Essa semana a homenageada será a dramaturga, jornalista, roteirista e escritora Isis Maria Pereira de Azevedo Baião, mineira e com o coração teresinense, residiu durante 48 anos no Rio de Janeiro. Formada em jornalismo pela PUC/Rio, a dramaturga começou a explorar o teatro por meio do jornalismo e por lá ficou. É a grande referência na dramaturgia nacional, dona de um humor denso e bem refinado. Já escreveu livros como “Tresloucado gesto” (1983) e “Teatro (in) completo” (2003). Trabalhou ainda na televisão, rádio, revista. No teatro já teve textos montados como “Instituto Naque de Quedas e Rolamento” (1978), “Espelho, Espelho Meu…”, “As Bruxas Estão Soltas” (1989), “Essas Mulheres” (1996), entre outros. Isis Baião se destaca onde quer que vá, isso fica bem claro desde as suas primeiras obras e trabalhos.
“Dramaturgia pra mim é um meio de vida, é a minha sobrevivência psicológica, eu não vivo sem a dramaturgia.” Isis Baião
Nome Completo: Isis Maria Pereira Baião de Azevedo
Descrição: Dramaturga
Data de Nascimento: 26/12
Local de Nascimento: Belo Horizonte-MG
O teatro nasce com você
Isis Baião é filha de pai mineiro e mãe piauiense, viveu em Teresina durante um tempo, mas queria mesmo conhecer outras cidades, ela conta como era a sua paixão pela arte ainda na adolescência quando encomendava revistas e livros sobre teatro pelo reembolso postal ou quando ia com a sua tia, que morava no Rio de Janeiro, ao teatro. “Eu acho que têm algumas coisas que vem com você”, comenta a dramaturga. Isis relembra como entrou de vez para o mundo do teatro, tudo começou quando Sérgio Britto contou sobre um laboratório de teatro para iniciantes com duração de um ano, a jornalista aproveitou para fazer uma reportagem sobre o assunto e acabou se apaixonando pelo teatro e se integrando ao curso. Foi uma experiência bem rica, foi lá que conheceu Klauss Vianna e a contribuição dele para o corpo do ator e do teatro no Rio de Janeiro. Entre os nomes dos participantes estão: Regina Casé, Hamilton Vaz Pereira, Patrícia Travassos e Luiz Fernando Guimarães. Desse laboratório para atores saíram dramaturgos, cenógrafos, diretores e profissionais de destaque no Brasil.
Uma jornalista corajosa
Isis Baião começou a cursar Jornalismo na PUC/Rio, a carreira lhe permitiria desenvolver uma outra paixão, ser escritora, e por ironia do destino todos os trabalhos como jornalista eram sempre ligados às artes. Herdou do pai, um médico com ares de escritor, a destreza com a escrita. O talento e a habilidade com as palavras fizeram a jovem Isis ser admitida no primeiro emprego como jornalista, ainda no primeiro ano da faculdade, onde teve a oportunidade de conhecer o teatrólogo Nelson Rodrigues, temido por ser rígido com os jornalistas iniciantes, mas Isis, embora estivesse com medo, conseguiu cativar o teatrólogo e tendo a entrevista publicada na primeira página do caderno de cultura. Trabalhou na revista “O Cruzeiro”, onde fez algumas matérias sobre Londres casando uma viagem pessoal com o trabalho.
A ideia de ser dramaturga
Depois de experimentar a oficina de teatro para jovens atores percebeu que sua paixão pelo teatro não era compatível com o ofício de atriz, então a atriz Ângela Leal sugeriu à Isis que ela escrevesse para o teatro, unindo a paixão pela escrita com a paixão pelo teatro. A ideia foi acatada pela dramaturga e deu certo. “Eu comecei fazendo duas adaptações: Cândido do Voltaire e Ninguém escreve ao coronel do Gabriel García Marquez”, relembra Isis. Depois ela começa a escrever as suas próprias peças. Isis Baião destaca Nelson Rodrigues, Oswald de Andrade, Maria Adelaide e tantos nomes que seriam difíceis de serem listados. Isis Baião também não nega a paixão que tem pelos escritores latino-americanos que têm a característica de serem ultrarrealistas. A dramaturga comenta sobre o tropicalismo e a sua contribuição, onde o artista ingere tudo e depois vomita acrescentando algo seu, somos as sínteses das trocas, de tudo que absorvemos.
