Ele é eclético, natural de Teresina e tem a música diluída nas veias, transpira teatro e faz da arte a sua vida. O palco é o seu território. Não é por acaso que Moisés Chaves é considerado um dos maiores interpretes do Piauí. Seu talento não está restrito à música, pois ele é ator, diretor, produtor cultural, já dançou, foi contrarregras, professor, entre outras carreiras. Com essa bagagem e somando 37 anos (áudio 21:40) ininterruptos de muita dedicação e paixão Moisés Chaves já dirigiu inúmeras peças como a “O Auto da Barca do Inferno” (2002), “O Auto da Compadecida” (2014) e “Pés Inchados” (2016); já atuou como na afamada peça “Raimunda Pinto, sim Senhor”; cantou como no show “Escândalo” e fez da arte a sua morada. “A música, o teatro e a dança não podem ser dissociados, não tem como pensar um sem o outro”, relembra o artista. Essa semana conheceremos uma pequena parte da grande história de Moisés Chaves.
“Arte é algo que queima, mesmo que o calor não exista, é algo que te toca, mesmo que não tenha braços, é algo que te aça chorar e rir na mesma proporção.” Moisés Chaves
Nome Completo: Moisés Chaves
Descrição: Ator, diretor, produtor cultural e professor
Data de Nascimento: 05/09
Local de Nascimento: Teresina-PI
A infância do artista
Desde muito cedo Moisés Chaves já tinha os olhos voltados para as artes. No tempo da infância os seus pais moravam ao lado dos avôs, pois as famílias costumavam morar próximas umas das outras. Com exceção da avó paterna que era uma cozinheira conhecida e costumava tocar violão nas horas vagas, o pequeno não teve outras referências artísticas dentro da família, é o primeiro ator da estirpe e relembra a perda da sua avó com pesar e admiração. Moisés comenta como a sua formação familiar e escolar foi importante na consolidação da sua carreira, os pais poderiam ter exigido outras profissões, mas souberam reconhecer a escolha do garoto. “Graças à minha formação familiar e educacional eu sou a pessoa que sou, a arte, talvez, tenha sido o meu complemento”, comenta o artista. Ele cresceu e foi educado no momento em que grande parte das escolas fomentavam as artes e comenta como a arte chegava ao aluno: “Ao invés de ser dilatado, de aumentar, a arte foi tolhida. E também o teatro mexe muito com a sociedade, se hoje você percebe um olhar enviesado com o artista, você imagina isso há trinta anos”. Dessas artes aconteceu de forma integrada, uma complementando a outra. “Não tem como tirar uma coisa da outra, dissociar uma coisa da outra, então por causa dessa minha inquietação artística eu terminei buscando essas três linguagens praticamente em conjunto”, relembra o artista. Afinal não é por acaso que Moisés Chaves criou o gosto bem cedo pelas artes, pois foi criado no ambiente da igreja Batista que investia na formação musical dos jovens, dessa forma ele se jogou na música e começou cantando no coral da igreja com a técnica em canto Gislene Macedo. Como estudava no Centro da cidade o menino tinha que passar em frente a porta do Theatro 4 de Setembro e se imaginava entrando naquele ambiente mágico, até então desconhecido e proibido e dizia internamente: “Um dia eu quero entrar lá”. Moisés começou a explorar a dança, deixou de lado a música para se dedicar a nova atividade e um dia, transitando perto do teatro, o destino colocou-lhe no caminho de Raimundo Dias que pediu ao jovem para coreografar o espetáculo “ Passarinho de Gaiola”. Com esse trabalho o jovem bailarino viajou para o Festival de Teatro em Campo Maior e foi nesse evento que subiu ao palco pela primeira vez como ator assumindo o papel de Pica-pau, tudo graças a ausência de um dos atores e porque o bailarino conhecia todas as falas dos personagens. Assim o jovem bailarino conheceu experimentou pela primeira vez o palco na perspectiva de um ator.
A voz e interpretação na música
A junção de tanto talento fez nascer o Mocha. Sensível e gigante nos palcos, inquieto e atento, o artista comenta o poder que a música tem de ultrapassar as barreiras linguísticas e regionais, afinal a música não precisa ser entendida para tocar e emocionar o público. “Eu estou fora do sistema, o meu sol é feminino, sua lua deixa o meu sol mais radiante”, canta Moisés Chaves. Ele não hierarquiza as artes, sua empolgação e dedicação é a mesma independente do que fará no palco, pois acredita que a música, teatro e dança nasceram juntos. O interprete diz preferir ter o seu próprio estilo, ter liberdade para cantar. Já apresentou os shows: “Vou abrir o bocão” (1987), “A voz é azul” (1988), “Esperando Godard” (1989), “Agora só falta você” (1990), “Solar” (1997), “Por causa de você” (2002), “O sol feminino” (2013) e “Escândalo” (2016). Moisés já cantou as músicas de Geraldo Brito, Machado júnior, Cruz Neto, Durvalino Couto, Edvaldo Nascimento e decidiu que estava na hora de também cantar músicas das cantoras piauienses por isso começou a trabalhar as músicas das já consagradas cantoras Patrícia Mellodi, Fátima Castelo Branco e Janete Dias, como também da Laís Mara e Bia Magalhães representando a nova geração, trabalho intitulado de “O sol feminino”.
