O inquieto, criativo e provocador, Arnaldo da Costa Albuquerque (1952-2015) é um dos grandes nomes da contracultura do Piauí e é o homenageado da semana. Pioneiro na arte dos quadrinhos foi pintor, desenhista, fotógrafo, jornalista e cineasta. Autor da revista “Humor Sangrento”, teve suas ilustrações publicadas em diversos livros e cartazes de eventos que lhe conferiram prêmios na Argentina e México. Produziu, filmou e fotografou filmes como “Adão e Eva no paraíso ao consumo”, assim como animações em super-8, destaca-se a animação “Pega Mata e Come”, premiada em diversos estados. Compôs a equipe do jornal Gamma, o primeiro mimeografado do Piauí, além de participar do Hora Fatal, Pasquim, Folha da Manhã, O Dia, dentre outros.
“…humor é uma condição de personalidade, quando a pessoa pode tá alegre, pode tá solitária. Humor é uma condição e vida, uma condição momentânea de prazer…”. Arnaldo Albuquerque
Nome Completo: Arnaldo da Costa Albuquerque
Descrição: Pintor, desenhista, fotógrafo, jornalista e cineasta
Data de Nascimento: 25/07/1952
Local de Nascimento: Teresina-PI
Data de Falecimento: 08/01/2015
Local de Falecimento: Teresina-PI
Do rascunho à arte final
Os primeiros traços de Arnaldo Albuquerque vieram ainda na infância, na década de 1950 ele entrou em contato com as revistas em quadrinhos (HQ) graças ao seu pai Venâncio Albuquerque que levava as revistas para os filhos percebeu, enquanto o pequeno Arnaldo que já era um ávido leitor, lia uma revista do Mickey com o rosto quase colado à revista, que um dos filhos carecia de óculos. O menino começou a tentar imitar os desenhos das revistas e deu certo. Algumas pessoas, principalmente a Dona Natividade, irmã de Arnaldo, perceberam o talento do jovem artista e começaram a investir na carreira do pequeno financiando os materiais de pintura, enquanto isso o jovem desenhista se desafiava cada vez mais ampliando os desenhos dos livros infantis e explorando novas técnicas. O feliz investimento deu certo e aos 17 anos de idade, Arnaldo Albuquerque ganhou o primeiro prêmio no salão Municipal de Artes Plásticas. Cineas Santos, poeta e escritor, conta que certa vez durante uma aula encontrou o jovem rabiscando a carteira e irritado por não ter a atenção do aluno tentou repreendê-lo, mas ao se aproximar encantou-se com a obra de arte que Arnaldo desenhara, percebendo imediatamente o grande talento do menino começou a publicar as obras do aluno no Jornal O Estado e no Chapada do Corisco.
A arte e o movimento underground
Apesar das críticas presentes nas suas criações, Arnaldo Albuquerque não teve grandes problemas com a Ditadura Militar, salvo um episódio no qual fora chamado para explicar uma de suas ilustrações que era uma caricatura de Alberto Silva. Explorou vários estilos artísticos indo do undergroud aos desenhos mais clássicos. Considerava contrário ao establishment, foi um crítico do próprio movimento contracultura e se usou a sua arte para expressar sua posição diante do mundo. Sua rejeição pelo mainstream permitiu mesclar elementos culturais diversos para produzir as obras inovadoras. A experiência de Arnaldo no Rio de Janeiro, em 1969, permitiu conhecer o desenho animado de Walt Disney, além de diversos filmes (de Humberto Mauro, Glauber Rocha, Ruy Guerra, Miguel Borges, Godard e Truffaut), alguns dos quais eram desconhecidos em Teresina. O acumulo e amalgama de tantos elementos culturais deu suporte para Arnaldo sedimentar um estilo bem particular nas artes plásticas, onde adotava as influências do cinema de vanguarda sem esquecer suas origens. Seu retorno à cidade natal representa grandes mudanças, pois começa a fazer charges e cartuns para o jornal O Dia, elemento ainda não utilizado pela imprensa local.
O cinema e a Fotografia
As experiências de Arnaldo Albuquerque no Rio de Janeiro ampliaram os seus horizontes, o jovem se filiou à cinemateca MAM, onde entrou em contato com muitos dos grandes nomes do cinema. Foi por lá que Arnaldo conheceu o Cine Paissandu, conheceu artistas, viu filmes experimentais de Ivan Cardoso e Rogerio Sganzerfa, conheceu o processo de montagens e começou a entender como eram criadas as HQs. Fotografou o filme “Adão e Eva do paraíso ao consumo” em 1972, posteriormente fotografa o filme “Cabeça de Cuia”. Arnaldo produziu 3 animações: “Carcará pega Mata e Come”, “Vã-pirações” e “Mergulho”. A animação “Carcará pega Mata e Come” foi o primeiro desenho animado do artista, era uma novidade em Teresina, pois até então não se tinha animações em super-8. A história mescla elementos da cultura norte-americana com os elementos regionais. Esta obra ganha uma premiação no Festival pela Embaixada Brasileira na Argentina, fora os prêmios no Maranhão, Sergipe, Acre e Espirito Santo.
