A artesã Raimunda Teixeira nasceu em Teresina e a sua história é um exemplo de superação. Doou-se tanto para a arte que passou a representar as artesãs do Bairro Poti Velho, a sua trajetória está diretamente relacionada à Cooperativa de Mulheres Artesãs do Poti Velho (COOPERART), onde já foi presidente, tesoureira e secretária. Já foi homenageada pela Prefeitura com a medalha do Mérito Conselheiro Saraiva em 2003 e pelo programa Piauí que trabalha, apresentado pela TV Cidade Verde. Já participou de nove edições do Piauí Sampa e esteve entre as 15 mulheres selecionadas para participar da exposição Mulher Artesã Brasileira que aconteceu em Nova Iorque nos Estados Unidos na sede da ONU. Com a cooperativa conquistaram alguns prêmios, dentre eles o primeiro lugar na Mostra Casa Piauí Design em 2007 organizada pelo SEBRAE.
“A minha paixão é do natural, gosto de valorizar a cor da cerâmica, do rústico. Eu gosto mais do simples, é minha cara, é o que eu sou.” Raimunda Teixeira
Nome Completo: Raimunda Teixeira da Silva
Descrição: Artesã
Data de Nascimento:
Local de Nascimento: Teresina-PI
Mãos que sustentam e que modelam
Raimunda Teixeira nutria um sonho desde a infância de fazer pintura em tecidos, porém não conseguiu concretizá-lo. Ela começou trabalhando nas olarias com a função de carregar tijolos, atividade que perdurou por mais de duas décadas. Aquela era a geração de renda da região. Em 1985 ela mudou de residência, foi morar onde futuramente seria o Polo de Artesanato, naquele tempo já tinha oficina de artesanato e foi nesse período que ela aprendeu a pintar na cerâmica, depois disso Raimunda começou a comprar a cerâmica com os artesãos para pintar. O negócio prosperou e a artista fez o seu próprio forno, começou a produzir suas próprias peças e a família foi se inserindo nas atividades. O artesanato passou a ser a principal fonte de renda não só da Raimunda Teixeira como de muitas mulheres e famílias da comunidade do Poti.
A porta da esperança
Foi pensando no futuro dos filhos que Raimunda Teixeira decidiu abandonar o trabalho pesado da olaria. Não só a Raimunda, como as demais artesãs moldaram o próprio destino transformando o suor em arte e ajudando a erguer não só a sua própria autoestima como a do bairro. As artesãs são convidadas para expor as suas peças na inauguração do Parque ambiental Encontro dos Rios onde começam a ter contato com o turismo. A nova experiência ajudou a fortalecer o vínculo das artesãs, além de permitir o aperfeiçoamento das técnicas com o artesanato e a pintura. Ela conta como a participação das mulheres foi significativa, principalmente com o apoio recebido pelo SEBRAE, que promoveu cursos de capacitação para as mulheres com o foco em modelagem de bijuterias em cerâmica permitindo que elas passassem a atuar de forma mais ativa no artesanato da região e ampliando os horizontes para além do ambiente doméstico ou das olarias. Depois desses cursos mais mulheres começaram a se aglutinar à Associação. “A primeira barreira foi dentro de nós mesmas. De querer mostrar que a gente tinha competência”, diz Raimunda Teixeira.
As mulheres do Poti
O contato entre a arquiteta Indira Matos com as artesãs do Poti Velho fez surgir a coleção “Mulheres do Poti”, tudo começou com a ideia da arquiteta em produzir uma coleção que foi sendo projetada aos poucos com a colaboração de ambas as partes até que apresentasse aquilo que mais representaria a identidade das mulheres artesãs. A coleção é dividida em cinco peças: a mulher religiosa, a do pescador, a da olaria, a ceramista e a das continhas (bolinhas). “Quando terminamos e colocamos as bonecas na exposição todo mundo olhava as bonecas, elas chamaram a atenção e nós ganhamos”, relembra Raimunda Teixeira. A coleção fez tanto sucesso que na primeira participação do Prêmio Top 100 de Artesanato Sebrae as cooperadas ganharam o primeiro lugar, desde então começaram a acumular premiações. A artista também representou o Piauí na exposição Mulher Artesã Brasileira que aconteceu na sede da ONU, nos Estados Unidos.
“A arte é tudo que a gente faz, é pegar um pedaço de argila e transformar usando a nossa criatividade.” Raimunda Teixeira
O artesanato na vida das mulheres
“A cooperativa veio para dar visibilidade e fortalecer o trabalho da mulher” comenta Raimunda Teixeira. A história da artesã está diretamente imbricada à história da ACEPOTI, ela fez parte da sua formação e contribui para o crescimento da associação até hoje. Hoje, enfatiza Raimunda, as mulheres possuem autonomia, contribuem com a renda da família e conquistaram a sua independência. Com a criação do Polo Cerâmico tudo ficou mais organizado, construíram locais de comercialização das obras e locais de produção. É na cooperativa que as mulheres se reúnem e também é lá que elas colocam as suas peças no forno da cooperativa que fica localizado na loja da Raimunda, pois nem todas as mulheres têm forno em suas casas. A artesã conta que é também lá na cooperativa que as obras são colocadas para exposição. “Na cooperativa a gente trabalha, compra boa parte da matéria-prima, produzimos, comercializamos todos juntos”, diz Raimunda Teixeira.
As mulheres das continhas
A responsabilidade afastou Raimunda Teixeira do trabalho como artesã, mas o amor pela pintura é tão grande que ela não conseguiu permanecer longe por muito tempo. “Eu entrei por necessidade, hoje eu sobrevivo disso, mas eu tenho amor. Parece que o barro está no meu sangue” diz a artista. Ela conta e reitera emocionada como a arte transformou a sua vida e a vida de tantas mulheres do bairro Poti Velho. As mulheres das continhas começaram fazendo bijuterias de forma tímida e o fortalecimento delas venceu a resistência dos maridos. “A Maria bolinha hoje consegue fazer colar que participa de desfile de moda”, comenta a artesã. Apesar da variedade de cores usadas na cerâmica ela confessa que gosta dos tons mais envelhecidos, leves, mais simples, semelhantes a cor da cerâmica.
A fome de aprendizado
A arte da cerâmica é uma arte bem familiar, envolve e integra a família, cada membro tem uma função no processo que é dividido em etapas. Raimunda Teixeira quis mudar a sua história por meio da arte e conseguiu ir muito além, fortaleceu a identidade das mulheres e levou o nome do bairro para onde jamais havia sonhado chegar. Conseguiu unir as mulheres e conquistar um espaço antes ocupado majoritariamente pelos homens. A artesã encontrou um caminho na arte, uniu paixão com responsabilidade e sempre teve “fome de aprendizado”. O trabalho de formiguinha foi dando lucros e hoje elas são referências no artesanato brasileiro. Raimunda Teixeira é inspiração e exemplo para as demais mulheres da cooperativa, falar em artesanato no Piauí é falar na “Raimundinha”.
Contatos
http://instagram.com/raimundateixeiradasilva
Fotos
Outras fontes
http://cidadeverde.com/noticias/195669/valor-profissional-conta-historia-de-sucesso-da-artesa-raimundinha
MORAES, Maria Dione Carvalho de; PEREIRA, Lucas Coelho “Mulheres do poty” (gênero, identidade, memória: arte cerâmica e economia da cultura).
Última atualização: 03/09/2017
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