A paixão pelo teatro
Para Moisés Chaves, o palco do teatro é mágico, algo sagrado, pois é o lugar no qual todos os olhos se canalizam no ator, no grupo, na história apresentada. “Nós os artistas somos contadores de história vivendo a vida dos outros”, declara o ator. Viver do e para o teatro não é tarefa fácil, há muito investimento e dedicação. A sua história se mistura com a história do Grupo Harém de Teatro que fará 32 anos de existência e Moisés acompanhou o grupo durante 24 anos como ator. E foi a partir do seu processo como ator que Moisés mudou seu olhar sobre a arte, para ele o seu grande mestre foi o diretor Arimatan Martins. “A minha referência é o Arimatan e o Grupo Harém, a gente só se separou fisicamente, mas a alma está junta”, declara o ator. Moisés comenta a importância que o grupo teve na sua história como artista, o quanto conheceu e aprendeu, destaca também a importância do papel na peça “Raimunda Pinto, Sim Senhor” (1992) no qual dividiu o palco com Francisco Pellé Vieira e Francisco de Castro, “O Assassinado do anão do caralho grande” (2005), “O auto do Lampião no além” (1996) e destaca também “Mata-me com teus beijos” (1996). Foram inúmeros personagens e é difícil escolher o melhor, todos foram feitos com muito carinho por Moisés. “Artista tem que compartilhar”, diz o ator.
“Eu gosto do denso, gosto das coisas mais pesadas, daquilo que provoca, como se fosse uma lâmina que corta.” Moisés Chaves
As referências artísticas
Moisés Chaves destaca a importância de Arimatan Martins para o teatro piauiense e entre as suas referências estão os grandes nomes como José Afonso, Aci Campelo, Lari Salles e Lorena Campelo. “Precisamos valorizar mais os trabalhos dos nossos colegas artistas”, diz Moisés Chaves. Indica ainda o trabalho da atriz Silmara Silva que diz ter um profundo respeito, além do trabalho de Vitorino Rodrigues. “O teatro é sempre uma descoberta. Teatro não tem idade, não tem cheiro, não tem registro, teatro é só um homem olhar para o outro e aplaudir ”, diz Moisés enquanto descreve a paixão pela experiência recente de dar aulas para alunos da terceira idade. O artista também já foi produtor do Theatro 4 de Setembro durante 11 anos. Atualmente está dirigindo a peça “Pés inchados” com o Grupo de Teatro da UESPI e tem como meta aproximar cada vez mais o seu trabalho no teatro da palavra piauiense. “A coisa mais bonita existe é ver alguém brilhar no palco. Ver o ator iluminar uma plateia, não há dinheiro nenhum que pague”, desabafa Moisés Chaves. A biblioteca do artista é enriquecida com autores como Machado de Assis, Mário Faustino, Torquato Neto, Durvalino Couto, Marleide Lins, Anfrísio Castelo Branco, Edmar Oliveira, Alex Sampaio e tantos nomes que alimentam a sua curiosidade e o seu trabalho como diretor.
A arte de transformar
É preciso ter a sensibilidade aflorada, afiada e desenvolvida para perceber as nuances do mundo. Mesmo submersos na multidão, enquanto nos isolamos em nossos individualismos, a arte consegue quebrar barreiras e aproximar os distantes. Por isso “a arte é transformadora e libertadora”. Moisés Chaves é um artista compromissado com o seu público, com o mundo, e afirma que uma das funções do teatro é tocar na ferida para que ela seja curada. E quem disse que ser ator, cantor ou dançarino é algo fácil? Há muito investimento, estudo e dedicação. “Eu gosto do denso, gosto das coisas mais pesadas, daquilo que provoca, como se fosse uma lâmina que corta”, declara o artista. E toda essa intensidade convive com um coração generoso e sensível, que também se dedica para transmitir seu conhecimento teatral como professor e diretor de teatro, formando novas gerações de atores e de apaixonados pelo teatro e pela arte. Hoje, Moisés colhe os frutos de tantos anos de amor e empenho à arte: respeito, admiração e carinho dos piauienses. Sorte a nossa de saber que temos um artista que já deixou um legado tão lindo e ainda tem muito mais a contribuir com a nossa cultura e arte. Moisés é, sobretudo, inspiração de sobra para todos nós, num tem?
Contatos
http://instagram.com/moisesnuneschaves
http://moiseschaves.blogspot.com.br
Fotos
Lista de espetáculos como ator
Grupo Grumunchoa
Passarinhos De Gaiola (1983)
Nas Pegadas Do Meu Bumba (1984)
Grupo Harém
Os Dois Amores De Lampião Antes De Maria Bonita (1985)
Raimunda Jovita Na Roleta Da Vida (1985)
Grupo Fantástico
Mata-Me Com Teus Beijos, 1986
Grutepe
Flicts , A História De Uma Cor, 1987
Grupo Harém
A Farsa Do Advogado Pathelin (1987)
Raimunda Pinto, Sim Senhor (1992)
O Auto Do Lampião No Além (1996)
O Assassinato Do Anão Do Caralho Grande (2005)
Lista de espetáculos como cantor
Vou Abrir O Bocão (1987)
A Voz É Azul (1988)
Esperando Godard (1989)
Agora Só Falta Você (1990)
Solar (1997)
Por Causa De Você (2002)
O Sol Feminino (2013)
Escândalo (2016)
Lista de espetáculos como diretor de teatro
Tragédia no Apartamento (1985)
Maiêutica (1996)
Flict,S A História de uma cor ( 1998)
O Pequenino grão de areia (1999)
Édipo Rei (2000)
O Princês do Piauí (2001)
O Auto da Barca do Inferno (2002)
O Auto da Compadecida (2014)
Os Pés Inchados (2016)
As Molecagens do Vovô (2017)
O Santo Inquérito (2017)
Lista de espetáculos como produtor
Nós e Elis (1989 a 1991);
Tv Timom (1990);
Theatro 4 de Setembro (1987 a 1998);
Apcef/Pi (1994 a 1998).
Outras fontes
http://entrecultura.com.br/2016/06/24/moises-chaves-e-o-escandalo/
Última atualização: 16/07/2017
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