“Eu compreendi que o autor de HQ é cineasta, roteirista, diretor”. Arnaldo Albuquerque
Humor Sangrento
Com personagens da cultura norte-americana colocados no pelotão de fuzilamento, Arnaldo Albuquerque inicia a primeira edição da revista humor sangrento. A criação da revista se deu após sofrer um acidente que marcaria a sua vida. Enquanto estava hospitalizado, Arnaldo acompanhava as notícias por intermédio das revistas e jornais, foi quando começou a usar os desenhos para se distrair. A revista “Humor Sangrento” mostra a versatilidade do desenhista, mas também a sua crítica ao social e aos costumes na década de 70, marcados pela ditadura militar. Segundo o próprio Arnaldo, os componentes do Pasquim e o R. Crumb e Sheldon estão entre os nomes que mais o influenciaram no mundo dos quadrinhos. A vida e obra desse grande artista serviu de inspiração para a produção do documentário “Arnaldo Albuquerque: um humor sangrento”, dirigido por Francisco Monteiro Júnior e Nícolas Barbosa, no qual temos acesso a trechos de alguns dos seus trabalhos, assim como a sua história
Por trás dos desenhos
A biblioteca pessoal de Arnaldo Albuquerque tem um acervo com inúmeras obras que vão desde os primeiros quadrinhos adquiridos na infância, até obras de temas variados. Segundo Bruno Baker, sobrinho do desenhista, o seu tio rompeu com o desenho, abandonou aquilo que era sua maior identidade e por fim se desencantou com a arte. O sobrinho é o bibliógrafo e arquivista de Arnaldo Albuquerque, atualmente preserva maior parte da biblioteca pessoal do tio e uma parte das obras, a outra parte está espalhada ou foi perdida. Bruno relembra sua infância ao lado do tio, que foi sua maior influência e empreendeu a tarefa de divulgar a história e o trabalho de Arnaldo. Graças à sua intervenção grande parte dessa herança foi resguardada. Segundo Bruno Baker, ele é nascido sob o signo do transtorno de identidade, ex-escritor, bibliófilo, politicamente incorreto. Formado em História, porém não se considera historiador. Pariu sete livros de poemas com fluxos de consciência sobre o sexo e filosofia. Todos publicados no clube de autores. No momento está desenvolvendo um romance autobiográfico satírico e cuidando do acervo Arnaldo Albuquerque.
Uma herança para a arte
Arnaldo Albuquerque foi pioneiro na arte dos quadrinhos e tinha habilidades tão variadas que pôde dialogar com artistas de diversas áreas como a literatura, como contista escreveu “A classe média vai à caça” e foi bibliófilo amador. Arnaldo viveu a contracultura como ninguém, foi um crítico do próprio movimento do qual pertenceu e sua inquietação crescente gerou grandes obras. O humor de Arnaldo Albuquerque conquistou muita gente, seus desenhos chamaram atenção deixando bem claro o seu lugar no cenário político e artístico brasileiro. Arnaldo Albuquerque foi o dos nossos mais importantes artistas, sua vida era a arte. Conviveu com outros artistas de destaque como Torquato Neto, Cineas Santos e Durvalino Couto. Seus trabalhos são a prova da sua grandiosidade. Ganhou espaço com o seu humor singular e marcou a história da arte piauiense. Enquanto muitos se calavam, Arnaldo falou com muito humor.
Fotos
Vídeos
Lista de exposições
Salão de Verão do Museu de Arte Moderna-RJ (1971);
Exposição na UMC –Teresina (1971);
II Feira do Livro da Biblioteca Central na UFPI (1974);
IV Salão de Artes Plásticas- Teresina (1979);
Udigrudi- As contravenções narrativas em Arnaldo Albuquerque (2015).
Revista
Revista Humor Sangrento (1977)
Animação
“Carcará pega mata e come” (final da dec. de 1976)
Câmera
“Adão e Eva no paraíso ao consumo”
Outras fontes
http://entrecultura.com.br/ec-tv/arnaldo-albuquerque-um-humor-sangrento/
Dissertação: NOGUEIRA, Cícero de Brito SEM PALAVRAS: HUMOR E COTIDIANO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE ARNALDO ALBUQUERQUE/ Cícero de Brito Nogueira. Teresina: UFPI, 2010, p. 304.
Clique para acessar o cp150589.pdf
_______. Risos do Carcará: A animação de Arnaldo Albuquerque, transito entre a crítica e o lúdico.
http://gthistoriacultural.com.br/VIsimposio/anais/Cicero%20de%20Brito%20Nogueira.pdf
Última atualização: 02/07/2017
Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.
Não porque era meu tio.mais a cultura Piauiense perdeu um grande artista.
Saudade de suas produções