“Ser escritor é isso, você tem qe investir muito, João Cabral dizia que na escrita existe mais transpiração do que inspiração, ele quis dizer que existe mais trabalho do que talento.” Isis Baião
Humor para refletir
“O teatro é um trabalho de equipe”, comenta Isis Baião. A característica mais marcante da dramaturga é o humor, um humor refinado que lhe garantiu a fama de ter uma dramaturgia cruel. “A função do humor é te levar a refletir. O humor é uma das maiores provas da inteligência humana, o bom humor é crítico”, declara a dramaturga. Isis comenta que um dos fatos que marcou a sua forma de ver o mundo e a arte aconteceu no “Festival Nacional da Mulheres nas Artes”, no qual teve mais ciência do lugar da mulher na sociedade e o quão é importante a luta contra o patriarcado. E o resultado dessa experiência resultou no texto “As bruxas estão soltas” que foi escrito baseado nos depoimentos de sete mulheres. No cinema montou o texto “Um drink para Tetéia” e na televisão trabalhou durante quatro anos roteirizando o material didático em um programa de qualificação profissional.
Sobre suas obras
Em uma de suas passagens por Teresina, Isis Baião acabou estendendo sua viagem aproveitar melhor a companhia da família e nessa ocasião escutava muitas histórias sobre as particularidades da cidade. Dessa vivência foi que surgiu a peça “Clube do Leque”, até então todas as suas peças eram ambientadas em outra realidade, já “Clube do Leque” tem as características de Teresina, pois foi escrita parcialmente na cidade, tem um sotaque nordestino e fala sobre o clube de filantropas de forma bem-humorada fazendo o público se identificar com algumas situações. Isis Baião acumulou alguns prêmios na sua carreira como dramaturga, como o “Onassis International Cultural Competitions” recebido em Athenas, Grécia, em 1997. A dramaturga descreve a experiência a participação no concurso e sobre a sua obra vencedora “A casa de Penhores” que foi traduzida para o francês “Mont-de-Piété” na qual ela foi a única mulher da América Latina a ser premiada e concorreu com 1470 autores de 76 países, 60 juízes avaliaram o trabalho. A peça que tinha um conteúdo considerado ultrarrealista hoje é vista pelos leitores como algo atual. “Eu tenho uma ligação muito forte com os meus textos, eles são como se fossem meus filhos”, comenta a dramaturga sobre o carinho que tem com suas obras.
Carinho, Cuidado e Dedicação
Isis Baião chegou em uma Teresina diferente, tudo estava maior, diferente. “A cidade foi crescendo e eu não acompanhei o processo”, comenta a dramaturga com certa nostalgia. Desde que começou a escrever manteve uma qualidade exemplar na elaboração dos seus textos tanto que o seu primeiro trabalho, “Instituto Naque de quedas e rolamentos”, foi bem avaliado pela crítica carioca e foi também considerado um dos melhores da temporada. Não é por menos que a roteirista e pesquisadora Ana Lúcia Vieira de Andrade diz que a dramaturgia de Isis é marginal, ou seja, contesta o status quo. O cuidado da dramaturga é inegável, ela escreve, reescreve, coloca suas ideias na sua “chocadeira de ideias” até que estejam prontas para serem revisitadas e finalizadas. Isis publicou duas edições do seu livro “Teatro (In)Completo”, que tem esse nome porque: “eu estou viva, enquanto eu estiver viva eu estou fazendo o meu teatro, por isso ele é incompleto”. Atualmente a dramaturga se dedica às oficinas de teatro e se diz empolgada com os frutos dessas oficinas. “Para ser escritor a pessoa tem que investir muito, João Cabral dizia que na escrita existe mais transpiração do que inspiração, ele quis dizer que existe mais trabalho do que talento. Também é preciso ter um pouco de talento, afinal é uma arte difícil, mas prazerosa. Eu não vivo sem a dramaturgia”, afirma Isis Baião.
Contatos
Fotos
Livros
Tresloucado gesto (1983);
Doces fragmentos de loucura (1987);
Em cenas curtas (1989);
Teatro incompleto (2003);
Maria rúbia: a loura infernal (2011).
Teatro
Instituto Naque de quedas e rolamentos;
Maria manchete, navalhada e ketchup (1957);
Clube de leque (tragicomédia);
A véspesa da luta (col. Maria Lúcia Vidal);
As chupetas do senhor refém (tragicomédia musical);
Cabaré da crise (espetáculo de Café Concreto);
Casa de penhoras (tragicomédia);
As bruxas estão soltas (sátira);
Doces fragmentos da loucura s/d.
Cinema
Um drink para Tetéia (1987);
Trajetória (longa-metragem, em col. Com Anne Duquesnois);
Antonela (1987).
Conto
Tresloucado gesto (três peças transformadas em contos) (1983);
Infantil: A família invenção (1987).
Outras fontes
http://www.revistarevestres.com.br/entrevista/por-tras-das-cortinas/
Margem e Sempre: a Dramaturgia de Leilah Assunção, Maria Adelaide Amaral e Isis Baião (2006).
Última atualização: 23/07/2017
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