Nessa semana conheceremos um pouco da história de Karla Holanda de Araújo, cineasta piauiense, natural de Parnaíba, agora residindo no Rio de Janeiro. Filha de pai comerciante (já falecido) e mãe bancária aposentada, Karla é mestra em Multimeios pela Unicamp, e Doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é professora do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Suas pesquisas são voltadas para documentários, cinema de autoria feminina, produção independente e regionalização. A longo desses 25 anos de carreira, a cineasta alcançou visibilidade com alguns de seus trabalhos, sendo, inclusive, premiada em festivais por filmes como o longa Kátia (2012), e os curtas Vestígios (2002), e Riso das Flores (2004). Atualmente, lidera o Grupo de Pesquisas Documentário e Fronteiras, por meio do qual desenvolve projetos de pesquisa “Documentário de autoria feminina no Brasil” e “Cartografia do documentário Brasileiro”, tendo este último resultado no Catálogo Documentário Brasileiro.
Nome Completo: Karla Holanda
Descrição: Cineasta
Data de Nascimento:
Local de Nascimento: Parnaíba-PI
O trajeto da cineasta
A cineasta Karla Holanda morou em Parnaíba até os três anos de idade, se mudando para Floriano logo depois, pois seu pai abriu uma loja na cidade. Passados poucos meses, o pai foi assassinado, fato que reformulou o destino de toda a sua família. Aos quatro anos de idade, Karla foi morar em Teresina, onde passou a estudar. Aos quinze foi reprovada em inglês, e como castigo teve que se mudar para Fortaleza. Dividindo apartamento com irmãos e amigos, ela se deu bem no novo colégio, tirava boas notas, ganhou bolsa, se integrou no clube de vôlei, inclusive fazendo viagens para jogos. O que era castigo, transformou-se num desejo de ficar mais e mais tempo na capital cearense. Mais tarde, ainda em Fortaleza, tinha chegado a hora de Karla prestar o vestibular, e mesmo dividida entre engenharia de pesca e fonoaudiologia, ela decidiu por essa última, trabalhando durante algum tempo na área, até que aos 26 anos de idade resolveu abandonar a profissão, quando então mudou para o Rio de Janeiro, onde fez cursos de cinema, e produziu seus primeiros vídeos. Recém chegada à capital carioca, Karla Holanda dirigiu seu primeiro curta metragem, chamado “Nas veias e na Alma” (1992), com as participações de Bianca Byington e Murilo Rosa, começava aí a relação de Karla com o audiovisual.
A paixão gradual pelo cinema
A cineasta Karla Holanda confessa que o cinema foi lhe fisgando aos poucos, num processo de descoberta, que surgiu a partir da ideia de ser escritora. Segundo ela, o interesse de seus primeiros trabalhos foi mais literário que cinematográfico. Tanto é assim, que após realizar seu primeiro curta metragem, resolveu fazer uma série de curtas sobre escritores (1992-1992), o que para ela foi uma forma de estudar suas obras e sua história, e deixá-las registradas em vídeo. Foi para finalizar um desses curtas, sobre a vida e obra de Rachel de Queiroz, que em 1995, voltou à Fortaleza-CE, onde ficou até 2002. Nesse período, frequentou cursos no Instituto Dragão do Mar. Foi também nessa sua volta à capital cearense que Karla produziu “Vestígios” (2002), um misto entre o documental e o ficcional, que conta a história de dois idosos que tem que lidar com questões pertinentes à velhice, e aborda de uma forma sensível e divertida o amor na terceira idade. Considerado pela cineasta como um curta totalmente diferente dos demais, por ter um forte caráter de improviso, foi também com esse trabalho, que Karla embarcou de vez na onda cinematográfica. “Vestígios” recebeu o prêmio de Melhor documentário Santa Maria Vídeo e Cinema, no I Festival Santa Maria de Vídeo e Cinema (RS).
Uma história de sucesso
Em 2002, determinada a estudar cinema para valer, a cineasta Karla Holanda se mudou para São Paulo. Fez mestrado na Unicamp, onde desenvolveu uma pesquisa sobre documentários nordestinos, que resultou no livro “Documentário Nordestino: mapeamento, história e análise”, considerado o maior levantamento feito da produção de documentários do Nordeste no período de 1994 a 2003. Ainda em sua época de mestrado, filmou o curta-ficção “Riso das Flores” (2004), que retrata de uma maneira sensível e delicada algumas memórias da idosa Risoleta, e ao mesmo tempo propõe uma interessante reflexão sobre o envelhecimento. O curta recebeu o Prêmio Petrobrás de Cinema (2003). Em 2008, Karla voltou a morar no Rio, onde fez doutorado na Universidade Federal Fluminense, desenvolvendo pesquisa sobre o documentário brasileiro (DocTV: a produção independente na televisão). Atualmente, a cineasta lidera o Grupo de Pesquisa “Documentário e Fronteiras”, por meio do qual pesquisa o cinema feito por mulheres, tema que lhe instiga, pois para ela, há muita coisa a ser descoberta sobre esse tema, uma história do cinema paralela à história do cinema convencional para ser contada.
