafo e bailarino). Pokemon é muito voltado para a pesquisa e a descoberta de novas linguagens, e por isso busca ao máximo ter contato com pessoas das mais diversas áreas, sejam da dança, da música e do cinema. Para o artista, é preciso dialogar com as outras artes e com isso quebrar as barreiras do óbvio, produzindo trabalhos cada vez mais relevantes e tragam algo de novo. Pokemon aconselha que os iniciantes no ramo das artes visuais exponham seus trabalhos para avaliação do público, e ressalta ainda a importância de aprender a ouvir críticas, e transformá-las em algo positivo. Para ele, só assim é possível haver evolução no trabalho. Focar no desenvolvimento do conceito do projeto, buscando referências em outras áreas, não só na fotografia, é outra dica valiosa dada pelo artista. Maurício diz que já se preocupou muito em trocar de câmera de tempos em tempos, hoje em dia ele prefere gastar em lentes, e investir o dinheiro que ganha em estudos de aprofundamento do trabalho. No início da carreira Maurício Pokemon usava uma câmera digital HP que ganhou de seu tio com a qual fazia as fotos de seu fanzine “Skate PI”, e uma Yashika de filme pertencente ao seu irmão. Em seguida comprou uma CANON XT, e depois uma CANON 30D. Suas mais recentes câmeras foram a 5D (12 megapixels) e a 5D MARK 2.
A sensibilidade do artista
A chamada arte engajada é definida como aquela em que os artistas se transformam em atores sociais, usando seu talento para tratar de problemáticas que afetam a sociedade. Por meio de diversas linguagens, conseguem transmitir suas ideias e seu ponto de vista acerca de muitas questões. Essa arte engajada apresenta a realidade social e as condições do tempo histórico em que é produzida, com o objetivo principal de suscitar discussões dos temas retratados. O artista visual Maurício Pokemon é adepto desse tipo de arte, e através de suas lentes captura imagens que tem o poder de gerar inquietação, reflexão, e acima de tudo, discussão, tudo de uma maneira muito saudável, claro. Seu “Existência” (2015), por exemplo, possui forte conotação de ato político. Antes dele, o “Ocupe o espaço” (2012), e bem no começo o fanzine “Skate PI” (2007) já demonstravam o quanto a sensibilidade artística de Pokemon, o fez mergulhar profundamente em questões que não necessariamente lhe diziam respeito, e transformá-las em lutas suas. Maurício consegue entregar sua mensagem, ao mostrar as fraturas expostas da cidade, buscando expandir esse conceito de espaço para além de um aglomerado de residências e demais estruturas físicas. Realiza um trabalho conciso, inteligente, engajado, e acima de tudo humano.
Contatos
http://facebook.com/MauricioPokemon
http://instagram.com/mauriciopokemon/
http://cargocollective.com/mauriciopokemon
Fotos
Vídeo
Publicações e Exposições
Fanzine “Skate PI” (2007);
“Quintal” (2016);
“Ocupe o Espaço” (2012);
“O Barro do Poty” (2013);
“Projeto Marquise” (2014);
“Projeto Livre Existência” (2015);
“Póros” (2016);
“Projeto Marquise” (2016).
Outras fontes
Última atualização: 09/04/2017
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