O primeiro longa-metragem
O primeiro longa-metragem da cineasta Karla Holanda foi “Kátia” (2012), documentário sobre Kátia Tapety, primeira travesti a ser eleita a um cargo político no Brasil, em Colônia do Piauí. Karla nos conta que “Kátia” foi um grande exercício de se relacionar com o outro, de ouvir, de interagir, de saber esperar, de abrir mão, de jogar isca, de se colocar. Sem falar no que a chacoalhou a energia, liberdade, espontaneidade, força, carisma e ambiguidade da Kátia Tapety que, sem dúvida, é uma das figuras mais especiais que já conheceu. Com sensibilidade e originalidade, Karla Holanda nos apresenta essa personagem fascinante, que, vinda de uma família tradicional de políticos do Piauí, chegou a ser proibida de sair de casa durante a infância e parte da adolescência, mas que com sua força e carisma únicos, conseguiu ser eleita vereadora por três mandatos seguidos, sendo sempre a mais votada, e entre 2004 e 2008 foi vice-prefeita de sua cidade. O filme estreou no 45º Festival de Brasília, foi selecionado na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, além de receber prêmios de Projeto vencedor do Edital da Petrobras Cultural/2010, na categoria Longa/Digital, melhor filme, fotografia e edição no VI For Rainbow e o prêmio de melhor longa na 8ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos da América do Sul.
As dificuldades
A cineasta Karla Holanda é enfática ao falar que uma das etapas mais importantes para tentar vencer as dificuldades de fazer cinema está na organização da classe de profissionais envolvida com essa arte. Para ela, é preciso que haja concisão entre os cineastas, e que estes se unam para exigir dos governos uma política do audiovisual, medida que garantirá produtividade. Holanda cita o exemplo de Pernambuco, estado em que os cineastas se uniram e garantiram editais, independente de humores políticos, sendo proporcionalmente o estado que mais produz filmes, e que possui mais filmes que se destacam nacionalmente. Karla diz que é preciso ter quantidade para aumentar a qualidade, assim ela pontua que quanto mais filmes forem feitos, mais chances de surgirem bons filmes. A cineasta ainda acredita que para vencer as barreiras que impedem o desenvolvimento cinematográfico no estado é preciso focar em três pontos: conquistar a regularidade de editais municipais e estaduais através da negociação dos cineastas com os governantes; ter um bom festival de cinema nacional ou internacional que mantenha regularidade; e ter escola de cinema, com cursos regulares.
Competência e determinação
Karla Holanda possui no currículo mais de 15 filmes, entre documentários e ficcionais, de curta e média duração, além do longa “Kátia”. Ela explica que o que lhe encanta nos curtas metragens é a capacidade de síntese que eles possuem, conseguindo contar boas histórias em um intervalo curto de tempo. Para ela, os bons “curtas” tem essa característica. As referências de Karla são as belgas Chantal Akerman e Agnés Varda e o brasileiro Eduardo Coutinho. No Piauí, suas principais referências são Torquato Neto, a quem admirava pela filmografia intensa, libertadora e experimental, e ainda o cineasta Douglas Machado, que para ela representa um exemplo de determinação, pela grande produção que tem feito. É com um olhar minucioso e sintético que Karla tem realizado todos os seus trabalhos. Atenta a cada detalhe, para não perder nenhum movimento, ela gosta do desafio de ter que se adequar às situações, adaptando o método, para buscar retratar em vídeo tudo o que cada nova história exige. Foi assim com o longa metragem “Kátia” (2012), em que ela capturou de forma honesta e sensível a vida da travesti Kátia Tapety. Não caindo na armadilha de tratar a personagem apenas por seu gênero, Karla mostra todo o contexto em que Kátia está envolvida, desenvolvendo uma forma de comunicação abrangente, que resultou em um trabalho altamente celebrado e premiado. Foi assim também em Riso das Flores (2004) e Vestígio (2002), em que exibe personagens comuns com suas histórias particulares. E é nesse cinema espontâneo, que mescla o documentário e o ficcional, que se observa a maior força da cineasta. Afinal, a simplicidade só é conseguida com muito esforço.
Contatos
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Fotos
Vídeo
https://globoplay.globo.com/v/1531238/
Filmografia
Longa
Kátia (2012).
Curta
Vestígios (2002);
Riso das Flores (2004).
Outras fontes
https://www.papodecinema.com.br/entrevistas/karla-holanda-desvenda-katia/
http://www.bitsciencia.uff.br/index.php/bits-entrevista/122-entrevista-com-karla-holanda
http://www.ebc.com.br/cultura/galeria/videos/2012/09/documentario-katia-de-karla-holanda
Última atualização: 11/03/2017
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